Monday, July 24, 2017

Atitude irresponsável


Pedro J. Bondaczuk


O atual Congresso, em sua maioria --- felizmente há exceções --- consegue irritar a sociedade, os militares, a imprensa e os próprios parlamentares sérios, que querem mostrar serviço, com suas mazelas, trapalhadas e omissões. A mais recente "façanha" da Câmara Federal foi a derrubada do veto do presidente Itamar Franco ao projeto de isonomia salarial, o que implica aumento de 30% dos salários dos parlamentares, cujos proventos ficariam equiparados aos dos juizes do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, numa época em se se exige austeridade nos gastos públicos, para viabilizar um programa de estabilização econômica, nossos representantes nos passam essa rasteira e legislam em causa própria.

Correto, corretíssimo foi o comentário do deputado José Genoíno, do PT paulista, um dos 54 que votaram contra a derrubada do veto, ao constatar: "Uma comissão não vota o relatório sobre o plano econômico, as cassações andam em ritmo lento, a revisão está engasgada, e nós votamos aumento dos nossos próprios salários".

Só faltou o parlamentar petista acrescentar aquela expressão popular que usamos quando queremos fazer um desabafo: "É o fim da picada!"

A "batata quente" agora está nas mãos do Senado. Caso os senadores confirmem a derrubada do veto, a decisão vai ter um efeito cascata nos gastos públicos. Vai elevar vencimentos de ministros de Estado, deputados estaduais, dirigentes de estatais e servidores públicos.

Esse pessoal pensa que dinheiro dá em árvore, no mínimo. Ou quem sabe, a maioria dos deputados (os 296 que foram favoráveis a mais este ato irresponsável e inoportuno), esteja pressentindo que este será seu derradeiro mandato e quer tirar o máximo de vantagem que puder, antes da cassação compulsória nas urnas.

Faltou, aos repórteres que cobriram a votação na Câmara, um importante serviço de utilidade pública: fornecer o nome de cada um desses 296 "patriotas", que aprovaram matéria de tamanha "relevância" pública. Ironias a parte, só podemos fazer nossas as observações do deputado Chico Vigilante (PT-DF), publicadas no "Painel" da "Folha de S. Paulo": "Lula falou em 300 picaretas na Câmara. Pois estavam quase todos lá, votando em benefício próprio. Faltaram apenas quatro, tradicionais gazeteiros". Nós aduziríamos: E também os nomes desses "abnegados cidadãos".

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de março de 1994).



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