Crise global
Pedro J. Bondaczuk
A economia globalizada, em um
mundo pós-guerra fria, que se tornou pequeno em decorrência dos
avanços tecnológicos dos meios de comunicação, tem o seu lado
perigoso para os países "emergentes", que dependam
exclusivamente de capitais alheios. Este é o caso dos chamados
"tigres asiáticos", apontados amiúde como modelos de
desenvolvimento e que agora se veem abalados por uma crise sem
precedentes, de conseqüências ainda imprevisíveis.
Primeiro foi a Tailândia,
atingida por um "terremoto" financeiro, no mês passado,
cujos efeitos em cadeia atingiram várias partes do mundo e ainda se
fazem sentir. Agora, foi o "crash", a quebra, a ruptura da
bolsa de Hong Kong, uma das mais importantes da Ásia, sob a
administração chinesa desde julho passado. O que originou esses
fatos? As explicações são muitas e a maioria não convence.
O chamado capital
especulativo, aquele que se aproveita da política de juros altos de
Estados perdulários --- que sobrevivem às custas de empréstimos
(internos e/ou externos) --- sabe se defender. Seja qual for a
situação, sai sempre ganhando. Obtém e protege seus lucros com
extremo zelo, de forma selvagem, a qualquer custo. Não tem pátria
ou ideologia. Não é leal a ninguém.
Ao menor sinal de abalo
econômico, retira-se de imediato do mercado do país afetado em que
aportou apenas para lucrar, sem dar virtualmente nenhum retorno, em
geral deixando atrás de si uma quebradeira em massa.
As bolsas de valores, embora
essenciais para capitalizar empresas, são na verdade um jogo. Quem
não sabe jogá-lo, quem não tem nervos de aço para esse "pôquer
financeiro" e aplica dinheiro que não possa ficar parado por
longos prazos, à espera de retorno imediato ou de lucro fácil,
geralmente se arruína.
Nestas baixas históricas nas
bolsas de valores da Ásia, Europa, Estados Unidos e América Latina,
dos últimos dias, gigantescas fortunas mudaram de mãos em questão
de minutos. Há gente se arruinando, perdendo tudo o que tem. Em
contrapartida, existem espertalhões, "jogando"
estritamente dentro das regras do mercado acionário, triplicando ou
mais seu capital.
A pergunta que se faz é: que
efeito esse "terremoto financeiro" vai ter sobre a economia
brasileira e, mais especificamente, sobre o real? A acreditar nas
autoridades econômicas de Brasília, nenhum. Nada vai mudar. As
políticas de câmbio e de juros serão mantidas. A moeda continuará
sólida. Os juros prosseguirão nas alturas. E para sinalizar isso ao
mercado, o Banco Central lançou, na terça-feira, um grande volume
de papéis da dívida pública lastreados em dólar.
Ou seja, o governo não teme a
súbita valorização da moeda norte-americana, em detrimento do
real. Se isso acontecer, ele será o grande perdedor. Mas confia nas
reservas cambiais que o País possui, de mais de US$ 60 bilhões, e
nos recursos que deverão entrar no Tesouro, procedentes de
investimentos externos e da privatização de estatais.
O Brasil escapou incólume da
crise do México. Não foi abalado pelo cataclismo que afetou a
Argentina. Sequer tomou conhecimento da débacle tailandesa. E se as
previsões se concretizarem, terá tudo para sair ileso e ainda
lucrar com mais esse abalo financeiro mundial, provando ter uma
economia sólida e, por conseqüência, passando a atrair mais e mais
capitais para financiar sua arrancada para o desenvolvimento. Assim
seja!
(Texto escrito em 27 de
outubro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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