Tarifas públicas
Pedro J. Bondaczuk
O governo, seguidamente, tem
vindo a público para acusar comerciantes e industriais “gananciosos”
como os responsáveis pela elevada inflação que, caso venha a se
manter no presente patamar, ameaça acumular 5.600% no corrente ano.
Ocorre que os preços
públicos, em 1993, deram uma contribuição decisiva para que as
taxas seguissem crescendo, em especial a partir de março. Até a
própria equipe econômica admite, implicitamente, que a desenfreada
corrida das tarifas foi uma das causas da aceleração inflacionária.
Tanto é que o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso,
anunciou que em 1994 porá um pé no freio nesses reajustes.
Em 1993, os preços públicos
bateram, com folga, a inflação recorde de 2.567%, medida pelo
Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio
Vargas. A tarifa que subiu menos foi a dos combustíveis (gasolina,
2.832% e álcool, 2.851%). As postais foram reajustadas em 3.109%
(selos) e 3.488% (postagem de volumes), as telefônicas tiveram um
aumento de 3.063% (assinaturas e pulsos) e até 3.400% (linhas) e vai
por aí afora.
Como são os casos do botijão
de gás, que emplacou 3.096%, e o da energia elétrica, 3.046%. O
assalariado pagou essa orgia duplamente: na qualidade de usuário
desses serviços e enquanto consumidor, já que esses itens compõem
a planilha de custos de qualquer mercadoria.
E o que falar dos impostos? O
governo acha que eles são baixos, tanto que está aumentando a carga
tributária. O Jornal da Tarde, em sua edição de
segunda-feira, publicou matéria mostrando o peso dos tributos no
preço final de diversos produtos. Em alguns casos, eles representam
mais da metade do que o consumidor paga nas lojas e nos supermercados
para a sua aquisição, como cimento (57,7%), aparelho de som
(53,8%), liquidificador (54,6%) e molho de tomate (51,3%), apenas
para citar alguns.
Quando o cidadão adquire um
vestuário, 47,7% do que desembolsa, em média, representam impostos.
Daí ser urgente, urgentíssimo, o ajuste fiscal, que reduza essa
monumental carga tributária que pesa sobre o brasileiro. E que os
preços públicos, de fato, limitem-se a acompanhar a inflação.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de janeiro de 1994)
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