Congresso atual é empecilho
Pedro J. Bondaczuk
O deputado Delfim Netto, em
palestra proferida no Clube dos Diretores Lojistas do Rio, disse que
o País deverá crescer entre 2,5% e 3%¨neste ano, a despeito da
inflação alta. Para contrabalançar essa previsão, o ex-ministro
da Fazenda, Maílson da Nóbrega, aquele da política feijão com
arroz do governo de José Sarney, que redundou numa taxa
inflacionária de 84%, rebateu este dado otimista, com um
diagnóstico, se não catastrófico, pelo menos bastante sombrio para
a economia brasileira.
A razão do seu pessimismo é
aquela que temos apontado, reiteradamente, em nossos comentários: o
impasse político. O presidente Itamar Franco está com as mãos
atadas, na dependência absoluta do Congresso Nacional. Não dispõe
de qualquer instrumento eficaz à inflação. Toda e qualquer medida
que pretender adotar terá de passar, necessariamente, pela Câmara e
pelo Senado. E ali, lei alguma consegue ser aprovada em menos de
cinco meses, no mínimo. Reiteramos que o atual sistema torna o País
ingovernável. Isso pode ter um lado positivo.
A despeito dos boatos acerca
de hipotéticos choques, congelamentos e prefixações, o governo não
tem como partir para essa espécie de aventura. O único expediente
que o presidente pode lançar mão é a medida provisória, de
duração limitada e que pode ser derrubada facilmente pelos
congressistas.
Dessa forma, a economia fica
na dependência exclusiva do mercado. Se os agentes econômicos
tiverem juízo e caso o déficit público venha a ser amainado é até
provável que Delfim Netto tenha razão e o Brasil, de fato, volte a
crescer neste ano, após muito tempo andando em passo de caranguejo.
O deputado paulista, contudo,
condicionou sua previsão à manutenção da inflação no atual
patamar, além da permanência das atuais regras econômicas. Aliás,
acerca de comportamento inflacionário, o ex-ministro da Fazenda fez
uma declaração, em entrevista publicada pela revista empresarial
“Dow Notícias”, do trimestre janeiro/fevereiro/março de 1992,
que reputamos das mais lúcidas e esclarecedoras já feitas
publicamente sobre o tema.
Delfim destacou: “Quando o
sujeito diz ‘a inflação caiu’ é tudo besteira. A margem de
erro do índice é de mais de 10%. Quando o sujeito diz ‘a inflação
foi de 25%’, ela pode ter sido de 22 ou de 27. O mal não é tanto
o nível de inflação se ele permanecesse estável, porque acaba
havendo um rearranjo interno. Ruim é a volatilidade da taxa. Você
não consegue trabalhar com um índice de 25 num mês, 15 no outro,
27 no próximo, depois 7% e assim por diante”.
Por isso, não deixa de causar
até uma certa irritação a divulgação das taxas inflacionárias
dos vários institutos que as medem. Eles chegam ao requinte de
informar duas casas após a vírgula, como se fosse uma cifra
milimetricamente rigorosa. Mas não é, como um especialista no
assunto, do porte de Delfim Netto, garantiu.
A verdade é que a sociedade
faz uma série de confusões em torno da inflação, que é diferente
para cada pessoa, de acordo com a sua realidade financeira, e é uma
média ponderada, muito distante de ser rigorosamente exata. Isso
além de existir grande equívoco em se considerar a “febre” como
sendo a “doença” e vice-versa, num primor de desinformação.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 8 de abril de 1993).
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