Inércia e obsolescência
Pedro J. Bondaczuk
“O Brasil corre o risco de
ficar obsoleto antes de ficar pronto”. A constatação foi feita
pelo antropólogo Claude Lèvi-Strauss e exemplifica a morosidade com
que as ações são tomadas no País, principalmente as que requerem
urgência. Exemplo? A revisão constitucional teve início,
oficialmente, no dia 6 passado, porém até agora sequer o regimento
que vai nortear os trabalhos ficou pronto.
É verdade que “no meio do
caminho tinha uma pedra”, parodiando Carlos Drummond de Andrade. Ou
seja, estourou o escândalo do esquema de fraudes do Orçamento da
União. A população espera que a Comissão Parlamentar de
Inquérito, criada para apurar esta megacorrupção, não somente
apure tudo, timtim por timtim, mas em tempo recorde e que puna
exemplarmente os faltosos com a competente cassação. E que a
Justiça mostre mais agilidade do que a mostrada no escândalo PC
Farias.
Já foi incorporado ao
anedotário nacional o comportamento protelatório dos homens
públicos. Sempre que a imprensa levanta um problema novo, que exige
solução imediata, os responsáveis pela área concedem entrevista,
com ar muitas vezes petulante, e dão a entender que a população
não precisa se preocupar. “O governo já formou uma comissão para
estudar o caso”, dizem, invariavelmente.
E o cidadão, que não é
bobo, mas acaba sendo tratado como se o fosse, entende o recado. Sabe
que desse mato não vai sair coelho. Fica com a certeza de que o
problema será empurrado com a barriga até não poder mais ser
adiado.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de novembro de 1993)
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