Sunday, July 09, 2017

Repique inflacionário


Pedro J. Bondaczuk


A entressafra da carne e os efeitos da prolongada estiagem que atinge o Sul e o Sudeste do País, exercem pressões sobre os preços de alguns produtos, principalmente carne bovina e feijão, provocando alta na cesta básica. Aliada a este fato, persiste, ainda, a falsa esperteza de alguns agentes econômicos que, sem nenhuma razão lógica, resolveram cobrar a mais por suas mercadorias, indiferentes às conseqüências que essa atitude pode vir a ter. Principalmente para eles mesmos.

Embora cerca de 80% dos brasileiros acreditem no sucesso do Plano Real, e entendam que esse programa de ajuste é mais do que mero instrumento para eleger o seu autor, há quem ache que, encerradas as eleições, contam com "sinal verde" para a volta da orgia altista.

Estes podem, de fato, obter sucesso e fazer a inflação voltar a disparar. Mas o mais provável é que acabem se dando mal e fiquem com seus produtos encalhados, por falta de compradores. O País está mudando (para melhor) à revelia dos políticos e de maus cidadãos, e muitos ainda não se deram conta disso.

O ligeiro reaquecimento das vendas iludiu alguns, que não se deram o trabalho de analisar com atenção o atual momento. A procura, ligeiramente maior, por produtos e serviços, no mês passado, deveu-se, basicamente, a uma demanda reprimida, depois de anos de duríssima recessão. Não tem fôlego para se sustentar nem mesmo até o Natal, já que não houve aumento do poder aquisitivo da população.

Infelizmente, ainda há ingênuos que se deixam enganar, mesmo que o mau negócio que realizam seja absolutamente patente. Não valorizam seu dinheiro, ganho de forma bastante suada. Aceitam, por exemplo, pagar ágio, no caso dos carros populares, assumindo um papel de tolos, em geral por mera questão de status. Ou pagam preços superdimensionados por alguns produtos apenas por não quererem andar um pouco mais, pesquisar, pechinchar e fazer seu salário render.

A lógica diz que somente há malandros por causa da existência dos estúpidos que se deixam levar pela malandragem. Não se pode sair por aí gastando a rodo, até porque, reiteramos, o poder aquisitivo permanece estagnado. O ligeiro alívio no orçamento, que muitos sentiram, se deveu, exclusivamente, à queda nas taxas de inflação.

Se esta voltar a subir, vai tudo de novo por água abaixo. Quando se defende o Plano Real, diga-se de passagem, não significa apoio automático ao político fulano, em detrimento de beltrano. A vida não é um jogo de mero perde e ganha, ou deste contra aquele.

O que estamos defendendo, quando "remamos" todos numa mesma direção, é o nosso próprio interesse. É a valorização do nosso trabalho. É a convivência civilizada. É uma existência com dignidade. É o progresso do País.

Por isso, não há porque se dar razão aos derrotistas, aos arautos do caos, aos irresponsáveis defensores do "quanto pior, melhor" e deixar malograr mais uma tentativa de ordenar a economia brasileira. O fim das eleições será o marco de chegada, o começo do fim do Plano Real, apenas se permitirmos. Até porque, a inflação não é um vírus, uma bactéria, uma peste que ataque algum país à revelia de seu povo, sem que se possa fazer nada para evitar. É fruto, isto sim, da ação humana. E esta pode ser direcionada para onde a gente quiser.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de outubro de 1994).

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