Descrença nos políticos
Pedro J. Bondaczuk
O nível de credibilidade dos
políticos é baixíssimo, alcançando o último lugar num ranking de
instituições da sociedade estabelecido por uma pesquisa da agência
paulista de publicidade "Standard, Ogilvy & Mather". E
nem seria preciso um estudo tão detalhado e abrangente para se
chegar a essa conclusão. Basta que se olhem os resultados das
últimas eleições no Brasil para se perceber, pelas taxas de
abstenção e pela grande quantidade de votos brancos e nulos, o
quanto essa categoria caiu no conceito popular. É certo que as
generalizações são perigosas e principalmente injustas. Elas punem
os bons por causa das ações dos maus.
A pesquisa em questão
mereceria uma análise mais criteriosa, pela importância de suas
conclusões. Por exemplo, a instituição de maior credibilidade
entre os brasileiros continua sendo a família, apesar dos tantos
atentados que são feitos contra a sua coesão e continuidade.
O estudo e o talento têm
grande valor para as pessoas, o que não deixa de ser confortador e
de despertar esperanças de um País melhor no futuro. É que as duas
instituições de maior credibilidade, após a considerada como a
principal célula da sociedade, são, pela ordem, a Ciência e
Tecnologia e as Artes. A quarta é o Exército, o que demonstra que o
povo não confundiu as coisas e não associou o recém findo regime
militar com a corporação responsável pela defesa do Estado.
Os políticos estão abaixo da
Igreja, Imprensa, Polícia, Banco e Banqueiros, Grandes Empresas e
Empresários, Governo e Sindicatos, na pesquisa. A partir do próximo
ano, todavia, a classe terá mais uma oportunidade de se redimir da
péssima atuação dos últimos tempos.
O Congresso, com um índice de
renovação de 60%, deve assumir com competência e seriedade o
trabalho da legislatura que está encerrando, melancolicamente, seu
mandato, que é a de regulamentar a nova Constituição que ainda
carece de complemento dois anos depois de promulgada e emendar alguns
dispositivos do texto constitucional que chegam a ser até
folclóricos, de tão aberrativos.
Aos legisladores estaduais
caberá a chance de assumirem uma postura austera, sem que legislem
em causa própria e nem estipulem os salários absurdos que ora lhes
são pagos, quando os que os sustentam já não têm mais o que
apertar em seus cintos de tão crítica que é a sua situação
econômica. E aos governadores competirá gerir com competência e
honestidade seus Estados, sem fazer do cargo um simples trampolim
para o Palácio do Planalto. Agindo assim, quem sabe, os políticos
conseguirão se redimir, pelo menos em parte, e deixar o humilhante
último lugar do ranking de credibilidade popular.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de novembro de 1990).
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