Questão de anuência
Pedro J. Bondaczuk
O
respeito pelas opiniões alheias, notadamente quando conflitam com as
nossas, é sintoma de cortesia, de civilidade e, principalmente, de
maturidade. Claro que não recomendo a ninguém que apoie todas as
coisas que os outros disserem, sem análise ou senso crítico. E
muito menos que concorde com alguém apenas da boca para fora, se
intimamente estiver convicto que ele esteja equivocado. Isso é ou
hipocrisia, ou covardia, ambas, evidentemente, reprováveis.
A
oposição é válida e sadia em toda e qualquer circunstância.
“Oxigena” as ideias e promove o progresso. Nesse aspecto, é
oportuníssimo lembrar o clichê que indaga, posto que em tom de
resposta (implícita na indagação): “o que seria do verde se
todos gostassem ‘só’ do amarelo?”. Gostos e opiniões,
frise-se, muitas vezes se misturam e se confundem e variam
intensamente.
Há
alguns assuntos em que raramente há consenso, como política,
religião, futebol e mulher (a menos que troquemos impressões com
quem pensa como nós e, ainda assim, sempre haverá diferenças).
Se
minha formação ideológica for de esquerda, por exemplo,
dificilmente minha visão de sociedade será igual à de um
direitista renitente, ou de alguém do centro. Se eu for
pontepretano, rarissimamente minha análise de um dérbi será, mesmo
que levemente, parecida com a de um bugrino. Se professar a fé
católica, todos que não comunguem da minha crença me parecerão
heréticos, condenados liminarmente à danação eterna do inferno. E
quanto às mulheres... Se todos os gostos e opiniões fossem iguais,
coitadas das feias! Nunca teriam chance de casar! Bem, mas esta já é
uma outra história.
Todavia,
a contestação a uma opinião alheia, que seja (óbvio) contrária à
nossa, deve ser feita, sempre – embora com firmeza e segurança –
de maneira respeitosa e cavalheiresca. É óbvio que não é o que
usualmente acontece. Não raro, ocorrem brigas selvagens apenas
porque os briguentos não concordam em questões de somenos
importância. E, quanto mais tolo e trivial for o assunto, mais
ásperas tendem a ser as rixas e contendas.
No
que diz respeito às religiões, por exemplo, rios, mares, oceanos de
sangue já correram só porque adeptos de determinadas crenças
quiseram impor, a ferro e fogo, suas convicções pessoais.
Esqueceram-se de tudo e, principalmente, do mandamento dos
mandamentos, ou seja, do “ame ao próximo como a si mesmo”.
Violaram,
também, um dos preceitos fundamentais, não apenas das suas
respectivas denominações religiosas, mas de toda a civilização: o
do “não matarás!” Mas matam. E por que? Tudo porque alguém não
creu no que acreditavam, ou pelo menos não da mesma forma que eles,
como se isso lhes importasse (claro que não importa, que cada qual
cuide da própria vida).
Notem
que aqui me refiro a “opiniões” e não a informações e muito
menos a conceitos sobejamente comprovados, inclusive cientificamente.
Com estes, quem não concorda, não é meramente opositor, ou
contestador, ou rebelde com causa. É rematado tolo, tremendo
imbecil, imenso idiota. Por isso, está permanentemente exposto ao
ridículo, quando não ao escárnio dos que se julgam oniscientes (e
há multidões deles!).
Há
uma classe de profissionais do jornalismo (editorialistas,
comentaristas políticos, críticos de arte etc.), ou seja, a dos que
são genericamente denominados de “formadores de opinião”, que
precisa se conscientizar das suas limitações.
Muitos
assumem posturas pedantes, ares dogmáticos e buscam impor, com
palavras candentes, suas convicções. Quando contestados, ficam
cheios de melindres, mostram-se mortalmente ofendidos e, não raro,
partem para destemperos verbais (quando não para desforços
físicos).
Julgam-se
onisciente, incontestáveis, “donos” da verdade. Esquecem-se de
que o que transmitem são “opiniões pessoais” (mesmo que
fundamentadas), e não comprovações científicas. Por isso, estão
sujeitos a serem contestados, desmentidos e, às vezes, até
desmascarados. E quem não aceita, cortês e civilizadamente, nenhuma
contestação, não está pronto para “fazer cabeças”. Afinal,
sequer tem a própria feita.
O
filósofo e cientista político inglês do século XVI, Thomas
Hobbes, constatou, em um ensaio: “Aqueles que concordam com uma
opinião chamam-lhe opinião; mas os que discordam chamam-lhe
heresia”.. E assim caminha a humanidade... infelizmente…
Acompanhem-me pelo twitter: @bondaczuk
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