Aprendizado
e compreensão
Pedro J. Bondaczuk
Aprender e compreender são
conceitos bem diferentes, embora possamos achar que sejam a mesma coisa. O
aprendizado e a compreensão nem sempre (ou quase nunca) andam juntos, de mãos
dadas, posto que haja (creio que a maioria) quem os considere sinônimos.
Evidentemente, não são. Tentarei explicar por que. Podemos, por exemplo,
aprender a operar determinada máquina (um computador, para citar a mais comum),
sem que compreendamos, sequer minimamente, a razão do seu funcionamento, ou
seja, seu hardware e seu software. O mesmo ocorre em relação a inúmeros outros
processos, trabalhos, mecanismos e conceitos, nas mais variadas atividades e na
própria vida.
Aliás, aprendemos muita coisa (na
maioria dos casos, sem a devida compreensão) que jamais utilizamos ou
utilizaremos praticamente no curso de nossas vidas. Sequer me refiro áqueles
conhecimentos “enciclopédicos”, como nomes e descrições de bichos exóticos, ou
de lugares para onde nunca fomos e jamais iremos, etc.etc.etc. que nada de
prático nos acrescentam. Essas coisas, pelo menos, utilizamos, vez ou outra,
para exibir um quê de “cultura” aos basbaques e, não raro, a parentes e amigos.
É puro exibicionismo intelectual, ou de memória, como queiram, que não nos traz
nenhuma espécie de vantagem, mas que é sumamente comum. Atire a primeira pedra
quem nunca agiu dessa maneira, algum dia, Há, é certo, quem faça disso prática
costumeira. Não raro, em vez da admiração que pretendem, o que conseguem é só
espantar as pessoas do seu redor e serem conhecidos como “chatos”, de cuja
presença é melhor se afastar. Da minha parte, quero distância de gente assim.
Quantos não são os conceitos de
matemática, por exemplo – que
aprendemos, não raro, “a fórceps”, para não repetir de ano – que não utilizamos
jamais, em momento algum e em nenhuma circunstância?! São muitos, muitíssimos!
Aliás, diria que são raros esses complexos processos que têm, algum dia, a
mínima utilidade prática para nós. Ou estou exagerando? Quantas vezes, paciente
leitor, você já utilizou (a menos que seja engenheiro ou coisa que o valha) uma
equação de segundo grau, para citar um desses conceitos? Ou quantas vezes
precisou extrair uma raíz quadrada para solucionar algum problema prático e
urgente, seu ou de sua família, ou mesmo da empresa em que trabalha? Já nem me
refiro à raiz cúbica.
Da minha parte eu nunca, mas
nunca mesmo precisei recorrer a esses conhecimentos para sair de alguma
enrascada. E olhem que nunca tive dificuldades com a matemática. Muito pelo
contrário, sempre gostei (e ainda gosto) dessa matéria. Aliás, durante certo
tempo, fiz dela um hobby. Nas raras vezes em que tive tempo livre, sem nada
para preenchê-lo, recorri a um passatempo (estranhíssimo para os amigos) que
era o de resolver questões de álgebra, de geometria e de trigonometria, entre
outras. Mas de necessidade prática, de fato... nada! Dos conceitos matemáticos
que aprendi, utilizei, quando muito, além das trivialíssimas quatro operações,
cálculos de porcentagem. Mesmo a fórmulas para calcular juros, que poderia vir
a precisar, jamais recorri a elas. Sempre deixei essa tarefa para terceiros, ou
seja, para meus credores para decidirem o quanto me iriam cobrar por prestações
em transações que realizamos ou para um ou outro contador. É preguiça de
pensar? Não! Prefiro chamar de “senso prático”.
Vivemos, pois, aprendendo,
aprendendo e aprendendo, diariamente, do berço à tumba, mas, na maioria das
vezes, sem compreender significados e necessidades. E, pior, aprendendo o que
para nós não terá nenhuma utilidade. É verdade que saber não ocupa lugar. Não
estou, portanto, condenando esse aprendizado de conceitos que não terão nenhuma
serventia prática em nossas vidas, mas que expandirão a capacidade de retenção
do nosso cérebro. Estou, apenas, constatando uma realidade a que raras,
raríssimas pessoas atentam. Referi-me à matemática aleatoriamente, por acaso.
Há outras tantas e tantas e tantas matérias e coisas que aprendemos sem que
tenham utilidade prática alguma para nós. E que, sobretudo, nem mesmo
conseguimos compreender na sua essência.
Há conceitos cuja compreensão
adquirimos muitos anos depois de os aprendermos. Ainda bem. Antes tarde, do que
nunca. Querem um exemplo? Lá vai um. Caso sejamos bem-educados, por termos
nascido em lares sadios e bem-estruturados, em que reinem o amor e a
cooperação, ensinam-nos, em tenra idade ainda, que devemos ser corteses,
amáveis, justos e respeitadores intransigentes dos direitos alheios. Aprendemos
tudo isso mesmo sem compreender a razão. A compreensão do por que isso é
preciso, nos relacionamentos, porém – quer familiares, quer sociais, quer
profissionais – só vamos conseguir (e isso quando conseguimos) muitos anos
depois. Alguns, por um motivo ou outro, jamais compreendem. E, claro, se dão
mal.
É possível (quem sabe, seja
provável) que estas considerações não tenham a mínima utilidade para você,
paciente leitor. Se for o caso, esqueçam-nas. Todavia, se elas atingiram um
nível mínimo de compreensão, se o fizeram refletir sobre seu comportamento,
convenhamos, terão valido a pena. Afinal, como afirmou Fernando Pessoa, em um
de seus tantos textos que, de tanto ser citado, já se transformou num clichê:
“tudo vale a pena se a alma não é pequena”. E acredito que a sua seja enorme,
imensa e ilimitada.
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