Saturday, January 03, 2015

Remédio pode ser veneno


Pedro J. Bondaczuk


O presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, Isaac Benchimol, divulgou, durante a semana, uma nota que é no mínimo preocupante. Afirmou que o consumo de medicamentos no País, inclusive os de tarja negra, que só podem ser vendidos sob receita médica, aumentou em pelo menos 50% nos últimos dois anos.

A maioria dos que adquirem esses remédios o faz por conta própria ou por indicação de amigos, quando não "receitados" por balconistas de farmácias. Além de temerária, para não dizer estúpida, a automedicação põe em risco a vida dos que agem dessa maneira.

Muitos poderiam argumentar que é tão caro o serviço privado de saúde no País, e tão ruim o público, que este acaba sendo o único recurso que resta à camada mais pobre da população, que é a grande maioria. Bobagem. O mesmo medicamento que serve para curar as doenças para as quais foi desenvolvido tende a matar, ou provocar problemas sérios, aos que não deveriam fazer uso dele.

Em certos casos, automedicar-se equivale a tentar cometer suicídio por envenenamento, posto que muitas vezes de maneira lenta e, portanto, mais dolorosa e angustiante.

A nota da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro destinou-se, igualmente, aos médicos. Objetivou esclarecê-los para que se tornem mais criteriosos na hora de receitar remédios. Benchimol chamou a atenção, em especial, para os antidepressivos, como o Prozac.

As pessoas precisam perder a mania de recorrer aos "calmantes" sempre que os problemas se acumulem e se sintam angustiadas. Há maneiras muito mais agradáveis, prudentes e sobretudo saudáveis de se livrar das tensões do dia a dia. Até mesmo uma boa conversa faz melhores efeitos contra o nervosismo do que o ato de engolir pílulas e mais pílulas, em geral por conta própria.

Diz um ditado muito popular entre nós que de "médico, economista e técnico de futebol todo brasileiro tem um pouco". Pois no primeiro caso, quem se achar um entendido no organismo humano, mesmo sem ter cursado Medicina, na verdade é um estúpido. Não tem amor à vida.

Por outro lado, é necessária rigorosa fiscalização para impedir que simples balconistas "receitem" e vendam medicamentos sem a respectiva receita. Quem age assim, em vez de estar ajudando uma pessoa doente, está contribuindo para agravar o seu mal. Ou, o que é provável, para matá-la.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 15 de julho de 1994).

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