Brasil aprende a renegociar
Pedro J. Bondaczuk
A Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado, ao aprovar, anteontem, o projeto do senador
Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, definindo os limites e condições
para a renegociação da dívida externa brasileira, além de ter
cumprido um dispositivo constitucional, colocou a questão no seu
devido eixo.
Doravante, os negociadores do
governo (que por sua vez foi legitimado nas urnas nas eleições
presidenciais do ano passado) saberão, ao se reunir com os
banqueiros, que contam com o respaldo popular. Afinal, os senadores
são nossos legítimos representantes.
Em outra oportunidade havíamos
ressaltado que a proposta apresentada pelo Brasil aos credores, pela
primeira vez, era bem elaborada e sobretudo inteligente. O plenário
do Senado, agora, deverá examinar o projeto, dentro de duas semanas,
e ao que tudo indica, deve aprovar unanimemente a medida.
O ponto crucial da nova
renegociação está nos juros atrasados. No passado, sempre que o
País atrasava no pagamento do serviço da dívida, via de regra
negociava um novo empréstimo para cobrir apenas este débito, cujo
dinheiro sequer passava pelo Brasil. Procedia-se a mera operação
contábil. E o principal devido, além de não ser amortizado num
único centavo, crescia.
Os novos juros passavam a ser
calculados sobre o novo total. Os governos (vários deles agiram
assim), por terem firmado compromisso com o Fundo Monetário
Internacional (avalista da operação), realizavam novos esforços,
para não atrasar mais.
Estimulavam o quanto podiam as
exportações, subsidiando-as, continham, além da prudência, as
importações --- causando, inclusive, o sucateamento do parque
industrial brasileiro --- para levantar o máximo possível de
dólares. Para quê? Para investir no desenvolvimento nacional? Para
acabar com os bolsões de miséria, em franca e permanente expansão?
Não! Faziam todo esse sacrifício somente para pagar os juros da
dívida externa.
Os dólares advindos das
exportações eram retidos no Banco Central. Este convertia-os em
cruzeiros (ou cruzados, ou cruzados novos), sem que existisse lastro
para a emissão de tamanho volume de moeda. Alimentava-se, portanto,
prodigamente a inflação.
Para complicar tudo, os
governos anteriores tentavam conter a explosão inflacionária
atacando os efeitos, não as causas, aumentando progressivamente
nossa miséria. Se tal processo continuasse, onde iríamos parar? Os
novos parâmetros de renegociação irão deter esta espiral de
empobrecimento. Finalmente, estamos aprendendo um mínimo de bom
senso.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de outubro de 1990).
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