Thursday, January 29, 2015

Lua-de-mel efêmera



Pedro J. Bondaczuk


As eleições deste ano – considerados os dois turnos – favoreceram nitidamente o PSDB, embora haja sido o PMDB o partido que mais governos estaduais conquistou, num total de onze, a maioria do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

O grande perdedor, ironicamente, foi o aliado dos tucanos, cuja aliança gerou tanta polêmica, o PFL, que conseguiu eleger um único governador (aliás governadora e a primeira na história do País), Roseana Sarney, filha do ex-presidente José Sarney.

Claro que isso ocorreu em seu “feudo”, no Maranhão. E, mesmo assim, a vitória veio num enorme sufoco, por diferença mínima de votos e sob duras acusações do perdedor, Epitácio Cafeteira. A estreita margem atesta que o sucesso deve ser atribuído mais à família da candidata (provavelmente somente a isso) do que ao seu partido.

O eleitor definiu nas urnas que país deseja. Basta saber “ler” qual é esse desejo. Por exemplo, conferiu ao PT a primeira oportunidade de administrar um Estado, além do Distrito Federal, o que é um dado muito positivo, que vai permitir que os petistas adquiram experiência para futuros vôos, bem mais altos, quem sabe.

Dosou, de forma sábia, sem privilegiar nenhuma corrente, esquerda com direita. Mas descarregou mesmo seus votos foi no centro. O PSDB, embora não tenha conseguido a mesma quantidade de governos estaduais que o PMDB, obteve os dos três Estados mais populosos, cujos habitantes, somados, perfazem um total de 54 milhões (população equivalente à da Grã-Bretanha) e que são responsáveis por mais de 60% do Produto Interno Bruto do País. Nada mau.

Além disso, a vitória de Antonio Britto, no Rio Grande do Sul, foi um dado altamente positivo para os tucanos, por causa da identidade de idéias entre o futuro governador gaúcho e o presidente eleito. Ambos foram companheiros de ministério no governo Itamar Franco.

Esse fator vai favorecer o entendimento com uma importante ala peemedebista, que não segue a liderança de Orestes Quércia. O mesmo ocorre em relação a Roseana. O empenho de Fernando Henrique, nos últimos dias de sua campanha, virtualmente garante sua aproximação com o senador José Sarney. É sabido que o ex-presidente lidera outro importante grupo do PMDB.

A base política para o futuro governo, portanto, em princípio bastante ampla, fica, senão definida, pelo menos esboçada. Certamente contatos de bastidores estão sendo realizados todos os dias para a obtenção de uma aliança que garanta ao presidente eleito uma sólida maioria no Congresso, facilitando a aprovação dos seus projetos e, sobretudo, as mudanças que se fazem necessárias na Constituição, para assegurar o sucesso do Plano Real na sua nova e decisiva fase. Mas que Fernando Henrique não se engane com essa aparência de consenso.

A lua-de-mel da sociedade – e principalmente da classe política – com FHC deve durar, apenas, até fins de janeiro, ou meados de fevereiro, no máximo. Sempre foi assim. E desta vez tende a ser até pior, diante da necessidade do futuro governante de adotar algumas medidas urgentes, drásticas e impopulares, para impedir a volta da escalada inflacionária, com o conseqüente fim do real.

O presidente foi guindado ao poder em função, principalmente, do plano de estabilização. Agora, tem a obrigação de provar que estava sendo sincero quando garantiu, nos palanques, que o programa era sério e muito mais do que mero artifício de prestidigitador, para vencer as eleições presidenciais.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de novembro de 1994).


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