País segue para a estagflação
Pedro J. Bondaczuk
A inflação
brasileira atua como o vírus da Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida, a mortal Aids, mostrando uma resistência assustadora
contra os remédios clássicos. Nos últimos anos, tecnocratas das
mais variadas escolas econômicas e tendências ideológicas
esgotaram, virtualmente, todo o seu receituário para, se não dar um
fim a essa disfunção da economia, pelo menos manter as taxas em
patamares civilizados.
Os
resultados, porém, para desespero daqueles que pagam a conta, os
assalariados, são sempre os mesmos: frustrantes. A variação reside
apenas nos prazos do fracasso da estratégia adotada. A despeito de
declarações da ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello,
otimistas e às vezes irônicas, como a feita anteontem, em que falou
que o desempenho brasileiro deve estar frustrando os catastrofistas,
tudo indica que o plano pomposamente chamado de Brasil Novo vai ter o
mesmo destino dos demais.
Várias
instituições de renome e de comprovada competência vêm apontando
distorções e extrapolando resultados decepcionantes. A mais recente
a fazer uma análise da atual situação foi o respeitado Centro de
Estudos da Conjuntura do Instituto de Economia da Universidade
Estadual de Campinas.
Suas
conclusões, por serem lógicas, chegam a ser assustadoras. A taxa de
inflação nos próximos meses, ao contrário das previsões
governamentais, não devem ser inferiores a dois dígitos. Por outro
lado, a recessão, adotada como remédio, como uma espécie de
purgante antiinflacionário, tende a se agravar. O País caminha,
portanto, para o já tão conhecido quadro de “estagflação”,
caldo de cultura ideal para o agravamento da maior crise social pela
qual o Brasil jamais passou.
Como
se percebe, os tecnocratas continuam apostando em números, fazendo
experiências às custas das vidas de milhões de pessoas. Para eles,
tudo parece resumir-se em cifras, projeções, dados estatísticos.
Esquecem-se que numa penada, mediante decreto elaborado muitas vezes
apenas para atender a pressões de grupos que defendem seus próprios
interesses, eles alteram não apenas o presente, mas o próprio
futuro da maioria dos cidadãos, pelos quais, na verdade, são
remunerados (e regiamente).
Nunca
o governo precisou tanto ouvir a sociedade, auscultar seus anseios,
detectar as prioridades e adotar soluções consensuais quanto agora,
em que, justamente parece se esconder atrás de teorias inadequadas
para a nossa realidade e dogmas cuja viabilidade sequer foi
comprovada.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio popular, em 22 de julho
de 1990).
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