Tuesday, July 18, 2017

País segue para a estagflação



Pedro J. Bondaczuk


A inflação brasileira atua como o vírus da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, a mortal Aids, mostrando uma resistência assustadora contra os remédios clássicos. Nos últimos anos, tecnocratas das mais variadas escolas econômicas e tendências ideológicas esgotaram, virtualmente, todo o seu receituário para, se não dar um fim a essa disfunção da economia, pelo menos manter as taxas em patamares civilizados.

Os resultados, porém, para desespero daqueles que pagam a conta, os assalariados, são sempre os mesmos: frustrantes. A variação reside apenas nos prazos do fracasso da estratégia adotada. A despeito de declarações da ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, otimistas e às vezes irônicas, como a feita anteontem, em que falou que o desempenho brasileiro deve estar frustrando os catastrofistas, tudo indica que o plano pomposamente chamado de Brasil Novo vai ter o mesmo destino dos demais.

Várias instituições de renome e de comprovada competência vêm apontando distorções e extrapolando resultados decepcionantes. A mais recente a fazer uma análise da atual situação foi o respeitado Centro de Estudos da Conjuntura do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas.

Suas conclusões, por serem lógicas, chegam a ser assustadoras. A taxa de inflação nos próximos meses, ao contrário das previsões governamentais, não devem ser inferiores a dois dígitos. Por outro lado, a recessão, adotada como remédio, como uma espécie de purgante antiinflacionário, tende a se agravar. O País caminha, portanto, para o já tão conhecido quadro de “estagflação”, caldo de cultura ideal para o agravamento da maior crise social pela qual o Brasil jamais passou.

Como se percebe, os tecnocratas continuam apostando em números, fazendo experiências às custas das vidas de milhões de pessoas. Para eles, tudo parece resumir-se em cifras, projeções, dados estatísticos. Esquecem-se que numa penada, mediante decreto elaborado muitas vezes apenas para atender a pressões de grupos que defendem seus próprios interesses, eles alteram não apenas o presente, mas o próprio futuro da maioria dos cidadãos, pelos quais, na verdade, são remunerados (e regiamente).

Nunca o governo precisou tanto ouvir a sociedade, auscultar seus anseios, detectar as prioridades e adotar soluções consensuais quanto agora, em que, justamente parece se esconder atrás de teorias inadequadas para a nossa realidade e dogmas cuja viabilidade sequer foi comprovada.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio popular, em 22 de julho de 1990).



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