Hiperinflação: pedra no caminho
Pedro
J. Bondaczuk
O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, está prevendo que a
inflação do corrente mês vai si situar ao redor de 29%, contra os
24,83% de junho, em meio a discussões sobre se o País se encaminha
ou não para uma hiperinflação, como a da Argentina, ou se já está
nela.
Enquanto se
discute o sexo dos anjos, as taxas disparam, corroendo o orçamento
de todos e deixando a sociedade sem parâmetros para planejamentos
sequer de curto prazo, quanto mais de longo. Como sempre, as
autoridades econômicas alinham uma série de desculpas para
justificar a disparada inflacionária.
Desta vez,
o vilão são os aluguéis (sempre há um). No mês passado,
justificou-se a elevação da taxa, de quase 10% para 24,83%, como
decorrência do realinhamento do Plano Verão (o mesmo aconteceu,
como o leitor deve se recordar, quando o Plano Cruzado foi para o
espaço).
O fato é
que a inflação, embora beneficie a alguns (afinal, para que
determinadas pessoas percam é preciso que outras tenham ganhado),
representa um sério desarranjo econômico. Não precisa ir muito
longe para comprovar isso.
Basta que
se veja o que está acontecendo na Argentina, às voltas com índices
que devem beirar os olímpicos 200% neste mês. O que se percebe, é
que os economistas de plantão, de países cuja economia esteja
desarrumada, não dispõem de fórmulas mágicas para curar este mal.
As soluções
apontadas são, invariavelmente, sempre as mesmas. Ou se congelam os
preços e salários (mais estes últimos, que podem ser controlados)
ou se propõem pactos sociais, quase nunca respeitados. Há exceções,
evidentemente.
No México,
o acordo entre empresários, trabalhadores e governo vem funcionando
bem, e há mais de um ano. Este expediente, entretanto, até aqui,
não chegou a sair do plano das meras intenções (ou somente das
palavras?) no Cone Sul. Nem argentinos, e nem brasileiros,
conseguiram chegar a esse tipo de entendimento. Por que? Porque nem
todos são atingidos pela disparada do custo de vida.
O
ex-ministro e empresário Olavo Setúbal disse, há alguns anos, a
esse respeito: “Se a inflação prejudicasse a todos, já teria
sido erradicada como a varíola”. Há, portanto, muitos (e
poderosos) grupos lucrando com ela. O País não, evidentemente.
Remédios,
fora das duas fórmulas apontadas acima, existem, isto é lógico.
Eles são amargos, mas costumam funcionar. A Bolívia, por exemplo,
teve deflação no mês passado. E é mister que se recorde que os
bolivianos chegaram a amargar, até recentemente, uma taxa acumulada
anual em torno de 24.000%.
O que
ocorre é que lá o governo tinha respaldo popular. Victor Paz
Estenssoro foi eleito diretamente pelo povo. Mas somente isto não
basta. Afinal, muitos presidentes conseguem se eleger com menos de
50% dos votos, como foi o caso de Alfonsin, na Argentina, e passam a
contar, portanto, com a maioria da sociedade contra eles.
Daí sermos
favoráveis às eleições em dois turnos, como é o sistema francês,
e como vai passar a ser o nosso, neste ano. Só um governo com ampla
credibilidade terá condições de, realmente, arrumar a casa,
tomando as medidas duras que isso requer.
Portanto,
que ninguém espere, até 15 de março de 1990, qualquer providência
realmente eficaz e durável para evitar que venhamos a cair numa
hiperinflação. O que pode acontecer é um novo choque (talvez algum
extemporâneo Plano Outono, ou algo equivalente), para a travessia
dos cruciais oito meses que nos separam da saída de um governante,
imposto pelas circunstâncias, e da ascensão de um outro, escolhido
pela vontade soberana do povo. Até lá...
(Artigo
meu, publicado sob pseudônimo, na página 2, Editoria de Opinião do
Correio Popular, em 23 de julho de 1989).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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