Conseqüência
de omissão
Pedro J. Bondaczuk
A crise do Golfo Pérsico, em vias de desembocar numa
guerra que se afigura desastrosa, qualquer que seja sua duração e intensidade,
vem demonstrar o quanto é necessário se resolver um problema assim que ele apareça,
sem nenhuma espécie de protelação.
A questão palestina, por exemplo, surgida em 1948,
arrasta-se, já, por longos 43 anos, quase meio século completo, sem nenhuma
perspectiva de que venha a ser solucionada em qualquer tempo. A ocupação da
Cisjordânia e Faixa de Gaza, por outro lado, regiões ocupadas militarmente por
Israel, está prestes a completar um quarto de século, sendo sempre levada em
banho-maria, sem que nunca a comunidade internacional tenha se empenhado
seriamente em decidir o destino final desses territórios.
Houvessem tais casos sido tratados com a seriedade
que deveriam merecer, e hoje o ditador iraquiano, Saddam Hussein, não teria
qualquer pretexto para justificar a estúpida invasão que promoveu ao Kuwait,
lançando a humanidade, quem sabe, à beira da Terceira Guerra Mundial.
Dizer que toda a comunidade internacional está
alinhada para exigir a retirada das tropas do Iraque do emirado invadido não
passa de balela. As posições da União Soviética e da China, por exemplo, são
bastante ambíguas.
Não foi possível sentir absoluta firmeza de
propósitos nos pronunciamentos públicos feitos pelos líderes dessas duas
potências, embora Moscou tenha votado favoravelmente a todas as resoluções do
Conselho de Segurança das Nações Unidas, no sentido de punir a agressão.
Mas Pequim absteve-se de autorizar o uso da força. E
não se trata de qualquer país inexpressivo, sem peso na opinião mundial, já que
não se pode esquecer que uma, a cada cinco pessoas que há no Planeta,
seguramente é chinesa.
A pendência palestina mantém Israel numa situação
incômoda, como o centro dos acontecimentos. Hussein não tem qualquer outra
chance de obter a adesão da dividida comunidade árabe a não ser através de uma
entrada israelense na guerra. Daí o presidente iraquiano ter se esmerado em
discursos provocativos e ameaças crescentes ao Estado judeu.
Está claro o que ele pretende. Deseja provocar um
ataque preventivo israelense, a todo e qualquer custo, como o da Guerra dos
Seis Dias, de 1967, na esperança de romper seu isolamento entre os seus
próprios pares.
É evidente que a questão palestina não deve ser
associada à invasão do Kuwait por parte do Iraque. Mas se o problema já
estivesse resolvido, esse pueril pretexto sequer poderia ser levantado neste
momento. E, convenhamos, 43 anos é tempo mais do que suficiente para que se
pudesse decidir o que fazer com todo um povo que existe de fato, sem direito,
contudo, de existir.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 12 de janeiro de 1991)
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