Sunday, January 01, 2017

Conseqüência de omissão



Pedro J. Bondaczuk


A crise do Golfo Pérsico, em vias de desembocar numa guerra que se afigura desastrosa, qualquer que seja sua duração e intensidade, vem demonstrar o quanto é necessário se resolver um problema assim que ele apareça, sem nenhuma espécie de protelação.

A questão palestina, por exemplo, surgida em 1948, arrasta-se, já, por longos 43 anos, quase meio século completo, sem nenhuma perspectiva de que venha a ser solucionada em qualquer tempo. A ocupação da Cisjordânia e Faixa de Gaza, por outro lado, regiões ocupadas militarmente por Israel, está prestes a completar um quarto de século, sendo sempre levada em banho-maria, sem que nunca a comunidade internacional tenha se empenhado seriamente em decidir o destino final desses territórios.

Houvessem tais casos sido tratados com a seriedade que deveriam merecer, e hoje o ditador iraquiano, Saddam Hussein, não teria qualquer pretexto para justificar a estúpida invasão que promoveu ao Kuwait, lançando a humanidade, quem sabe, à beira da Terceira Guerra Mundial.

Dizer que toda a comunidade internacional está alinhada para exigir a retirada das tropas do Iraque do emirado invadido não passa de balela. As posições da União Soviética e da China, por exemplo, são bastante ambíguas.

Não foi possível sentir absoluta firmeza de propósitos nos pronunciamentos públicos feitos pelos líderes dessas duas potências, embora Moscou tenha votado favoravelmente a todas as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no sentido de punir a agressão.

Mas Pequim absteve-se de autorizar o uso da força. E não se trata de qualquer país inexpressivo, sem peso na opinião mundial, já que não se pode esquecer que uma, a cada cinco pessoas que há no Planeta, seguramente é chinesa.

A pendência palestina mantém Israel numa situação incômoda, como o centro dos acontecimentos. Hussein não tem qualquer outra chance de obter a adesão da dividida comunidade árabe a não ser através de uma entrada israelense na guerra. Daí o presidente iraquiano ter se esmerado em discursos provocativos e ameaças crescentes ao Estado judeu.

Está claro o que ele pretende. Deseja provocar um ataque preventivo israelense, a todo e qualquer custo, como o da Guerra dos Seis Dias, de 1967, na esperança de romper seu isolamento entre os seus próprios pares.

É evidente que a questão palestina não deve ser associada à invasão do Kuwait por parte do Iraque. Mas se o problema já estivesse resolvido, esse pueril pretexto sequer poderia ser levantado neste momento. E, convenhamos, 43 anos é tempo mais do que suficiente para que se pudesse decidir o que fazer com todo um povo que existe de fato, sem direito, contudo, de existir.  

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de janeiro de 1991)


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