Características da
ficção científica
Pedro
J. Bondaczuk
A ficção científica é
um gênero literário – ou subgênero, como queiram, podendo apresentar-se nas
formas de conto, novela ou romance – ainda pouco compreendido, em torno do qual
persistem inúmeros equívocos. Até não faz muito, sequer era considerada Literatura,
o que, para mim, era o suprassumo da tolice,
cercada que estava (e de certa maneira ainda está), sobretudo, de
preconceito. Ora, ora, ora. Quem está habilitado a fazer esse tipo de
definição? Quem discrimina o gênero, entre outras razões, desconhece suas
características. Muitos romances, contos e novelas são, tecnicamente, ficção
científica, embora críticos e leitores não se dêem conta disso. Querem
exemplos? Lá vão.
O romance gótico de
Mary Wollstonecraft Shelley, “Frankenstein” enquadra-se a caráter no gênero,
embora nunca tenha visto alguém classificá-lo como tal. Está no mesmo caso o
clássico de Robert Louis Stevenson, “O médico e o monstro”. Recuemos no tempo,
ao século XVIII. As viagens espaciais, imaginadas por Voltaire, no
“Micromegas”, história esta datada de 1752, é, sim, ficção científica, e da
boa, embora a maioria dos estudiosos de Literatura estabeleça como marco de sua
criação o século XIX, com a obra de Júlio Verne. Óbvio que, em nome da
exatidão, isso tem que ser revisto. E o que dizer de “As viagens de Gulliver”,
de Jonathan Swift, publicado em 1726?
Afinal de contas, o que
caracteriza determinada história como sendo ficção científica, não importa
quando tenha sido escrita? Em nome da exatidão e da clareza, recorro, de novo,
à enciclopédia eletrônica Wikipédia, que sempre me utilizo quando quero ser
didático. A referida fonte explicita: “Este tipo de literatura pode consistir
numa cuidadosa e bem informada extrapolação sobre fatos e princípios
científicos. Ou abranger áreas profundamente rebuscadas que os contrariem
definitivamente. Em qualquer dos casos, o ser plausível baseado na ciência é
requisito indispensável”. Por esse critério, o “Frankenstein”, de Mary Shelley,
é ficção científica. Embora não seja provável a criação de um ser vivo,
“construído” com pedaços de cadáver, é minimamente possível. Se alguém, vai
fazer ou não isso, pouco importa. Já “Drácula”, de Bram Stocker, não é ficção
científica. É puríssima fantasia e nada mais.
Em complemento à
definição do gênero, volto a recorrer à Wikipédia: “Ficção científica é uma
forma de ficção (...) que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto
verdadeira quanto imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. O termo é
usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua
o fator ciência como componente essencial. E, num sentido ainda mais geral,
para referenciar qualquer tipo de fantasia literária. Em inglês o termo ficção
científica é às vezes abreviado para sci-fi ou SF. Em português, é abreviado para
FC”.
Ficou claro? Espero que
sim. Admito que não fui muito criterioso, ou organizado, ao iniciar esta série
sobre alguns dos principais escritores do gênero. Antes de comentar o que
escreveram, deveria definir porque seus romances e contos são “rotulados” como
ficção científica. Claro que tudo isso é muito teórico e só tem importância
para os que estudam os fundamentos da Literatura. Para o leitor comum, o que
conta é se determinada história é bem escrita ou não, sem levar em consideração
qualquer definição teórica dela. Não vejo, todavia, mal algum em tratar do
assunto. Muito pelo contrário. Mas daí a dizerem que ficção científica não é
Literatura, para mim é um disparate sem tamanho. O gênero começou a se
popularizar – sob influência, principalmente, dos quadrinhos, do rádio, da
televisão e do cinema – a partir do final da Segunda Guerra Mundial. E a
tendência é de uma popularização ainda mais ampla com o advento da internet.
Enfatizo e reitero que
ficção científica não se restringe, apenas, a viagens espaciais. Nem só a seres
alienígenas, a guerras intergalácticas e outros quetais, que raiam ao delírio,
tão fantasiosos nos soam ou nos pareçam. Seu campo é muito mais amplo e
verossímil (embora a verossimilhança, em muitos casos, não seja tão evidente) do
que apenas isso. Esse tipo de histórias (o das aventuras espaciais e dos ETs),
confesso, não é propriamente do meu agrado, embora não generalize.
Aliás, Wikipédia lembra
que há muitos tipos de ficção científica. E identifica os dois principais:
“(...) a soft, como por exemplo as séries televisivas ‘Star Trek’ (‘Jornada nas
Estrelas’), ‘Battlestar Galactica’ e ‘Doctor Who’, e também a ficção científica
hard, como por exemplo os filmes ‘2001, Uma Odisséia no Espaço’, ‘Blade Runner’
e ‘Solaris’. Há também alguns filmes que se utilizam de temas recorrentes na
ficção científica embora tenham mais características do gênero fantasia, como
por exemplo a série de filmes ‘Star Wars’”.
É preciso ter em mente
que a Ciência comporta inúmeras disciplinas que não somente a Química, a
Física, a Biologia, a Astronomia etc. Incluem-se, também, nessa classificação,
por exemplo, a Sociologia, a Política, a Economia, a Etologia (estudo do
comportamento), a Antropologia e vai por aí afora. É isso que precisamos ter em
mente ao classificarmos determinada história como sendo ficção científica.
Voltarei, certamente, ao tema.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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