Wednesday, January 07, 2015

Paixão por contos policiais

Pedro J. Bondaczuk

O conto policial – cuja “paternidade” é atribuída a Edgar Alan Poe – é um dos meus gêneros literários prediletos. Talvez não seja o prioritário, superado, quem sabe, pela poesia, e talvez por ensaios, notadamente os de cunho filosófico. Todavia... não tenho certeza a respeito. Aliás, nem tenho o hábito de ficar me questionando sobre preferências, próprias e de terceiros. Gosto é de Literatura, da “boa”, naturalmente. Não estou sequer fazendo alguma revelação bombástica ou original e nem uma confissão surpreendente, nada disso. Já escrevi sobre o tema inúmeras vezes, dissecando-o, virando-o no avesso, abordando-o pelos mais variados ângulos. E, em todos esses textos, fiz a mesmíssima confissão: sou vidrado por contos policiais.

O que me surpreende é o fato de, por este motivo, ser alvo de críticas, a maioria impertinentes, de “patrulheiros ideológicos”, que não têm um único e reles texto de relevo a ostentar, mas que se esmeram em criticar tudo o que outros escrevem. Não me incomodo com os que manifestam desapreço pelo que escrevo. Estão no seu direito. Mesmo que suas críticas sejam vagas, incoerentes e injustas. Ademais, nem Jesus Cristo conseguiu agradar todo o mundo. Imaginem este “aprendiz de feiticeiro”! O que me irrita, todavia, é o fato de alguém se atrever a querer policiar meus gostos, sobretudo os literários, que não têm nada de imorais, ilegais ou antiestéticos. Mesmo que tivessem, estes meus inimigos gratuitos não teriam o direito de atacar minhas preferências. Imaginem não tendo! Que ataquem a minha obra, ora bolas!!!

Tais chatos de plantão argumentam, sobretudo, que sou “incoerente” ao apreciar contos policiais, que tratam de violência e, principalmente, da maior de todas elas: homicídios. Afirmam que é, no mínimo, ilógico alguém (no caso eu) que assume publicamente o que classificam de “moralismo hipócrita” (de alegada valorização e defesa intransigente da vida), apreciar narrativas que tratam, justamente, da sua supressão. Podem até ter certa dose de razão quando se referem à minha incoerência. Aliás, qual ser humano não é incoerente em algum de seus gostos, pensamentos e ações? Só que esses críticos (a maioria sem coragem nem mesmo de se identificar, dissimulados sob o manto cinza desbotado do anonimato) distorcem o que julgam conhecer bem, mas desconhecem.

Gosto de contos policiais não por causa dos criminosos, dos psicopatas, dos homicidas que os protagonizam, mas dos que investigam seus crimes, descobrem-nos, colhem provas onde estas parecem nem mesmo existir e prendem-nos para que sejam devidamente punidos pelos rigores das leis. Aprecio, pois, essas histórias não por causa dos que suprimem vidas, mas dos que se empenham por sua defesa e preservação. Alguns enredos (diria que a maioria) são magníficos exercícios mentais, de dedução e de lógica. Raras dessas obras são monótonas, cansativas ou incoerentes. A tentativa de descobrir os assassinos antes que o autor do livro os revele é um exercício que aprecio em particular. Estou tão bem treinado nisso, que raramente erro.

É difícil algum conto policial ruim “emplacar”. O gênero não comporta meios-termos. Ou a história narrada é bem escrita, dinâmica e original, destas cuja leitura relutamos em interromper e que desejamos chegar logo à última linha da derradeira página num só sopro, ou... o livro encalha nas prateleiras das livrarias. Ou, quando, desavisadamente, o adquirimos,  deixamos de lado logo após lermos os primeiros parágrafos e do qual procuramos nos desfazer o mais rápido possível para não ocupar lugar na prateleira de nossa biblioteca. Não sei se por coincidência ou não, o gênero é predominante em meu acervo pessoal. Dos cerca de quatro mil volumes que tenho, em torno de 60% são de contos policiais.

A seguir, em minha biblioteca, predominam, nesta ordem; livros de poesia, os clássicos, ensaios (notadamente os de cunho filosófico) e romances recém-lançados, provavelmente empatados (ou quase) em número com biografias e obras memorialísticas. Como se vê, meu acervo é eclético. Provavelmente, o predomínio de contos policiais se deva não somente ao fato de eu apreciar o gênero, mas dos principais “astros” publicarem vastas coleções envolvendo os personagens que criaram. Só de Agatha Christie, por exemplo, tenho cerca de 60 volumes. E olhem que estou longe de ter sua obra completa, já que essa criativa e pacata vovozinha escreveu, e publicou, por volta de uma centena de livros, cada um mais interessante do que o outro. De Arthur Conan Doyle tenho, creio, 70% do que foi publicado no Brasil, com as peripécias da dupla Sherlock Holmes e Doutor Watson. Tenho, ainda, várias preciosidades de Edgar Alan Poe, que não empresto nem ao meu melhor amigo.

Nunca fiz a contagem, mas creio que tenha volumes de umas três dezenas de autores do gênero, muitos deles coleções, a maioria de escritores norte-americanos. E o acervo segue aumentando. Ganhei, por exemplo, no Dia dos Pais, um livro de Jeffery Deaver, que é tão bom, que merece comentários à parte, que me proponho a fazer oportunamente. Fiquei, sobretudo, fascinado por seu personagem Lincoln Rhyme que, embora paralisado em decorrência de um acidente em que fraturou a coluna vertebral, soluciona, da cama de onde não pode sair, os crimes mais intrincados, casos insolúveis, e apenas com seu genial poder de dedução. Mas... essa é uma história que ficará para uma outra vez (certamente para desespero dos histéricos e chatérrimos patrulheiros ideológicos).


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