Repique inflacionário
Pedro J. Bondaczuk
A entressafra da carne e os
efeitos da prolongada estiagem que atinge o Sul e o Sudeste do País,
exercem pressões sobre os preços de alguns produtos, principalmente
carne bovina e feijão, provocando alta na cesta básica. Aliada a
este fato, persiste, ainda, a falsa esperteza de alguns agentes
econômicos que, sem nenhuma razão lógica, resolveram cobrar a mais
por suas mercadorias, indiferentes às conseqüências que essa
atitude pode vir a ter. Principalmente para eles mesmos.
Embora cerca de 80% dos
brasileiros acreditem no sucesso do Plano Real, e entendam que esse
programa de ajuste é mais do que mero instrumento para eleger o seu
autor, há quem ache que, encerradas as eleições, contam com "sinal
verde" para a volta da orgia altista.
Estes podem, de fato, obter
sucesso e fazer a inflação voltar a disparar. Mas o mais provável
é que acabem se dando mal e fiquem com seus produtos encalhados, por
falta de compradores. O País está mudando (para melhor) à revelia
dos políticos e de maus cidadãos, e muitos ainda não se deram
conta disso.
O ligeiro reaquecimento das
vendas iludiu alguns, que não se deram o trabalho de analisar com
atenção o atual momento. A procura, ligeiramente maior, por
produtos e serviços, no mês passado, deveu-se, basicamente, a uma
demanda reprimida, depois de anos de duríssima recessão. Não tem
fôlego para se sustentar nem mesmo até o Natal, já que não houve
aumento do poder aquisitivo da população.
Infelizmente, ainda há
ingênuos que se deixam enganar, mesmo que o mau negócio que
realizam seja absolutamente patente. Não valorizam seu dinheiro,
ganho de forma bastante suada. Aceitam, por exemplo, pagar ágio, no
caso dos carros populares, assumindo um papel de tolos, em geral por
mera questão de status. Ou pagam preços superdimensionados por
alguns produtos apenas por não quererem andar um pouco mais,
pesquisar, pechinchar e fazer seu salário render.
A lógica diz que somente há
malandros por causa da existência dos estúpidos que se deixam levar
pela malandragem. Não se pode sair por aí gastando a rodo, até
porque, reiteramos, o poder aquisitivo permanece estagnado. O ligeiro
alívio no orçamento, que muitos sentiram, se deveu, exclusivamente,
à queda nas taxas de inflação.
Se esta voltar a subir, vai
tudo de novo por água abaixo. Quando se defende o Plano Real,
diga-se de passagem, não significa apoio automático ao político
fulano, em detrimento de beltrano. A vida não é um jogo de mero
perde e ganha, ou deste contra aquele.
O que estamos defendendo,
quando "remamos" todos numa mesma direção, é o nosso
próprio interesse. É a valorização do nosso trabalho. É a
convivência civilizada. É uma existência com dignidade. É o
progresso do País.
Por isso, não há porque se
dar razão aos derrotistas, aos arautos do caos, aos irresponsáveis
defensores do "quanto pior, melhor" e deixar malograr mais
uma tentativa de ordenar a economia brasileira. O fim das eleições
será o marco de chegada, o começo do fim do Plano Real, apenas se
permitirmos. Até porque, a inflação não é um vírus, uma
bactéria, uma peste que ataque algum país à revelia de seu povo,
sem que se possa fazer nada para evitar. É fruto, isto sim, da ação
humana. E esta pode ser direcionada para onde a gente quiser.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de outubro de 1994).
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