Gênio da Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
O nome de Isaac Asimov
invariavelmente vem à baila, sempre que se trata da abordagem de autores de
ficção científica. Pudera! O tanto de obras que ele nos legou, quer em
quantidade (absurdamente alta), quer (e principalmente) em qualidade, é
assombroso. Não sei se alguém, em qualquer tempo, se igualou a ele,
principalmente no que se refere à produção de histórias de qualquer natureza.
Só pode ser caracterizado de uma forma: gênio. Acham que exagero? Acompanhem
meu raciocínio. Para que o leitor tenha uma idéia a propósito dessa figura,
informo que esse descendente de judeus, nascido na cidade de Petrovich, da
atual Bielorrússia – mas naturalizado norte-americano – colocou, como objetivo
(mais do que isso, como desafio) pessoal, escrever 500 livros. “Muita pretensão!”,
poderá pensar o leitor mais cético. Nem tanto!
Asimov atingiu e não
atingiu essa meta, dependendo do ponto de vista de quem a avalie. Mas como?!
Bem, oficialmente, escreveu (e publicou) 463 livros. Todavia, se considerarmos
os que foram publicados em caráter póstumo, após sua morte, reunindo contos e
novelas inéditos, sua bibliografia, na verdade, ascende a incríveis 509
publicações! Vá gostar de escrever assim lá no....!!! Deixa pra lá! Quanto à
qualidade, esta é inquestionável. Basta informar que, ao lado de Arthur C.
Clarcke e Robert A. Heinlein, ele é considerado um dos três inquestionáveis
mestres da ficção científica. E isso no aspecto qualitativo. Quanto à
quantidade de livros escritos, seus dois companheiros de gênero estão anos-luz
de distância da sua produção.
Já escrevi em pelo
menos três oportunidades sobre Isaac Asimov, em diferentes contextos. Parece
muito, não é verdade? Pois é quantidade ínfima se considerarmos sua importância
literária. Se a consideração for a de sua personalidade, certamente daria para
escrever o equivalente a uma biblioteca inteira de bom porte e faltariam ainda
aspectos a abordar. Imaginem se eu pudesse ter o privilégio de ler todos seus
509 livros e escrever um reles comentário sobre cada um deles, como faço com
tantos escritores (já abordei cerca de 300 deles)! Passaria anos escrevendo e
não chegaria sequer próximo de esgotar o assunto. Fosse mais jovem (e teimoso
como sou), é bem capaz que eu tentasse enfrentar tamanho desafio. Mas...
Infelizmente, só consegui adquirir (e ler) cinco livros de Asimov. Que pena!!!
Bem, tentando ser pelo
menos um tantinho objetivo ao tratar desse gênio das letras (e que
qualificativo, se não este, se pode dar a quem escreveu tanto e tão bem?!)
informo que não escreveu livros apenas de ficção e, sobretudo, a científica. Um
detalhe que muitos esquecem (e que a maioria desconhece), é que nosso
personagem de hoje foi brilhante cientista, respeitado bioquímico e, se não me
falha a memória, chegou a ser cogitado, até, ao Prêmio Nobel. Como boa parte
dos autores desse gênero, ainda mal compreendido pelos amantes de Literatura,
Asimov também foi uma espécie de “profeta”. Fez previsões sobre o futuro que,
ou já se confirmaram, ou estão em vias de confirmação.
Leio na Wikipédia que,
em 1964, ele aceitou uma proposta do jornal “The New York Times” e fez uma
série de projeções de como acreditava que o mundo seria cinquenta anos depois
(ou seja, neste 2014). Previu, por exemplo, a presença de fornos de microondas
em nossas cozinhas. Imaginou o desenvolvimento das fibras óticas. Anteviu as
televisões de tela plana. Apostou que em meio século, seriam desenvolvidos
microchips e haveria uma rede mundial de computadores (ou seja, antecipou a
criação da internet). Foi ao extremo de prever comportamentos das pessoas nesta
segunda década do século XXI, como os tantos e tantos casos de depressão que,
infelizmente, vem se tornando cada vez mais comuns. E tudo isso existe e está
aí ao nosso dispor, para qualquer um ver e utilizar.
É verdade que não
acertou todas suas previsões. Uma, das que errou, foi a de que neste 2014,
teríamos, em nossas cidades, carros voadores, tornando obsoletas ruas e
avenidas, cada vez mais confusas e congestionadas. Não temos nada sequer
parecido com isso. Exagerou, portanto, na sua confiança na iniciativa inovadora
dos nossos inventores. Também projetou (e errou) que haveria usinas nucleares
de fusão a frio. Porém... Uma de suas previsões, tidas como “impossíveis” na
época, pode estar a caminho de se concretizar. Essa ele fez em seu livro
“Escolha a catástrofe” (que comentei extensamente neste espaço) e não ao “The
New York Times”. Trata-se de uma “Biblioteca Global”, possível de ser acessada
por qualquer um, de qualquer lugar, sem precisar sair de casa.
Asimov escreveu a esse
propósito: “Haverá uma tendência
para centralizar informações, de modo que uma requisição de determinados itens
pode usufruir dos recursos de todas as bibliotecas de uma região, ou de uma
nação e, quem sabe, do mundo. Finalmente, haverá o equivalente de uma Biblioteca
Computadorizada Global, na qual todo o conhecimento da humanidade será
armazenado e de onde qualquer item desse total poderá ser retirado por
requisição.
…Certamente, cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho
fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada
pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia
então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento
ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se
ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e,
possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria, simultaneamente,
um professor e um aprendiz”.
Responda, caro leitor, essa previsão de Asimov não lembra,
posto que (ainda) remotamente, o “Google”? Entendo que sim. Minha intuição me
diz que no futuro, e não tão remoto assim, esse serviço, hoje já
imprescindível, de busca, vai caracterizar autêntica “Biblioteca Global”. Bem,
para resumir, sempre que pensamos em robôs, somos induzidos a associá-los a
esse prolífico cientista-escritor (ou escritor-cientista, como queiram). Quando
esta tecnologia nos era mera fantasia ou, quando muito, distante realidade,
Asimov já imaginava um mundo com essas máquinas que hoje fazem parte, cada vez
mais, do nosso cotidiano. Uma de suas criações a propósito é a tão conhecida
"Três leis da robótica", que permitiriam a convivência dos robôs
conosco. Estes princípios são os seguintes:
1º – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação,
permitir que um ser humano sofra algum mal.
2º - Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por
seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
3º - Um robô deve proteger sua própria existência, desde que
tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Leis.
Mais tarde, no livro
“Os Robôs do Amanhecer”, o robô Daneel viria a instituir uma quarta lei:
a 'Lei Zero'. E esta diz: “Um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por
inação, permitir que ela sofra algum mal”. Como qualificar Isaac Asimov se não
de “gênio”, na mais estrita acepção desse conceito?!!!
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