Monday, July 10, 2017

Inércia e obsolescência



Pedro J. Bondaczuk


O Brasil corre o risco de ficar obsoleto antes de ficar pronto”. A constatação foi feita pelo antropólogo Claude Lèvi-Strauss e exemplifica a morosidade com que as ações são tomadas no País, principalmente as que requerem urgência. Exemplo? A revisão constitucional teve início, oficialmente, no dia 6 passado, porém até agora sequer o regimento que vai nortear os trabalhos ficou pronto.

É verdade que “no meio do caminho tinha uma pedra”, parodiando Carlos Drummond de Andrade. Ou seja, estourou o escândalo do esquema de fraudes do Orçamento da União. A população espera que a Comissão Parlamentar de Inquérito, criada para apurar esta megacorrupção, não somente apure tudo, timtim por timtim, mas em tempo recorde e que puna exemplarmente os faltosos com a competente cassação. E que a Justiça mostre mais agilidade do que a mostrada no escândalo PC Farias.

Já foi incorporado ao anedotário nacional o comportamento protelatório dos homens públicos. Sempre que a imprensa levanta um problema novo, que exige solução imediata, os responsáveis pela área concedem entrevista, com ar muitas vezes petulante, e dão a entender que a população não precisa se preocupar. “O governo já formou uma comissão para estudar o caso”, dizem, invariavelmente.

E o cidadão, que não é bobo, mas acaba sendo tratado como se o fosse, entende o recado. Sabe que desse mato não vai sair coelho. Fica com a certeza de que o problema será empurrado com a barriga até não poder mais ser adiado.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de novembro de 1993)



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