Saturday, July 01, 2017

Governo dos não eleitos


Pedro J. Bondaczuk


O escritor e jornalista João Ubaldo Ribeiro, num delicioso e picante artigo publicado no jornal "O Globo", em 25 de julho do ano passado, intitulado "Nível de incompetência e outros pepinos", trouxe à baila uma questão da maior relevância e atualidade e que nunca foi tratada em qualquer campanha eleitoral.

Constatou: "Os governantes eleitos, em qualquer dos poderes que constituem governos como o nosso, são cada vez menos habilitados a dominar a gama de conhecimento e informação necessários à formulação de políticas e decisões. Não é possível que um presidente entenda de tudo, desde física nuclear a problemas ambientais. O governo é cada vez mais dos não eleitos, dos assessores de todos os níveis, dos tecnocratas..."

Conviria, pois, que essa questão da assessoria, da composição da equipe governamental em todos os escalões, fosse trazida à baila, durante as campanhas eleitorais, mormente da que começa a ganhar as ruas. Certamente quando algum candidato à Presidência da República, ou aos governos estaduais, vem ao rádio, à televisão, aos jornais ou diz nos palanques, durante os comícios, que vai executar determinado programa, adotar uma certa estratégia, empreender um declarado conjunto de ações, não sabe como fazer tudo isso. E nem poderia saber. Confia em homens especializados, "experts" em assuntos específicos de suas áreas de atuação, que serão guindados com ele ao poder.

Pois é essa gente que conviria ser apresentada ao eleitor. Um assessor competente e probo pode salvar a administração de um presidente desastrado e trapalhão e vice-versa. Daí a constatação de João Ubaldo Ribeiro, no supracitado artigo:

"O governo é cada vez mais dos não eleitos, dos assessores de todos os níveis, dos tecnocratas e, por conseguinte, também de interesses irresponsáveis, da… oligarquização burocrática e do corporativismo, que em nossa vida pública, parece uma dessas 'crecas' que se pega não se sabe onde e não há fungicida que resolva".

Que tal os candidatos à Presidência, nas eleições de 3 de outubro próximo, ao enunciarem seus planos, propostas e soluções, apresentarem também os meios que pretendem adorar?! Que tal dizerem quais assessores serão responsabilizados por tais e quais temas de seus programas de governo, a bem da transparência e até da lógica?!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de março de 1994).



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