Da
pax romana à pax nuclear
Pedro J. Bondaczuk
Pela primeira vez desde a criação do Tribunal
Internacional de Justiça de Haia, uma superpotência foi levada ao banco dos
réus por interferir, de alguma forma, nos assuntos internos de outro Estado. E
o queixoso foi um país espezinhado do Terceiro Mundo, cujos povos são tratados,
ostensivamente, como sendo de uma sub-raça, numa odiosa discriminação
manifestada, quase sempre, por insuportáveis pressões econômicas.
O réu, que acabou condenado por unanimidade, é, nada
mais, nada menos, que a potência mais poderosa do Planeta. O queixoso? É um dos
países mais pobres e atrasados, que se debate, após décadas de uma ditadura
(imposta, financiada e mantida pelos EUA), para se organizar política e
economicamente: a Nicarágua.
Perguntariam os senhores: “qual o efeito prático
dessa condenação?” Certamente, nenhum! Mas os saldos políticos serão grandes e
os pequenos países agredidos impunemente pelas superpotências (como o
Afeganistão ocupado, a Checoslováquia , idem e tanto outros) têm, agora, um
novo caminho a seguir.
A decisão do Tribunal coloca às claras aquilo que
todos já sabem de há muito, mas que poucos tinham a coragem de trazer à luz. Ou
seja, as seguidas interferências dos Estados poderosos nos assuntos internos
dos pequenos países, transformando a palavra soberania em mera ficção.
Está claríssima a bipolarização ideológica. Se
alguma sociedade, hoje em dia, consegue escapar da interferência
norte-americana, cai nas garras soviéticas, e vice-versa. Dessa maneira, os
países são usados como se fossem meras peças de xadrez, em uma mortal partida
disputada pelos EUA e pela União Soviética, em busca de uma suprema hegemonia.
Embora se negue, a grande verdade é uma só. Existem,
rigorosamente, apenas dois países independentes, de fato, em todo o Planeta. Os
demais, de uma forma ou de outra, não passam de meras colônias, de meros
vassalos, com a perpétua obrigação de render tributos a quem detém o poder. É a
pax romana em nova versão: pax nuclear!
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 11 de maio de 1984)
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