Paixão por contos
policiais
Pedro
J. Bondaczuk
O conto policial – cuja
“paternidade” é atribuída a Edgar Alan Poe – é um dos meus gêneros literários
prediletos. Talvez não seja o prioritário, superado, quem sabe, pela poesia, e
talvez por ensaios, notadamente os de cunho filosófico. Todavia... não tenho
certeza a respeito. Aliás, nem tenho o hábito de ficar me questionando sobre
preferências, próprias e de terceiros. Gosto é de Literatura, da “boa”,
naturalmente. Não estou sequer fazendo alguma revelação bombástica ou original
e nem uma confissão surpreendente, nada disso. Já escrevi sobre o tema inúmeras
vezes, dissecando-o, virando-o no avesso, abordando-o pelos mais variados
ângulos. E, em todos esses textos, fiz a mesmíssima confissão: sou vidrado por
contos policiais.
O que me surpreende é o
fato de, por este motivo, ser alvo de críticas, a maioria impertinentes, de
“patrulheiros ideológicos”, que não têm um único e reles texto de relevo a
ostentar, mas que se esmeram em criticar tudo o que outros escrevem. Não me
incomodo com os que manifestam desapreço pelo que escrevo. Estão no seu
direito. Mesmo que suas críticas sejam vagas, incoerentes e injustas. Ademais,
nem Jesus Cristo conseguiu agradar todo o mundo. Imaginem este “aprendiz de
feiticeiro”! O que me irrita, todavia, é o fato de alguém se atrever a querer
policiar meus gostos, sobretudo os literários, que não têm nada de imorais,
ilegais ou antiestéticos. Mesmo que tivessem, estes meus inimigos gratuitos não
teriam o direito de atacar minhas preferências. Imaginem não tendo! Que ataquem
a minha obra, ora bolas!!!
Tais chatos de plantão
argumentam, sobretudo, que sou “incoerente” ao apreciar contos policiais, que
tratam de violência e, principalmente, da maior de todas elas: homicídios.
Afirmam que é, no mínimo, ilógico alguém (no caso eu) que assume publicamente o
que classificam de “moralismo hipócrita” (de alegada valorização e defesa
intransigente da vida), apreciar narrativas que tratam, justamente, da sua
supressão. Podem até ter certa dose de razão quando se referem à minha
incoerência. Aliás, qual ser humano não é incoerente em algum de seus gostos,
pensamentos e ações? Só que esses críticos (a maioria sem coragem nem mesmo de
se identificar, dissimulados sob o manto cinza desbotado do anonimato)
distorcem o que julgam conhecer bem, mas desconhecem.
Gosto de contos
policiais não por causa dos criminosos, dos psicopatas, dos homicidas que os
protagonizam, mas dos que investigam seus crimes, descobrem-nos, colhem provas
onde estas parecem nem mesmo existir e prendem-nos para que sejam devidamente
punidos pelos rigores das leis. Aprecio, pois, essas histórias não por causa
dos que suprimem vidas, mas dos que se empenham por sua defesa e preservação.
Alguns enredos (diria que a maioria) são magníficos exercícios mentais, de
dedução e de lógica. Raras dessas obras são monótonas, cansativas ou
incoerentes. A tentativa de descobrir os assassinos antes que o autor do livro
os revele é um exercício que aprecio em particular. Estou tão bem treinado
nisso, que raramente erro.
É difícil algum conto
policial ruim “emplacar”. O gênero não comporta meios-termos. Ou a história
narrada é bem escrita, dinâmica e original, destas cuja leitura relutamos em
interromper e que desejamos chegar logo à última linha da derradeira página num
só sopro, ou... o livro encalha nas prateleiras das livrarias. Ou, quando,
desavisadamente, o adquirimos, deixamos
de lado logo após lermos os primeiros parágrafos e do qual procuramos nos
desfazer o mais rápido possível para não ocupar lugar na prateleira de nossa
biblioteca. Não sei se por coincidência ou não, o gênero é predominante em meu
acervo pessoal. Dos cerca de quatro mil volumes que tenho, em torno de 60% são
de contos policiais.
A seguir, em minha
biblioteca, predominam, nesta ordem; livros de poesia, os clássicos, ensaios
(notadamente os de cunho filosófico) e romances recém-lançados, provavelmente
empatados (ou quase) em número com biografias e obras memorialísticas. Como se
vê, meu acervo é eclético. Provavelmente, o predomínio de contos policiais se
deva não somente ao fato de eu apreciar o gênero, mas dos principais “astros”
publicarem vastas coleções envolvendo os personagens que criaram. Só de Agatha
Christie, por exemplo, tenho cerca de 60 volumes. E olhem que estou longe de
ter sua obra completa, já que essa criativa e pacata vovozinha escreveu, e
publicou, por volta de uma centena de livros, cada um mais interessante do que
o outro. De Arthur Conan Doyle tenho, creio, 70% do que foi publicado no
Brasil, com as peripécias da dupla Sherlock Holmes e Doutor Watson. Tenho,
ainda, várias preciosidades de Edgar Alan Poe, que não empresto nem ao meu
melhor amigo.
Nunca fiz a contagem,
mas creio que tenha volumes de umas três dezenas de autores do gênero, muitos
deles coleções, a maioria de escritores norte-americanos. E o acervo segue
aumentando. Ganhei, por exemplo, no Dia dos Pais, um livro de Jeffery Deaver,
que é tão bom, que merece comentários à parte, que me proponho a fazer
oportunamente. Fiquei, sobretudo, fascinado por seu personagem Lincoln Rhyme
que, embora paralisado em decorrência de um acidente em que fraturou a coluna
vertebral, soluciona, da cama de onde não pode sair, os crimes mais
intrincados, casos insolúveis, e apenas com seu genial poder de dedução. Mas...
essa é uma história que ficará para uma outra vez (certamente para desespero
dos histéricos e chatérrimos patrulheiros ideológicos).
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