Fuga e união
Pedro J. Bondaczuk
A realidade, muitas vezes, se nos afigura tão horrenda, violenta,
injusta, sem sentido e sem esperanças de que mude para melhor, que
nos sentimos tentados, nessas ocasiões, a fugir dela, a nos
distanciarmos do que acontece conosco e/ou ao nosso redor e fingir
que nada disso está acontecendo. Mas como fazer isso? Fugir para
onde?
Há, é verdade, circunstâncias que são o oposto. Existem momentos
tão sublimes e gratificantes que gostaríamos que não acabassem
nunca. Sonhamos que o mundo todo venha a ser tão maravilhoso, como
aquilo que vivenciamos, mas que temos convicção de que irá passar.
Tudo passa, o bom e o mau. Mas como fazer isso? Como tornar esse
sonho pelo menos minimamente realizável, se não concreto?
Só conheço uma única resposta para todas essas questões. Podemos
fugir da realidade horrenda que nos assola, ou que nos rodeia,
através da arte. E só podemos mudar o mundo para melhor também por
meio dela. Não ria, amigo leitor, se você for artista saberá do
que estou falando.
Esse ato de criação, essa forma de expressão de sentimentos,
pensamentos e observações – como que num desabafo –
proporciona-nos o meio mais seguro e eficaz para a fuga do horror, da
violência, das injustiças e de tudo o que transforma o mundo –
que poderia e deveria ser um paraíso para todos – em sucursal do
inferno. E fugir para onde? Para um lugar em que tirano algum poderá
nos alcançar e atingir: para o nosso próprio interior.
Creio, piamente, no poder regenerador da arte. Ademais, ela não é,
apenas, veículo de fuga de uma realidade aziaga e má. Em mãos
peritas tende a se transformar na concretização de sonhos e de
ideais que de outra forma seriam irrealizáveis. O talento do artista
é varinha mágica que transforma os cenários, atos e pessoas mais
horrendos em protótipos de beleza, de grandeza e de transcendência.
Um compositor talentoso, tendo por matéria-prima dissonâncias que
ferem e machucam o ouvido, é capaz de elaborar, apenas com
estrondos, gemidos, urros e estridências, melodias harmoniosas e
suaves, que nos embalam o espírito e fazem nossa alma dançar.
Pintores hábeis reproduzem em suas telas – apenas com pincéis e tintas, às quais misturam com perícia para dar-lhes todos os tons da natureza – não só o concreto e belo, mas o mundo ideal que trazem em seus corações e mentes.
Escultores, tal como Deus modelando o primitivo Adão, fazem da pedra
rústica e suja perfeições de formas e de movimentos, de maneira
que só eles sabem fazer, mediante a força, a perícia e a grandeza
do seu talento.
Escritores expressam a beleza, a magia, o poder e a transcendência
dos magnos ideais que movem o homem tendo por ferramentas, apenas, a
ambigüidade, a indigência e a fragilidade das palavras, que
manipulam com a perícia de um tecelão a tecer seus panos.
Vocês já imaginaram um mundo sem artes? Já pensaram como seria tão mais sombrio, horrendo, violento, injusto, sem graça e sem esperanças de que mudasse para melhor? A fria realidade se tornaria superlativa, ou seja, gélida.
Não teríamos como expressar nossos mais acalentados sonhos e
magníficos ideais. Seríamos uma fera a mais em um mundo povoado
apenas por feras, na mera e selvagem luta pela sobrevivência, sem
que esta, todavia, tivesse o menor sentido ou graça.
Não sei o que você pensa a esse propósito, estimado leitor e
esteja certo que, mesmo que não concorde com seu pensamento,
respeitá-lo-ei às últimas conseqüências. Da minha parte, porém,
não saberia viver sem arte. E não viveria. Abriria mão,
liminarmente, desta fascinante e simultaneamente perigosa aventura
que sei quando e como começou, mas não tenho a menor noção de
quando e como irá terminar.
Para mim a arte, qualquer arte, é tão fundamental como o ar que
respiro, o alimento que me mantém, a veste que me aquece ou o abrigo
que me acolhe. Este sempre foi meu credo desde que tomei consciência
de mim, do que me rodeia e dessa incompreensível e misteriosa
imensidão que é o universo.
Mesmo correndo o risco de ser mal interpretado e tido como piegas ou
alienado, não tenho vergonha e nem receio de declarar, aos quatro
ventos, peito estufado e plenamente convicto do que digo: creio na
beleza, na grandeza e na transcendência do homem!!! E expresso essa
minha crença, apenas, através da arte, que é meu DNA, minha vez e
minha voz!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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