Saturday, July 15, 2017

Hiperinflação: pedra no caminho

Pedro J. Bondaczuk

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, está prevendo que a inflação do corrente mês vai si situar ao redor de 29%, contra os 24,83% de junho, em meio a discussões sobre se o País se encaminha ou não para uma hiperinflação, como a da Argentina, ou se já está nela.

Enquanto se discute o sexo dos anjos, as taxas disparam, corroendo o orçamento de todos e deixando a sociedade sem parâmetros para planejamentos sequer de curto prazo, quanto mais de longo. Como sempre, as autoridades econômicas alinham uma série de desculpas para justificar a disparada inflacionária.

Desta vez, o vilão são os aluguéis (sempre há um). No mês passado, justificou-se a elevação da taxa, de quase 10% para 24,83%, como decorrência do realinhamento do Plano Verão (o mesmo aconteceu, como o leitor deve se recordar, quando o Plano Cruzado foi para o espaço).

O fato é que a inflação, embora beneficie a alguns (afinal, para que determinadas pessoas percam é preciso que outras tenham ganhado), representa um sério desarranjo econômico. Não precisa ir muito longe para comprovar isso.

Basta que se veja o que está acontecendo na Argentina, às voltas com índices que devem beirar os olímpicos 200% neste mês. O que se percebe, é que os economistas de plantão, de países cuja economia esteja desarrumada, não dispõem de fórmulas mágicas para curar este mal.

As soluções apontadas são, invariavelmente, sempre as mesmas. Ou se congelam os preços e salários (mais estes últimos, que podem ser controlados) ou se propõem pactos sociais, quase nunca respeitados. Há exceções, evidentemente.

No México, o acordo entre empresários, trabalhadores e governo vem funcionando bem, e há mais de um ano. Este expediente, entretanto, até aqui, não chegou a sair do plano das meras intenções (ou somente das palavras?) no Cone Sul. Nem argentinos, e nem brasileiros, conseguiram chegar a esse tipo de entendimento. Por que? Porque nem todos são atingidos pela disparada do custo de vida.

O ex-ministro e empresário Olavo Setúbal disse, há alguns anos, a esse respeito: “Se a inflação prejudicasse a todos, já teria sido erradicada como a varíola”. Há, portanto, muitos (e poderosos) grupos lucrando com ela. O País não, evidentemente.

Remédios, fora das duas fórmulas apontadas acima, existem, isto é lógico. Eles são amargos, mas costumam funcionar. A Bolívia, por exemplo, teve deflação no mês passado. E é mister que se recorde que os bolivianos chegaram a amargar, até recentemente, uma taxa acumulada anual em torno de 24.000%.

O que ocorre é que lá o governo tinha respaldo popular. Victor Paz Estenssoro foi eleito diretamente pelo povo. Mas somente isto não basta. Afinal, muitos presidentes conseguem se eleger com menos de 50% dos votos, como foi o caso de Alfonsin, na Argentina, e passam a contar, portanto, com a maioria da sociedade contra eles.

Daí sermos favoráveis às eleições em dois turnos, como é o sistema francês, e como vai passar a ser o nosso, neste ano. Só um governo com ampla credibilidade terá condições de, realmente, arrumar a casa, tomando as medidas duras que isso requer.

Portanto, que ninguém espere, até 15 de março de 1990, qualquer providência realmente eficaz e durável para evitar que venhamos a cair numa hiperinflação. O que pode acontecer é um novo choque (talvez algum extemporâneo Plano Outono, ou algo equivalente), para a travessia dos cruciais oito meses que nos separam da saída de um governante, imposto pelas circunstâncias, e da ascensão de um outro, escolhido pela vontade soberana do povo. Até lá...

(Artigo meu, publicado sob pseudônimo, na página 2, Editoria de Opinião do Correio Popular, em 23 de julho de 1989).



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