Governo dos não eleitos
Pedro J. Bondaczuk
O escritor e jornalista João
Ubaldo Ribeiro, num delicioso e picante artigo publicado no jornal "O
Globo", em 25 de julho do ano passado, intitulado "Nível
de incompetência e outros pepinos", trouxe à baila uma questão
da maior relevância e atualidade e que nunca foi tratada em qualquer
campanha eleitoral.
Constatou: "Os
governantes eleitos, em qualquer dos poderes que constituem governos
como o nosso, são cada vez menos habilitados a dominar a gama de
conhecimento e informação necessários à formulação de políticas
e decisões. Não é possível que um presidente entenda de tudo,
desde física nuclear a problemas ambientais. O governo é cada vez
mais dos não eleitos, dos assessores de todos os níveis, dos
tecnocratas..."
Conviria, pois, que essa
questão da assessoria, da composição da equipe governamental em
todos os escalões, fosse trazida à baila, durante as campanhas
eleitorais, mormente da que começa a ganhar as ruas. Certamente
quando algum candidato à Presidência da República, ou aos governos
estaduais, vem ao rádio, à televisão, aos jornais ou diz nos
palanques, durante os comícios, que vai executar determinado
programa, adotar uma certa estratégia, empreender um declarado
conjunto de ações, não sabe como fazer tudo isso. E nem poderia
saber. Confia em homens especializados, "experts" em
assuntos específicos de suas áreas de atuação, que serão
guindados com ele ao poder.
Pois é essa gente que
conviria ser apresentada ao eleitor. Um assessor competente e probo
pode salvar a administração de um presidente desastrado e trapalhão
e vice-versa. Daí a constatação de João Ubaldo Ribeiro, no
supracitado artigo:
"O governo é cada vez
mais dos não eleitos, dos assessores de todos os níveis, dos
tecnocratas e, por conseguinte, também de interesses irresponsáveis,
da… oligarquização burocrática e do corporativismo, que em nossa
vida pública, parece uma dessas 'crecas' que se pega não se sabe
onde e não há fungicida que resolva".
Que tal os candidatos à
Presidência, nas eleições de 3 de outubro próximo, ao enunciarem
seus planos, propostas e soluções, apresentarem também os meios
que pretendem adorar?! Que tal dizerem quais assessores serão
responsabilizados por tais e quais temas de seus programas de
governo, a bem da transparência e até da lógica?!
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de março de 1994).
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