Sunday, January 11, 2015

Pobres se multiplicam


Pedro J. Bondaczuk


A quantidade de pessoas pobres na América Latina e Caribe aumentou em 20 milhões de pessoas em apenas 11 anos. Ou seja, uma média de quase dois milhões ao ano, entre 1970 e 1981. Nessa mesma projeção, no final de 1984, se for mantida essa média (e ela deve crescer muito, pois o problema do pagamento da dívida externa estourou, apenas, no setembro negro de 1982) estaremos com 136 milhões de indivíduos cuja renda é suficiente só para prover o atendimento das exigências mínimas de sobrevivência, conforme critérios da ONU.

Este estudo, feito pela FAO, que concluiu que 50 milhões de pessoas da área pesquisada (12,5% de toda a população) são desnutridas, revela um processo crescente de concentração de renda. Entre suas principais causas, podem ser destacadas a recessão e o desemprego.

A primeira realimenta o segundo item. Em períodos recessivos, as pequenas e médias empresas (as grandes geradoras de empregos) têm menores chances de sobrevivência. O espaço que elas antes ocupavam passa a ser preenchido por grandes fábricas, por exemplo, geralmente mecanizadas e que ocupam, portanto, menos mão-de-obra.

Quanto ao desemprego, é lógico que quem conserva sua ocupação sobe um degrau na escala de renda em relação a quem não teve a mesma sorte. E poucos conseguem essa façanha de se manter na posição que estavam.

A América Latina só tem um caminho para mudar esse estado de coisas: voltar a crescer. E para que isso aconteça, o atual sistema financeiro internacional precisa mudar. É, muito mais do que uma opção política, uma urgente questão de sobrevivência. 

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 11 de agosto de 1984)


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