Criando utopias
Pedro
J. Bondaczuk
O pessimismo é inimigo
feroz contra o qual é necessário lutar sem tréguas e nem descanso. A maioria
esmagadora dos livros que temos ao nosso dispor, por exemplo, nos apresenta só
o lado obscuro e torpe da natureza humana. Raros, raríssimos, ressaltam o que o
homem tem de melhor: seu raciocínio e imenso potencial de grandeza. O mesmo
ocorre em relação a filmes, peças de teatro e outras tantas manifestações
artísticas.
Em conversas informais
do dia a dia, o que mais se ouve são críticas aos atos e defeitos alheios, como
se os que criticam fossem seres perfeitos. Não são! Infelizmente, o homem ainda
duvida do homem, desconfia dele, teme-o e o tem como inimigo, em vez de aliado.
Por que, em vez de
criticar os defeitos alheios não procuramos ressaltar suas virtudes? Ou, para
sermos mais práticos, por que não ajudamos, de maneira inteligente e eficaz,
essas pessoas tão criticadas a evoluir, a crescer, a progredir, a reparar as
deficiências que nelas detectamos (que são, via de regra, reflexos das nossas
próprias)? Porque a nossa intenção verdadeira não é a de corrigir ninguém, mas
apenas de condenar.
Todos, em alguma
medida, têm aspectos positivos em seu caráter e sua conduta que mereçam elogios
e até imitação. Por que não encararmos a vida pelo ângulo positivo, benigno,
belo, considerando o mal e todas suas manifestações (como violência, mentira,
corrupção, cobiça, perfídia e outros desvios de comportamento) como exceções,
jamais como regras?
Desde seu surgimento, o
homem sonha com um mundo ideal, de plena justiça, paz e felicidade para todos.
Milhares de utopias foram engendradas, mesmo quando sequer havia escrita,
prevendo essa idade de ouro. Podemos citar, sem ter que pensar muito, as que
foram criadas por Francis Bacon, Tommaso Campanella, Santo Agostinho, Ralph
Bellamy e, principalmente, por Thomas Morus, a quem devemos, inclusive, a
popularização do termo.
E por que esse sonho
nunca se concretizou? Porque a maioria o encara somente como um vago, posto que
desejável, ideal. Alguns poucos visionários dedicaram e dedicam suas vidas à
concretização do aparentemente impossível. Em vez de apoio e adesão, porém, são
ridicularizados e tidos como loucos. Bendita loucura!
É possível que se
estabeleça essa utopia dos gigantes da espécie? É improvável, não impossível.
Este é um sonho pelo qual vale a pena viver e se preciso, morrer. Eu acredito
nele! Luto por ele! Empenho o que sou e até o que tenho na sua concretização.
Não por acaso, o meu livro de maior sucesso chama-se “Por uma nova utopia”. Não
por acaso, doei todos os seus direitos comerciais ao Centro de Defesa da Vida,
entidade voltada à prevenção do suicídio. Amo e valorizo a vida! Creio no homem
e tenho confiança no futuro da humanidade.
Uma das melhores formas
de não se deixar abater pelas agruras do cotidiano é vislumbrar, sempre, o lado
positivo das coisas. Tudo tem, também, o seu avesso, tanto o bem quanto o mal.
Nada é bom demais ou totalmente ruim. Temos, isto sim, é que desenvolver
aguçado senso de proporção. E encarar a vida como ela é.
Não proponho, claro,
que optemos por nos alienar e fugir da realidade, o que é inútil, senão
impossível. Sugiro, isto sim, vislumbrá-la em sua inteireza e integralidade: no
direito e no avesso. Temos que viver sempre embriagados. Não de álcool, óbvio,
que nos conduz apenas a paraísos artificiais, que na verdade são visões do
inferno, com seus tormentos e agruras. A embriaguez que proponho é de beleza,
de otimismo, de ideais e de luz.
Podemos nos tornar, sem
que nos apercebamos, no maior perigo para nós mesmos, entre os tantos que
abundam no mundo. Como? Cultivando mágoas, invejas e ressentimentos, que nos
envenenam o espírito e nos tornam amargos e desagradáveis. Entregando-nos à
tristeza, ao desânimo e ao mau-humor, que inibem nossas melhores
potencialidades. Tornando-nos empedernidos céticos, ridicularizando a fé, nos
descartando de esperanças e nos encerrando num inferno de rancor e
antagonismos, que comprometem nossa saúde mental.
E qual o antídoto para
isso? Simples! Abrindo-nos para o mundo, com confiança e sem reservas, mesmo
sob o risco de, às vezes, nos ferirmos. Valorizando os bons momentos e apagando
da memória os maus. Alegrando-nos com o bem que nos ocorra e não dando muita
importância ao que de ruim nos acontecer.
É certo que a
insatisfação é a mola-mestra das grandes realizações. Os satisfeitos com tudo e
todos se acomodam e acham que as coisas devem continuar, todas, como estão.
Claro que não devem! Fosse o mundo depender deles, estaríamos, ainda, com
certeza, na idade da pedra lascada, vivendo em cavernas e dependendo da caça
para nos alimentar.
Todavia, a insatisfação
deve, sempre, vir acompanhada de ação. De nada vale murmurar contra determinada
situação, mas nada fazer para que ela seja alterada para melhor. Esse tipo de
insatisfeito é nocivo. Só cria clima de hostilidade e mal-estar, que nada de
útil produz e atrapalha os realizadores.
Sejamos eternos
insatisfeitos sim. Todavia, não nos acomodemos, deixando aos outros as tarefas
que se fazem indispensáveis. Sejamos agentes das mudanças que se impõem. Só
assim construiremos um mundo melhor. Só assim erigiremos a nossa utopia.
Sonho com um mundo
perfeito, de harmonia, paz e felicidade, em que haja absoluta igualdade de
direitos e deveres entre as pessoas. Sonho com um paraíso na Terra em que as
contradições que nos dividem e desumanizam hajam sido superadas. Em que não
existam excluídos e exclusores, oprimidos e opressores, poderosos e humildes.
Sonho com um mundo que
prescinda de leis, governos, exércitos e tribunais, em que todos conheçam, (e
cumpram), suas obrigações, sem necessidade de serem fiscalizados. Em que o amor
sem limites seja a única Constituição dos povos, irmanados em um só ideal, sem
fronteiras e separações.
Sonho com um mundo em
que estes versos do poeta Thiago de Mello, no poema “Os Estatutos do Homem”,
sejam mais do que mera poesia, mas o reflexo da realidade:
“O homem/não precisará
nunca mais
duvidar do homem
que o homem confiará no
homem
como a palavra confia
no vento
como o vento confia no
mar
como o ar confia no
campo azul do céu...”
Sonho com uma nova
utopia e luto para que se concretize. E você, querido leitor, qual é a sua
postura em relação a isso?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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