Chantagem nuclear
Pedro J.
Bondaczuk
A possibilidade de uma bomba atômica cair em mãos de
grupos terroristas, que não faz muito era considerada remota e até mesmo
impossível, está se tornando, a cada dia, mais provável. E a causa disso é
muito simples. É a proliferação de armamentos nucleares, ou da tecnologia
apropriada para a sua fabricação, em países instáveis, localizados no explosivo
e problemático Terceiro Mundo.
É certo que as potências que
possuem arsenais atômicos têm normas de segurança tão rígidas e perfeitas, que
a possibilidade de qualquer de seus engenhos de destruição em massa, de maior
porte, caírem em mãos estranhas, é, virtualmente, nenhuma.
Estados Unidos, União Soviética,
França, Grã-Bretanha e China adotaram, nessa vital questão de segurança,
condutas tão rigorosas que até mesmo as pessoas diretamente envolvidas com
essas armas nesses países sofrem
permanente e meticulosa vigilância. O risco, por esse lado, portanto, inexiste.
Mas alguém poderia, em sã
consciência, dizer o mesmo dos outros seis postulantes ao ingresso no clube
atômico (o rol dos detentores de bombas já fabricadas e estocadas, prontas para
eventual utilização), Índia, Paquistão, Líbia, África do Sul, Argentina e
Brasil?
Se o leitor observar bem, cada
uma das zonas potenciais de conflito do mundo moderno está aí representada, e
por dois países, ao invés de um único. Os especialistas acrescentam a essa
relação, ainda, Israel e Iraque. O primeiro, segundo denúncias, já teria,
inclusive, mísseis e ogivas estacionados no Deserto de Shmona, os Jericó-I e
II, apontados diretamente para o coração da Síria, segundo notícias veiculadas
há três semanas pelas agências internacionais.
O Iraque, por seu turno,
envolvido numa guerra desgastante, e que já caminha para o primeiro lustro, com
os fanáticos iranianos, teria reconstruído, com a ajuda francesa, o seu reator
Osíris, destruído por bombas israelenses em 1979. E estaria caminhando,
rapidamente, para ter a sua primeira arma atômica.
Mas o que realmente assusta, em
tudo isso, é o fato de saber que a Líbia, do ultra-radical coronel Muammar
Khadafy, está empreendendo pesquisas no campo nuclear. E não é com fins
pacíficos, longe disso. Diversas organizações internacionais, envolvidas com
problemas atômicos, alertaram para o fato dos líbios já possuírem um centro de
pesquisas próprio, nos arredores de Trípoli.
Dizem que cientistas até de certo
renome neste campo estariam trabalhando num projeto nuclear, para o país,
sabidamente o mais envolvido com o terrorismo no mundo atual. À Líbia é atribuída
a recente minagem das águas do Golfo de Suez e Mar Vermelho.
Aos seguidores de Khadafy se
credita, ainda, o apoio a grupos terroristas de extrema periculosidade, como a
Jihad Islâmica, de atuação mais marcante no Líbano, mas também agindo nas monarquias
do Golfo Pérsico e no Irã.
Quem pode dormir seguro sabendo
que a qualquer momento seu país poderá ser vítima da chantagem atômica de uma
Facção do Exército Vermelho, das Células Combatentes Comunistas, da Ação
Direta, da ETA ou, quem sabe, até mesmo de um Sendero Luminoso?
Até há alguns anos, a simples
menção dessa possibilidade era motivo de chacota por parte dos que se entendem
donos da verdade. Era algo tão remoto e implausível, que causava apenas risos
quando citado. Hoje, há motivos mais do que suficientes para que tal hipótese
seja considerada seriamente. Pelo menos os EUA já a consideram. E têm., até, um
ultra-secreto plano de emergência para tal eventualidade. A corrida
armamentista, portanto, está deixando de ser prerrogativa apenas das superpotências,
para se tornar um pesadelo de caráter universal.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 17
de maio de 1985).
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