Mentalidade inflacionária
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente Itamar Franco e membros de sua equipe econômica estão bastante
irritados com o comportamento dos preços nos supermercados neste início de
1993. Algumas pesquisas chegaram a detectar aumentos médios de até 41% nos
produtos da cesta básica de alimentos e itens de higiene e limpeza em dezembro.
Susto
maior foi o que levou o líder do governo no Senado, Pedro Simon, ao fazer a sua
despesa semanal na segunda-feira. O senador peemedebista gaúcho teve o dissabor
de pagar pelas compras que fez até 50% a mais do que havia gasto na semana
passada. Indignado, ligou para Itamar que, incontinente, pediu ao ministro
Paulo Hadad que apurasse as razões de tamanha alta.
Objetivamente,
não há qualquer fato novo que justifique essa escalada nos preços. Parte do
fenômeno se deve aos eternos arautos do caos, com suas previsões catastrofistas
(que infelizmente encontram guarida na imprensa), que contaminam o otimismo de
qualquer cidadão, transformando-o em tensão, angústia e medo.
O
conferencista e neurolingüista Lair Ribeiro, em seu livro "Comunicação
Global", explica como funciona o mecanismo da expectativa : "O
conjunto dos cérebros de uma nação não precisa nem da linguagem exteriorizada
para firmar alguns consensos. Se o povo acredita, por exemplo, que a inflação
vai piorar, ou que a recessão está começando, esses fenômenos acontecem, à
revelia das medidas governamentais ou dos economistas. Em momentos assim, a
comunicação é tão vital para a economia de um país quanto as ciências
econômicas. O que nós vemos depende muito do que nós acreditamos",
ressalta o ilustre médico.
Como
se observa, não é a opinião de um financista, acostumado a lidar com frios
números e projeções geralmente pessimistas. Trata-se da avaliação de um
profundo estudioso do comportamento humano.
Embora,
amiúde, políticos afirmem que ninguém ganha com a inflação, isso não é verdade.
Aliás, contraria, inclusive, a própria lógica. Para haver perdedores, é
indispensável que haja ganhadores, caso contrário não haverá a contrapartida.
Há
quem lucre, e muito, com o fenômeno inflacionário. Não fosse assim, e esse
flagelo já estaria há muito eliminado entre nós, impedindo o vexame pelo qual o
País passou em 1992, que foi o de ser o detentor da maior taxa de inflação do
mundo!
É
certo que o governo tem de fazer a sua parte. Deve ser comedido nos gastos. Mas
os arautos do caos sempre arranjam uma forma para firmar um consenso negativo
na mente dos cidadãos, criando condições para que as taxas de fato subam.
Durante
a crise política, antes da votação do impeachment, o pretexto era a remota
possibilidade de que o então vice-presidente, Itamar Franco, aplicasse novo
choque na economia, com congelamento de preços, tão logo assumisse.
Em
conseqüência, vieram as remarcações preventivas, às custas de mais quedas nas
vendas. Agora, usa-se como bode expiatório o novo salário mínimo que, embora já
esteja em vigor, começará a ser pago apenas em fevereiro.
O
que constrange é o fato de as pitonisas de plantão terem mais credibilidade
quando efetuam suas "projeções" inflacionárias do que as autoridades.
Dessa forma, enquanto não se mudar a mentalidade, nem o ajuste fiscal, nem o
saneamento das contas públicas, nem qualquer outra medida governamental
conseguirá trazer os índices inflacionários a patamares
"civilizados".
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de janeiro de 1993).
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