O
valor das idéias
Pedro J. Bondaczuk
O filósofo, sociólogo e psicanalista alemão Erich
Fromm fez uma afirmação, que soa como alerta, em um de seus tantos livros,
sobre a qual é mister refletir com maturidade e espírito crítico. Advertiu: “O
perigo do passado era que os homens se tornassem escravos. O perigo do futuro é
que os homens se tornem autômatos”. Exagero? Muitos acham que sim. Da minha
parte, entendo que não. De fato, objetivamente, existe esse risco e ele não é
desprezível.
Aldous
Huxley tratou, em forma de romance, desse mesmo tema no seu livro “Admirável
mundo novo” (que de admirável não tem coisíssima alguma). Oxalá jamais a
civilização caminhe para o cenário que ele pintou, em que não há espaço para a
individualidade, para a liberdade de raciocínio e ação, para o direito de fazer
escolhas e tudo é automatizado, imposto, previsível e controlado por uma
suposta inteligência superior.
A
modernidade é confundida, via de regra, com permissividade e com a ruptura de
todos os freios morais que construíram as civilizações. Enquanto pequena
parcela da humanidade usufrui as “delícias” de um consumismo desregrado e
perdulário, a grande maioria passa fome e milhões morrem à míngua. Quem
sobrevive, enfrenta privações de toda a sorte, sem saber como será o amanhã,
que talvez nem mesmo venha a ter.
Milhões
e milhões de pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo
passa, manipuladas pela propaganda e induzidas a agir de conformidade com
determinados padrões de comportamento, mediante sutis mensagens subliminares,
sequer param para pensar na razão de suas existências. Não especulam (salvo
exceções) sobre seu papel na Terra, sobre o motivo de viverem e não se importam
com isso. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e
nem se desestimam. Na maior parte das vezes, apenas se ignoram. Vivem porque
vivem, e pronto!
Muitos confundem otimismo
com alienação. Crêem que podem se encerrar numa redoma de vidro, na qual
ficariam imunes aos efeitos dos horrores e das patifarias que os cercam. Claro
que não podem. Essas pessoas agem como se os fatos negativos que ocorrem ao seu
redor não lhes dissessem respeito e não os atingissem. Estão equivocadas.
Os que assumem o papel de
formadores de opinião (não importa por quais meios) precisam, sobretudo, de
equilíbrio, para captarem com exatidão a realidade, sem aumentar ou diminuir os
episódios negativos e nem passar uma visão “cor-de-rosa” da vida, não
condizente com os dramas, tragédias e comédias do cotidiano. Como jornalista, a
matéria-prima do meu trabalho é o que há de melhor (raramente) e de pior na
natureza humana. São sempre os extremos.
O fato de trazer à baila
crimes, imoralidades, corrupção e devastação do meio ambiente, entre tantas
outras desgraças, não implica, porém, em me classificar como pessimista,
derrotista ou catastrofista. Até porque, se abordo com equilíbrio estes
problemas, sem exagerar nem subestimar nenhum deles, é porque creio que eles
têm solução. Afinal, a cura de qualquer doença depende da precisão do
diagnóstico.
A
auto-estima é fundamental para a conquista e manutenção da felicidade. Para que
a cultivemos, porém, é importante, antes de tudo, que nos conheçamos. A maioria
das pessoas não se conhece e muitas, muitíssimas, não se aceitam e, por não se
conhecerem e nem se aceitarem, não fazem nada para melhorar. São infelizes e
acham que isso é normal. Conformam-se com as desgraças.
É
imprescindível que tenhamos a noção exata do nosso potencial, mas também das
nossas vulnerabilidades e dos nossos limites. Temos que fazer tudo o que for
possível para melhorar nossas condições materiais, intelectuais e/ou
psicológicas. Somos os únicos responsáveis pelos rumos que a nossa vida vier a
tomar. É rematada tolice culpar os outros pelos males que nos aflijam. Todavia,
é preciso que nos conheçamos, nos aceitemos como somos, busquemos melhorar e
encontremos prazer no que fizermos.
Um
dos maiores cuidados que devemos ter na vida se refere ao teor e à qualidade
dos nossos pensamentos. Eles são as matérias-primas das nossas ações. Mesmo que
não venhamos a nos dar conta, somos, de fato, o que pensamos. Se pensarmos que
somos infelizes, coitadinhos e fracos, assim seremos. Se nutrirmos pensamentos
negativos, de mágoas, ressentimentos, ciúmes e vinganças, estaremos apostando
na infelicidade. E seremos, por conseqüência, infelizes.
Por
isso, o mais inteligente e produtivo é preenchermos nossa mente com idéias
positivas, construtivas e sadias. É aproveitarmos nosso tempo para conversações
que nos acrescentem algo e que nos melhorem. É lermos livros que nos ensinem,
ouvirmos músicas que nos enlevem, meditarmos e mergulharmos fundo em nossa alma
e nos reavaliarmos periodicamente, na tentativa de sempre evoluir.
A
vida não é constituída, apenas, de tragédias e aflições. Elas existem, e em
profusão, não há como e nem porque negar. Mas as alegrias, a beleza e as
satisfações ao nosso dispor são muito maiores. Basta que as busquemos, com
afinco, com coragem e com afã, sem nunca desanimar.
A
educação, em seu sentido mais amplo (e mais nobre) é a única forma de mudar,
positivamente, o coração humano. É preciso fazer as pessoas pensarem, impedir
que se alienem, que se massifiquem, se apequenem e se automatizem. Trata-se do
caminho mais adequado, se não o único, para redimir a humanidade. A alternativa
para ela, não há como negar, é a catástrofe.
Da
maneira que educarmos as gerações futuras, será como elas irão se comportar
quando amadurecerem. Os princípios que lhes transmitirmos, transmitirão à sua
descendência. Se forem educadas para o bem, a grandeza, a bondade, o amor e a
solidariedade, serão estas as virtudes pelas quais irão se empenhar. Em caso
contrário... Restarão poucas esperanças para a humanidade. Isto, se sobrar
alguma.
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