Monday, January 16, 2017

Um poeta que emociona e faz pensar


Pedro J. Bondaczuk

O filósofo norte-americano Will Durant escreveu, em determinado trecho do seu clássico “Filosofia da vida”, que “todas as verdades são velhas e só os poetas e loucos podem ser originais”. A muitos pode parecer mera frase de efeito, mas não é. Afinal, trata-se da constatação de um pensador realista, com os pés no chão, que se caracterizou pela precisão e objetividade. Portanto, se você, leitor, estiver à procura de novas verdades (ou mesmo de velhas, mas sob novas roupagens), não as encontrará em tratados de Filosofia, em romances, em contos ou novelas. Achará, somente, na poesia. Ou nos delírios dos loucos, que muitas vezes são até mais lúcidos e sensatos do que os tratados de renomados mestres do pensamento racional.

O bom poeta é aquele que reúne, simultaneamente, um vasto conjunto de virtudes. Sabe expressar emoções de sorte a tornar seus leitores cúmplices de cada uma, ou melhor, de todas elas. É o que emociona, convence, machuca, sara as feridas, mas que, ao mesmo tempo em que atinge nossa sensibilidade, tem o poder de nos suscitar profundas reflexões, mesmo á nossa revelia. Ao mesmo tempo em que chega, de mansinho, ao nosso coração, invade, de supetão, sem nenhuma cerimônia, nossa inteligência, forçando-nos a raciocinar. É certo que poetas assim são relativamente raros. Wilbett Oliveira é um deles.

Tenho em mãos um livro inteiro, de 315 páginas, que comprova essa característica deste autor, “metade mineiro e metade capixaba”. Refiro-me a “Poestiagem – Poesia e Metafísica em Wilbett Oliveira”, coletânea de análises críticas organizada por Abrahão Costa Andrade, lançado há cerca de um ano pela Editora Opção. O livro contém nove capítulos, reunindo críticos literários, ensaístas e filósofos de reconhecido saber nos mais variados campos do conhecimento, esmiuçando a poesia wilbetteana sob diversos ângulos a que ela se presta. Tive o privilégio e a honra de participar dessa coletânea, apropriadamente caracterizada como “Fortuna crítica”, na companhia de oito “sumidades” das artes e da cultura.

O primeiro capítulo, intitulado “Poesia e metafísica: um mosaicum para Wilbett Oliveira”, é de autoria do organizador dessa oportuna coletânea, Abrahão Costa Andrade. Trata-se de um intelectual com brilhante e vasto currículo. Ele é, entre outras tantas coisas, poeta, ensaísta, mestre e doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Além de professor, é autor de cinco livros, entre os quais “Educação do esquecimento”.  O capítulo seguinte, intitulado “A poesia sob o olhar gris de Wilbett Oliveira”, coube à brilhante poetisa, mestre e doutoranda em Letras, Karina de Resende Tavares Fleury, autora, também, do prefácio e do texto da contracapa. Ela tem em seu currículo quatro livros publicados.

O terceiro capítulo, “Dizeres filosóficos nada poesia de Wilbett Oliveira” é de autoria do filósofo Joelson Pereira de Souza, mestre em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. A análise seguinte, “Peripécias de um camaleão: sobre a poesia de Wilbett Oliveira”, coube ao eminente escritor Rodrigo da Costa Araújo, doutorando em Literatura Comparada e mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense. O próximo capítulo, “A poesia nossa de cada dia na precariedade do existir: o universo poético de Wilbett Oliveira” é de autoria Pós-Doutor em Artes (Literatura e Cinema), Joel Cardoso, Doutor em Letras, Literatura Brasileira e Intersemiótica.

O sexto capítulo, “Garimpando a poética wilbetteana” é de Ester Abreu Vieira de Oliveira, poetisa, ensaísta e mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Tive o privilégio de redigir o sétimo capítulo. Nele abordei “O credo poético de Wilbett Oliveira”. O penúltimo capítulo foi escrito pela professora Levinélia Barbosa. Ela é graduada em Literatura Brasileira e leciona essa matéria, além de Língua Portuguesa, há 18 anos. A ilustre mestra abordou o tema “Trilogia da consagração: sobre os livros ‘Sêmen’, ‘Salignalinguagem’ e ‘Gris’, de Wilbett Oliveira”. Quem, finalmente, encerra esta valiosa (e imperdível) coletânea é a escritora e filósofa Geyme Lechner Mannes, que analisa “O sal na linguagem poética de Wilbett Oliveira”.

Conheci esse poeta há mais ou menos três anos, quase que por acaso. Vi um de seus livros na prateleira de uma livraria, cujo título chamou-me a atenção. Decidi adquiri-lo. Li-o, praticamente num único “sopro” e decidi relê-lo. Reli-o, todavia, não só uma, mas diversas vezes. Desde então, tive acesso a outros tantos livros de Wilbett Oliveira, alguns adquiridos em livrarias e outros presenteados pelo próprio poeta, enriquecidos, neste último caso, por gentis dedicatórias dele. A cada leitura, minha admiração por seu talento e sabedoria só crescia. Pudera! Trata-se de uma poesia como tanto gosto, que satisfaz todas minhas expectativas, pois, além de me emocionar, me induz à reflexão. Partilho com você, prezado leitor, amante das Musas, estes versos do poema “Salmodiar”, apenas para deixá-lo “com água na boca”, com aquele gostinho de “quero mais”:

“entre a mão e a voz
o amor suplanta a fratura
de realidades esfaceladas
entre o incerto e o atroz”                 


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