Estado é o grande sonegador
Pedro J. Bondaczuk
Os aposentados, finalmente,
têm uma boa notícia, em meio a tanta coisa ruim em seu caminho nos
últimos tempos, que é a liberação do abono, por parte do governo,
de Cr$ 4.943,87 para os segurados urbanos e Cr$ 2.601,73 para os
rurais, que recebem benefícios de até Cr$ 23.017,30 mensais. Ou
seja, a decisão vai beneficiar cerca de 80% daqueles que gozam de um
merecido ócio, após uma vida de trabalho.
É óbvio que não se trata de
uma situação ideal. Bom seria se essa importância pudesse ser
incorporada aos seus vencimentos e não se restringisse, apenas, a um
único mês. Mas para quem estava arriscado a ficar sem nada, a
solução encontrada acabou sendo a menos ruim delas.
O governo pretende conseguir
os recursos necessários para pagar o abono cobrando os sonegadores
da Previdência, que não são poucos. Muito pelo contrário.
Estimativas recentes, feitas pelo ministro do Trabalho e Previdência
Social, Rogério Magri, elevam o montante daquilo que é devido ao
sistema, computando multas, juros e correção, à exorbitante cifra
de US$ 100 bilhões. Ou seja, virtualmente, o equivalente a uma
dívida externa brasileira inteira.
O maior devedor, no entanto, é
o próprio Estado, que dá um tremendo mau exemplo de não-cumprimento
das leis que lhe compete resguardar. Aliás, as autoridades são
pródigas em castigos contra os pequenos empresários que
eventualmente descumprem seus deveres previdenciários, muitas vezes
por mera desorganização ou desconhecimento de uma boa
administração.
Todavia, na hora de fazer a
sua parte, de honrar com seus compromissos, pelo menos nas últimas
quatro décadas, o Estado vem se mostrando um depositário infiel.
Prova ser um pagador relapso. O monumental débito do governo para
com a Previdência explica, pelo menos em parte, a razão de um
cidadão receber tão pouco após prestar 35 anos de serviços, prazo
no qual cumpre rigorosamente com a sua parte na formação desse
fundo, já que ela é descontada de seus salários.
Em países da Europa Ocidental
a seguridade social até que tem motivos para estar beirando o
colapso e ter, diante de si, um futuro de imensas dificuldades.
Afinal, na maioria deles, a população ou está estabilizada ou em
declínio numérico. Suas taxas de mortalidade ou igualam ou superam
as de natalidade.
Como a quantidade dos que
atingem a idade de aposentadoria, em geral, vem sendo superior à dos
jovens que ingressam no mercado de trabalho (passando a ser,
portanto, contribuintes), o bolo se torna cada vez mais insuficiente
para todos os convidados da festa.
Não é este, é claro, o caso
brasileiro, onde a relação é exatamente inversa. O que sempre
existiu por aqui, nessa questão, foi uma flagrante burla à lei,
justamente por parte de quem competia zelar pelo seu cumprimento: o
Estado.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de agosto de 1990)
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