Friday, July 28, 2017

Congresso atual é empecilho

Pedro J. Bondaczuk

O deputado Delfim Netto, em palestra proferida no Clube dos Diretores Lojistas do Rio, disse que o País deverá crescer entre 2,5% e 3%¨neste ano, a despeito da inflação alta. Para contrabalançar essa previsão, o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, aquele da política feijão com arroz do governo de José Sarney, que redundou numa taxa inflacionária de 84%, rebateu este dado otimista, com um diagnóstico, se não catastrófico, pelo menos bastante sombrio para a economia brasileira.

A razão do seu pessimismo é aquela que temos apontado, reiteradamente, em nossos comentários: o impasse político. O presidente Itamar Franco está com as mãos atadas, na dependência absoluta do Congresso Nacional. Não dispõe de qualquer instrumento eficaz à inflação. Toda e qualquer medida que pretender adotar terá de passar, necessariamente, pela Câmara e pelo Senado. E ali, lei alguma consegue ser aprovada em menos de cinco meses, no mínimo. Reiteramos que o atual sistema torna o País ingovernável. Isso pode ter um lado positivo.

A despeito dos boatos acerca de hipotéticos choques, congelamentos e prefixações, o governo não tem como partir para essa espécie de aventura. O único expediente que o presidente pode lançar mão é a medida provisória, de duração limitada e que pode ser derrubada facilmente pelos congressistas.

Dessa forma, a economia fica na dependência exclusiva do mercado. Se os agentes econômicos tiverem juízo e caso o déficit público venha a ser amainado é até provável que Delfim Netto tenha razão e o Brasil, de fato, volte a crescer neste ano, após muito tempo andando em passo de caranguejo.

O deputado paulista, contudo, condicionou sua previsão à manutenção da inflação no atual patamar, além da permanência das atuais regras econômicas. Aliás, acerca de comportamento inflacionário, o ex-ministro da Fazenda fez uma declaração, em entrevista publicada pela revista empresarial “Dow Notícias”, do trimestre janeiro/fevereiro/março de 1992, que reputamos das mais lúcidas e esclarecedoras já feitas publicamente sobre o tema.

Delfim destacou: “Quando o sujeito diz ‘a inflação caiu’ é tudo besteira. A margem de erro do índice é de mais de 10%. Quando o sujeito diz ‘a inflação foi de 25%’, ela pode ter sido de 22 ou de 27. O mal não é tanto o nível de inflação se ele permanecesse estável, porque acaba havendo um rearranjo interno. Ruim é a volatilidade da taxa. Você não consegue trabalhar com um índice de 25 num mês, 15 no outro, 27 no próximo, depois 7% e assim por diante”.

Por isso, não deixa de causar até uma certa irritação a divulgação das taxas inflacionárias dos vários institutos que as medem. Eles chegam ao requinte de informar duas casas após a vírgula, como se fosse uma cifra milimetricamente rigorosa. Mas não é, como um especialista no assunto, do porte de Delfim Netto, garantiu.

A verdade é que a sociedade faz uma série de confusões em torno da inflação, que é diferente para cada pessoa, de acordo com a sua realidade financeira, e é uma média ponderada, muito distante de ser rigorosamente exata. Isso além de existir grande equívoco em se considerar a “febre” como sendo a “doença” e vice-versa, num primor de desinformação.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de abril de 1993).



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