Wednesday, January 11, 2017

Reconstrução vai ser tarefa para gerações


Pedro J. Bondaczuk


O conflito do Golfo Pérsico, no que diz respeito ao seu aspecto militar, está chegando ao fim, embora possa levar mais alguns dias, ou quem sabe até semanas, para que seja vencida a desesperada resistência final de Saddam Hussein. Afinal, ele e seus seguidores lutam agora pela sobrevivência.

Muitos dos informes sobre consagradoras vitórias e debandadas iraquianas maciças, evidentemente, são exagerados, frutos da censura imposta ao noticiário, que impede que os fatos sejam conferidos em fontes independentes.

Todavia, está claríssimo que a ocupação do Kuwait, objetivo declarado da coalizão multinacional, terminou. Agora os aliados querem a cabeça do homem que ousou desafiar o sistema com seus sonhos megalomaníacos de restaurar a grandeza árabe, como se fosse possível recuar na história. Os tempos e condições atuais são outros e desde 1989, o mundo tem uma, e única, superpotência incontestável. Desafiá-la militarmente equivale a cometer suicídio.

O Iraque, objetivamente, foi longe demais, muito além do que a lógica poderia indicar assim que começaram os bombardeios a Bagdá, em 17 de janeiro passado. Afinal, resistiu até aqui à maior máquina bélica já posta em ação desde a Segunda Guerra Mundial. Mas a troco do quê?

Do ponto de vista militar, Saddam Hussein perdeu praticamente seu Exército, ou a maior parte dele. Do econômico, o Iraque faliu de vez. Do humano, sofreu a perda da sua nata, da juventude, e o número de civis mortos --- certamente altíssimo --- está ainda para ser contabilizado.

O país regrediu pelo menos cem anos e, para voltar ao estágio de antes da guerra, deverão passar pelo menos duas gerações. Isto se houver um líder pragmático, com forte carisma que consiga curar os traumas deixados por este desastre nacional e concentre a vontade da população na tarefa da reconstrução. E este, é claro, não é Saddam Hussein.

Como reconstruir o montão de ruínas em que o Iraque se transformou? Estimativas preliminares dão conta que serão necessários US$ 380 bilhões para as reconstruções iraquiana e kuwaitiana. Apesar de ambos, juntos, deterem a segunda maior reserva mundial de petróleo, será necessário investir muito dinheiro para reparar os estragos deixados pelas bombas de ambos os lados nas instalações petrolíferas.

Antes de tudo, a tarefa prioritária a ser enfrentada é a de apagar os incêndios que ainda estão consumindo milhares e milhares de barris de óleo cru. O Kuwait ainda irá contar com o beneplácito do Ocidente. Mesmo assim, precisará de cinco anos para restaurar aquilo que a insânia desregrada no Golfo destruiu em poucas semanas.

Mas e o Iraque? Como irá iniciar a reconstrução, quando se sabe que terá de pagar, só em reparações de guerra, US$ 180 bilhões ao emirado que invadiu e US$ 80 bilhões da dívida externa que contraiu para se armar para a ruína?

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 28 de fevereiro de 1991).


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