Sunday, July 30, 2017

Crise global


Pedro J. Bondaczuk


A economia globalizada, em um mundo pós-guerra fria, que se tornou pequeno em decorrência dos avanços tecnológicos dos meios de comunicação, tem o seu lado perigoso para os países "emergentes", que dependam exclusivamente de capitais alheios. Este é o caso dos chamados "tigres asiáticos", apontados amiúde como modelos de desenvolvimento e que agora se veem abalados por uma crise sem precedentes, de conseqüências ainda imprevisíveis.

Primeiro foi a Tailândia, atingida por um "terremoto" financeiro, no mês passado, cujos efeitos em cadeia atingiram várias partes do mundo e ainda se fazem sentir. Agora, foi o "crash", a quebra, a ruptura da bolsa de Hong Kong, uma das mais importantes da Ásia, sob a administração chinesa desde julho passado. O que originou esses fatos? As explicações são muitas e a maioria não convence.

O chamado capital especulativo, aquele que se aproveita da política de juros altos de Estados perdulários --- que sobrevivem às custas de empréstimos (internos e/ou externos) --- sabe se defender. Seja qual for a situação, sai sempre ganhando. Obtém e protege seus lucros com extremo zelo, de forma selvagem, a qualquer custo. Não tem pátria ou ideologia. Não é leal a ninguém.

Ao menor sinal de abalo econômico, retira-se de imediato do mercado do país afetado em que aportou apenas para lucrar, sem dar virtualmente nenhum retorno, em geral deixando atrás de si uma quebradeira em massa.

As bolsas de valores, embora essenciais para capitalizar empresas, são na verdade um jogo. Quem não sabe jogá-lo, quem não tem nervos de aço para esse "pôquer financeiro" e aplica dinheiro que não possa ficar parado por longos prazos, à espera de retorno imediato ou de lucro fácil, geralmente se arruína.

Nestas baixas históricas nas bolsas de valores da Ásia, Europa, Estados Unidos e América Latina, dos últimos dias, gigantescas fortunas mudaram de mãos em questão de minutos. Há gente se arruinando, perdendo tudo o que tem. Em contrapartida, existem espertalhões, "jogando" estritamente dentro das regras do mercado acionário, triplicando ou mais seu capital.

A pergunta que se faz é: que efeito esse "terremoto financeiro" vai ter sobre a economia brasileira e, mais especificamente, sobre o real? A acreditar nas autoridades econômicas de Brasília, nenhum. Nada vai mudar. As políticas de câmbio e de juros serão mantidas. A moeda continuará sólida. Os juros prosseguirão nas alturas. E para sinalizar isso ao mercado, o Banco Central lançou, na terça-feira, um grande volume de papéis da dívida pública lastreados em dólar.

Ou seja, o governo não teme a súbita valorização da moeda norte-americana, em detrimento do real. Se isso acontecer, ele será o grande perdedor. Mas confia nas reservas cambiais que o País possui, de mais de US$ 60 bilhões, e nos recursos que deverão entrar no Tesouro, procedentes de investimentos externos e da privatização de estatais.

O Brasil escapou incólume da crise do México. Não foi abalado pelo cataclismo que afetou a Argentina. Sequer tomou conhecimento da débacle tailandesa. E se as previsões se concretizarem, terá tudo para sair ileso e ainda lucrar com mais esse abalo financeiro mundial, provando ter uma economia sólida e, por conseqüência, passando a atrair mais e mais capitais para financiar sua arrancada para o desenvolvimento. Assim seja!

(Texto escrito em 27 de outubro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).



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