Atitude irresponsável
Pedro J. Bondaczuk
O atual Congresso, em sua
maioria --- felizmente há exceções --- consegue irritar a
sociedade, os militares, a imprensa e os próprios parlamentares
sérios, que querem mostrar serviço, com suas mazelas, trapalhadas e
omissões. A mais recente "façanha" da Câmara Federal foi
a derrubada do veto do presidente Itamar Franco ao projeto de
isonomia salarial, o que implica aumento de 30% dos salários dos
parlamentares, cujos proventos ficariam equiparados aos dos juizes do
Supremo Tribunal Federal. Ou seja, numa época em se se exige
austeridade nos gastos públicos, para viabilizar um programa de
estabilização econômica, nossos representantes nos passam essa
rasteira e legislam em causa própria.
Correto, corretíssimo foi o
comentário do deputado José Genoíno, do PT paulista, um dos 54 que
votaram contra a derrubada do veto, ao constatar: "Uma comissão
não vota o relatório sobre o plano econômico, as cassações andam
em ritmo lento, a revisão está engasgada, e nós votamos aumento
dos nossos próprios salários".
Só faltou o parlamentar
petista acrescentar aquela expressão popular que usamos quando
queremos fazer um desabafo: "É o fim da picada!"
A "batata quente"
agora está nas mãos do Senado. Caso os senadores confirmem a
derrubada do veto, a decisão vai ter um efeito cascata nos gastos
públicos. Vai elevar vencimentos de ministros de Estado, deputados
estaduais, dirigentes de estatais e servidores públicos.
Esse pessoal pensa que
dinheiro dá em árvore, no mínimo. Ou quem sabe, a maioria dos
deputados (os 296 que foram favoráveis a mais este ato irresponsável
e inoportuno), esteja pressentindo que este será seu derradeiro
mandato e quer tirar o máximo de vantagem que puder, antes da
cassação compulsória nas urnas.
Faltou, aos repórteres que
cobriram a votação na Câmara, um importante serviço de utilidade
pública: fornecer o nome de cada um desses 296 "patriotas",
que aprovaram matéria de tamanha "relevância" pública.
Ironias a parte, só podemos fazer nossas as observações do
deputado Chico Vigilante (PT-DF), publicadas no "Painel" da
"Folha de S. Paulo": "Lula falou em 300 picaretas na
Câmara. Pois estavam quase todos lá, votando em benefício próprio.
Faltaram apenas quatro, tradicionais gazeteiros". Nós
aduziríamos: E também os nomes desses "abnegados cidadãos".
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de março de 1994).
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