Má
qualidade da comunicação
Pedro J. Bondaczuk
A
comunicação, ao mesmo tempo em que é vital para todas as pessoas – da qual
ninguém pode prescindir, sob pena de não ser entendido e de não ter, por
conseqüência, as necessidades e desejos atendidos – também é (ou pode ser) uma
arte. Sem ela não pode haver nenhum tipo de relacionamento, quer afetivo, quer
familiar, quer social. Todos os seres vivos, absolutamente todos, de uma forma
ou de outra – ou por grunhidos, ou por urros, ou por cheiros, ou por gestos ou
de outra maneira qualquer – comunicam-se entre si. A comunicação é, pois,
pode-se dizer sem medo de errar, uma das características essenciais da vida.
O
que se questiona, não é sua existência ou não. Ela sempre existiu, existe e
existirá. Reitero: é imprescindível. Todavia, sua qualidade é que varia,
tornando-a eficiente ou não, eficaz ou ineficaz, clara ou dúbia. Quando não é
perfeita, tende a gerar males entendidos que, não raro, descambam para
conflitos, individuais ou coletivos. Atrevo-me a afirmar que boa parte das
guerras que se travaram e que se travam nos dias atuais foi causada por
deficiências na comunicação. No plano pessoal, uma infinidade de
relacionamentos (afetivas, comerciais, sociais etc.etc.etc.) foi desfeita ou
foi seriamente abalada porque alguém não comunicou corretamente o que lhe cabia
e, por conseqüência, outro alguém entendeu de forma equivocada o que tentaram
lhe comunicar.
As
artes – todas elas sem exceção – são formas de comunicação. São maneiras do
artista, utilizando linguagem própria, comunicar o que pensa, sente e como vê a
vida e o mundo que o cerca. Ninguém produz alguma obra, qualquer que ela seja,
para o próprio deleite. Elas são destinadas a terceiros, a um número máximo de
pessoas que possam alcançar. Daí ser extremamente necessário ao seu produtor
ser minimamente entendido. Caso contrário... fracassará no intento de
“comunicar” seu pensamento, sentimento ou mesmo mera opinião.O curioso é que
muitos artistas agem de forma exatamente contrária à lógica. Em nome de suposta
“originalidade”, acha que quanto mais obscura, ambígua e incompreensível for
sua obra, maior será sua qualidade artística. Ora, ora, ora. Sem
comentários! ,
O
homem contemporâneo é, sobretudo, contraditório. Entre tantas contradições que
o caracterizam, uma chama, em especial, a atenção. Este início da segunda
década do terceiro milênio da era cristã, caracterizado pela comunicação de
massas, é igualmente o período em que as pessoas mais se sentem solitárias.
Nunca o mundo teve tanta gente como agora. Afinal, são mais de 7 bilhões de
seres humanos disputando espaço de um planeta de pequeno porte, em que este é,
cada vez mais, restrito. Em época alguma houve tantas cidades gigantescas. São
cerca de cem com mais de um milhão de habitantes. No entanto, o homem está, ou pelo menos se
sente, cada vez mais só. A saudável arte
da conversação, embora encontre ainda um ou outro grupo heróico que a pratique,
está a caminho da extinção.
E
isso ocorre tanto no lar, nas famílias, onde as pessoas se refugiam, cada vez
mais, em seus mundinhos restritos (do computador, celular, tablete, televisão
etc.etc.etc.) em detrimento de boas conversas, daquelas do olho no olho, que
tendem a reforçar e consolidar laços de afeto quanto na sociedade. Vejo nisso
enorme paradoxo, imensa contradição. São os meios tecnológicos, criados
exatamente para favorecer e universalizar a comunicação, que estão afastando as
pessoas, fazendo com que se comuniquem menos e pior. O problema não está,
óbvio, na falta dela, Está, sim, na sua (má) “qualidade”. O filósofo Ivan
Illich observou, há algum tempo: "Cinqüenta anos atrás, a maior parte das
palavras que um homem ouvia eram ditas pessoalmente a ele por alguém com quem
conversava".
E
hoje, o que ocorre? Atualmente ouve-se, é verdade, conversa o dia todo e
absurdamente mais do que há meio século. Todavia, o que é ouvido é dito, cada
vez mais, à distância: pelo celular, nas redes sociais ou através dos inúmeros
outros recursos tecnológicos de comunicação, que deveriam aproximar as pessoas,
mas as distanciam. São aparelhos de rádio, receptores de televisão, sobretudo
da TV a cabo que dá acesso a até mil canais diferentes ou quase, gravadores e vai por aí afora. Tudo isso nos
enche os ouvidos e a cabeça de informações, opiniões e imprecações.
Estranhamente, todavia, não elimina a desagradável sensação de solidão. Pelo
contrário, amplia-a bastante. É como se ouvíssemos (e respondêssemos) a
fantasmas, a ETs ou a seres fictícios criados pela fértil imaginação de algum
hábil roteirista. Pessoalmente, em diálogo de qualquer espécie, as palavras
ditas (e ouvidas) são minoria e diminuem de dia para dia. Os meios de
comunicação eletrônicos ditam um enervante monólogo.
Mesmo
os que ainda reservam tempo para um papo com amigos, entre um chopinho e outro,
no fim do expediente diário ou das aulas no colégio, não conseguem mais escapar
de temas dirigidos que lhes são impostos. E estes são, invariavelmente, os
mesmos: política, inflação, futebol, maledicências sobre a vida alheia,
bravatas sobre conquistas amorosas quase nunca verdadeiramente concretizadas e
outras tantas banalidades do gênero. Tempo para tratar de assuntos relevantes,
para aprender e ensinar algo, nunca sobra. No entanto, jamais as pessoas
sentiram tanta falta de diálogos construtivos e personalizados. Ou de, pelo
menos, ouvir alguém falar sobre coisas importantes para suas vidas. Palestras,
conferências, simpósios e seminários multiplicam-se, para tratar de temas que
há apenas meio século ou menos as pessoas levantavam em conversas informais nas
varandas de suas casas, de forma amena e descontraída. Ou estou exagerando?
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