Lua-de-mel efêmera
Pedro J. Bondaczuk
As eleições deste ano –
considerados os dois turnos – favoreceram nitidamente o PSDB, embora haja sido
o PMDB o partido que mais governos estaduais conquistou, num total de onze, a
maioria do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O
grande perdedor, ironicamente, foi o aliado dos tucanos, cuja aliança gerou
tanta polêmica, o PFL, que conseguiu eleger um único governador (aliás
governadora e a primeira na história do País), Roseana Sarney, filha do
ex-presidente José Sarney.
Claro
que isso ocorreu em seu “feudo”, no Maranhão. E, mesmo assim, a vitória veio
num enorme sufoco, por diferença mínima de votos e sob duras acusações do
perdedor, Epitácio Cafeteira. A estreita margem atesta que o sucesso deve ser
atribuído mais à família da candidata (provavelmente somente a isso) do que ao
seu partido.
O
eleitor definiu nas urnas que país deseja. Basta saber “ler” qual é esse
desejo. Por exemplo, conferiu ao PT a primeira oportunidade de administrar um
Estado, além do Distrito Federal, o que é um dado muito positivo, que vai
permitir que os petistas adquiram experiência para futuros vôos, bem mais
altos, quem sabe.
Dosou,
de forma sábia, sem privilegiar nenhuma corrente, esquerda com direita. Mas
descarregou mesmo seus votos foi no centro. O PSDB, embora não tenha conseguido
a mesma quantidade de governos estaduais que o PMDB, obteve os dos três Estados
mais populosos, cujos habitantes, somados, perfazem um total de 54 milhões
(população equivalente à da Grã-Bretanha) e que são responsáveis por mais de
60% do Produto Interno Bruto do País. Nada mau.
Além
disso, a vitória de Antonio Britto, no Rio Grande do Sul, foi um dado altamente
positivo para os tucanos, por causa da identidade de idéias entre o futuro
governador gaúcho e o presidente eleito. Ambos foram companheiros de ministério
no governo Itamar Franco.
Esse
fator vai favorecer o entendimento com uma importante ala peemedebista, que não
segue a liderança de Orestes Quércia. O mesmo ocorre em relação a Roseana. O
empenho de Fernando Henrique, nos últimos dias de sua campanha, virtualmente
garante sua aproximação com o senador José Sarney. É sabido que o ex-presidente
lidera outro importante grupo do PMDB.
A
base política para o futuro governo, portanto, em princípio bastante ampla,
fica, senão definida, pelo menos esboçada. Certamente contatos de bastidores
estão sendo realizados todos os dias para a obtenção de uma aliança que garanta
ao presidente eleito uma sólida maioria no Congresso, facilitando a aprovação
dos seus projetos e, sobretudo, as mudanças que se fazem necessárias na
Constituição, para assegurar o sucesso do Plano Real na sua nova e decisiva
fase. Mas que Fernando Henrique não se engane com essa aparência de consenso.
A
lua-de-mel da sociedade – e principalmente da classe política – com FHC deve
durar, apenas, até fins de janeiro, ou meados de fevereiro, no máximo. Sempre
foi assim. E desta vez tende a ser até pior, diante da necessidade do futuro
governante de adotar algumas medidas urgentes, drásticas e impopulares, para
impedir a volta da escalada inflacionária, com o conseqüente fim do real.
O
presidente foi guindado ao poder em função, principalmente, do plano de
estabilização. Agora, tem a obrigação de provar que estava sendo sincero quando
garantiu, nos palanques, que o programa era sério e muito mais do que mero
artifício de prestidigitador, para vencer as eleições presidenciais.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de novembro de 1994).
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