Próximo passo, a reunificação
Pedro J.
Bondaczuk
O célebre “Muro da Vergonha”, que divide a cidade de
Berlim em dois setores, começou a ruir, ontem, com a surpreendente decisão do
governo alemão oriental de permitir aos seus cidadãos que queiram ir para o
Ocidente passarem Poe ele legalmente.
Esse foi, sem dúvida alguma,
outro gigantesco passo no rumo da democratização desse Estado, tido e havido
até aqui como dos mais fechados do Leste europeu. Pelo desenrolar dos
acontecimentos, por outro lado, já é possível de se prever que a reunificação
alemã, vista há somente alguns dias como mera fantasia, se torna algo senão
iminente, pelo menos possível, no médio prazo. E quem sabe até no curto, já que
as transformações que se verificam no bloco soviético estão ocorrendo com tal
velocidade, que mal dá para o observador, por mais atento que seja, prever qual
será o próximo lance.
O que se percebe, embora muito
sutilmente, na Europa Ocidental, no entanto, é que a possibilidade de voltar a
existir uma única Alemanha no continente ainda assusta. Afinal, foi este país,
antes de ser desmembrado, que protagonizou duas guerras mundiais neste século,
com no mínimo 65 milhões de mortes.
França, Grã-Bretanha, Bélgica,
Holanda e até mesmo Itália – aliada germânica no último conflito – mantêm uma
certa ambigüidade acerca do processo e principalmente da rapidez com que ele
acontece. Seus líderes tentam justificar isso afirmando que preferem esperar
resultados concretos para se manifestar. Mas seria só isso mesmo?
Não há dúvidas de que uma
Alemanha reunificada seria uma potência respeitabilíssima, pelo menos no campo
econômico. Mesmo mutilada, ela já é a terceira grande força na economia
internacional. Daí para a militarização, seria um simples passo.
Não acreditamos, no entanto, que
a experiência amarga das duas guerras mundiais não tenha ensinado nada aos
germânicos. Hoje, a mentalidade existente ali é muito diferente da de 1914 e
mais ainda da de 1939. O país não atravessa nenhuma crise de prosperidade,
muito pelo contrário.
Provavelmente, jamais os alemães
ocidentais gozaram de tamanha riqueza quanto agora. Portanto, não há campo para
o surgimento de um novo Hitler, por exemplo. É verdade que o neonazismo vem
crescendo, ultimamente, de eleição para eleição. Mas entendemos que tal
fenômeno não passa de um modismo passageiro e efêmero. Como ocorreu na França,
aliás, quando o partido de Jean-Marie Le Pen chegou a assustar a sociedade
francesa por algum tempo, até que fosse devolvido ao quase ostracismo pelos
eleitores.
Doravante, a questão da
reunificação alemã figurará, mesmo que não ostensivamente, na agenda de
qualquer estadista europeu, disso não temos dúvida. Se eles concordam com isso
é que é discutível.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 10
de novembro de 1989).
No comments:
Post a Comment