Sunday, July 16, 2017

Descrença nos políticos


Pedro J. Bondaczuk


O nível de credibilidade dos políticos é baixíssimo, alcançando o último lugar num ranking de instituições da sociedade estabelecido por uma pesquisa da agência paulista de publicidade "Standard, Ogilvy & Mather". E nem seria preciso um estudo tão detalhado e abrangente para se chegar a essa conclusão. Basta que se olhem os resultados das últimas eleições no Brasil para se perceber, pelas taxas de abstenção e pela grande quantidade de votos brancos e nulos, o quanto essa categoria caiu no conceito popular. É certo que as generalizações são perigosas e principalmente injustas. Elas punem os bons por causa das ações dos maus.

A pesquisa em questão mereceria uma análise mais criteriosa, pela importância de suas conclusões. Por exemplo, a instituição de maior credibilidade entre os brasileiros continua sendo a família, apesar dos tantos atentados que são feitos contra a sua coesão e continuidade.

O estudo e o talento têm grande valor para as pessoas, o que não deixa de ser confortador e de despertar esperanças de um País melhor no futuro. É que as duas instituições de maior credibilidade, após a considerada como a principal célula da sociedade, são, pela ordem, a Ciência e Tecnologia e as Artes. A quarta é o Exército, o que demonstra que o povo não confundiu as coisas e não associou o recém findo regime militar com a corporação responsável pela defesa do Estado.

Os políticos estão abaixo da Igreja, Imprensa, Polícia, Banco e Banqueiros, Grandes Empresas e Empresários, Governo e Sindicatos, na pesquisa. A partir do próximo ano, todavia, a classe terá mais uma oportunidade de se redimir da péssima atuação dos últimos tempos.

O Congresso, com um índice de renovação de 60%, deve assumir com competência e seriedade o trabalho da legislatura que está encerrando, melancolicamente, seu mandato, que é a de regulamentar a nova Constituição que ainda carece de complemento dois anos depois de promulgada e emendar alguns dispositivos do texto constitucional que chegam a ser até folclóricos, de tão aberrativos.

Aos legisladores estaduais caberá a chance de assumirem uma postura austera, sem que legislem em causa própria e nem estipulem os salários absurdos que ora lhes são pagos, quando os que os sustentam já não têm mais o que apertar em seus cintos de tão crítica que é a sua situação econômica. E aos governadores competirá gerir com competência e honestidade seus Estados, sem fazer do cargo um simples trampolim para o Palácio do Planalto. Agindo assim, quem sabe, os políticos conseguirão se redimir, pelo menos em parte, e deixar o humilhante último lugar do ranking de credibilidade popular.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de novembro de 1990).



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