Europa ganha três novos
países
Pedro J. Bondaczuk
A
Europa ganha três novos países independentes, Lituânia, Letônia e Estônia, que
haviam perdido sua autonomia em conseqüência do escuso, imoral e no entanto
durável pacto Molotov-Ribbentrop, feito entre a União Soviética de Joseph
Stalin e a Alemanha de Adolf Hitler, partilhando um continente que sequer
estava conquistado.
Há,
ainda, a possibilidade do novo mapa político europeu sofrer o acréscimo de
novos Estados, notadamente a Geórgia e a Moldávia, igualmente anexadas ao
império comunista durante a Segunda Guerra Mundial; e a Croácia e Eslovênia,
desmembradas da Iugoslávia.
Há
quem preveja outras alterações ainda mais dramáticas. Objetivamente, contudo, o
separatismo deverá parar por aí, por uma série de motivos, entre os quais o
principal é a inviabilidade econômica de outras sociedades nacionais da região
que sonham com a autonomia.
Os
povos bálticos vão iniciar uma nova vida tendo pela frente problemas de imensa
magnitude. Primeiro, terão que se adaptar à nova situação de não mais
dependerem dos outros para tomar as decisões que os afetam. Precisarão desarmar
os espíritos, pacificar a população e evitar um problema típico de casos como
esse: o revanchismo.
Se
lituanos, letões e estonianos iniciarem uma "caça às bruxas" aos seus
cidadãos que foram leais à União Soviética enquanto os agora três novos países
eram meras Repúblicas do gigantesco império comunista, será um mau começo.
O
primeiro passo, fundamental e indispensável para enfrentar os desafios da
autonomia, é a coesão nacional. É a união de todas as correntes, de todas as
ideologias, de todas as forças, num único objetivo. E este, certamente, é a
construção de uma sociedade justa, ordeira, humana e próspera.
Outro
ponto a ser encarado é o da formação de lideranças. Durante os 51 anos de
sujeição, poucos líderes emergiram e os povos bálticos não podem e nem devem
incorrer no mesmo erro dos africanos da era pós-colonial. Os mentores da
independência da África transformaram-se, em pouquíssimo tempo, de heróis da
nacionalidade em perversos caudilhos.
O
poder corrompe, principalmente quando é absoluto. É indispensável que os novos
Estados surjam com instituições sólidas e sempre sob o amparo das leis. As
urnas, em eleições freqüentes, livres e soberanas, precisam ser os grandes
juizes da vontade popular e jamais conchavos de gabinete e compadrismos
políticos, uma tentação da qual poucos países conseguem escapar, devem ser
sequer tolerados.
O
fundamental, sobretudo, é um bom relacionamento com a URSS. Que ninguém se
equivoque sobre o que está ocorrendo na União Soviética, achando que ela irá se
desagregar e perder todo seu peso político e sobretudo militar na Europa e no
mundo.
Quem
raciocinar dessa maneira estará demonstrando sequer conhecer geografia. Basta
alguém pegar qualquer mapa e verificará, facilmente, que, sob qualquer prisma
--- inclusive o econômico, desde que haja uma administração sensata --- a
Rússia sozinha é e sempre será potência.
O
sociólogo e historiador francês, Emmanuel Todd, alertou: "As pessoas
enterram a Rússia como se enterra o comunismo. Mas se o comunismo é uma
ideologia, um modo de organização econômica que está falindo, a Rússia continua
sendo um grande país. Se contarmos o coração eslavo, da URSS --- Rússia,
Ucrânia e Bielorrússia --- teremos um total de 210 milhões de habitantes. Não
se pode, portanto, conceber a política mundial e européia como se o peso russo
não existisse mais".
Aliás,
os bálticos terão que resolver uma série de pendências com Moscou, agora que
são independentes. São questões que vão desde os arsenais nucleares soviéticos
à delimitação de fronteiras. Claro que com "duas pedras nas mãos",
tais casos não serão resolvidos sem conflitos.
Será
necessária boa vontade de ambas as partes e possivelmente um arbitramento
internacional, provavelmente das Nações Unidas. Para o mundo, a independência
da Lituânia, Letônia e Estônia foi um fato positivo. Acabou com uma situação de
ilegalidade, que perdurou por meio século.
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 4 de setembro de
1991).
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