Castelo de encantos e
desencantos
Pedro J. Bondaczuk
A necessidade de acalentar
esperanças, para poder sobreviver ao tédio ou à mediocridade (não importa) nos
leva a fazer do futuro – ou seja, do que ainda não aconteceu e pode sequer
jamais ocorrer para nós – uma "Idade de Ouro", onde tudo será melhor
do que hoje e, principalmente, do que ontem. Com isso, nos esquecemos de viver
o presente e de valorizar as benesses com que contamos no aqui e agora.
Nesse contexto, colocamos, à
nossa frente, determinados símbolos, aos quais emprestamos excessivo valor. Um
deles é a passagem de um ano para outro. É o que ocorre agora, em relação a
2017. Ele pode, sim, ser um ano de sucessos e de alegrias, como desejamos e
esperamos, se agirmos nesse sentido; se formos íntegros, dedicados, solidários,
competentes e soubermos partilhar o que temos com os menos favorecidos. Ação
tem que ser o grande lema para os próximos 365 dias.
Minha expectativa (nunca certeza,
óbvio) é que 2017 seja, de fato, marco em nossas vidas. Que possamos
concretizar, nesse próximo ano, nossos mais ousados sonhos e nobres ideais.
Nunca podemos perder de vista que o tempo é, simultaneamente, nosso mais
benigno amigo e nosso mais feroz inimigo. Dá-nos satisfações, sucessos, amores,
lembranças, experiências e, por fim, sabedoria. Mas, em contrapartida, causa
decadência física, sulca de rugas nosso rosto, pinta de grisalho nossos
cabelos, suprime o brilho do entusiasmo dos nossos olhos e, por fim, nos
suprime, sem piedade ou contemplação, do mundo dos vivos.
Trata-se de lei inflexível da
vida. Mas o tempo é justo, é democrático e não faz distinções. Causa esses
mesmos efeitos tanto no rico quanto no pobre; tanto no poderoso quanto no
humilde e assim por diante. Ninguém, absolutamente ninguém escapa dos seus
efeitos, para o bem ou para o mal.
Vejo, à minha frente, em meu gabinete de trabalho, em uma das
prateleiras de um dos armários de livros da minha biblioteca, a lombada do
romance do escocês Archibald Joseph Cronin, “O Castelo do Homem sem Alma”. Esse
pequeno incidente (se é que o possa chamar dessa forma), acende uma luz em meu
cérebro. O título desse best-seller sugere-me oportuna metáfora para esta
ocasião. Não que o livro trate do assunto. Não trata. É apenas uma associação
de idéias, dessas que nos surgem do nada, algumas oportunas e outras... nem
tanto.
O ano pode ser comparado a um castelo, desses que ainda há em profusão Europa
afora, notadamente na Inglaterra, França e Alemanha, com 365 cômodos,
assombrado ou não (não importa). Temos a oportunidade de visitar essas
seculares construções, cada uma delas, uma única vez na vida.
Desconhecemos, portanto, como elas são por dentro. Cada recinto é uma
descoberta. Pode ou não conter surpresas (boas e/ou ruins). A maioria não
contém. São aqueles dias rotineiros em que nada acontece de diferente e dos
quais reclamamos (na maior parte das vezes sem razão), achando que a vida se
transformou em
marasmo. Bobagem nossa.
Mas, em determinado cômodo, podemos ser surpreendidos. Com a tragédia?
Pode ser! Com a comédia? É o mais provável! Ou com uma cena sublime? Ou sei lá
com mais o quê? Todas as possibilidades permanecem em aberto. Seu
proprietário é o Tempo, também sem alma (a exemplo do dono do castelo, criado
por Cronin) pois, como o titã da mitologia grega, Cronos (que, metaforicamente,
o simboliza e caracteriza), que engolia seus filhos tão logo nasciam,
igualmente devora sua prole (milênios, séculos, anos, horas, minutos e
segundos) sem descanso ou interrupção.
Eclesiastes, o Pregador, nos ensinou: "Tudo tem a sua hora, cada
empreendimento tem o seu tempo debaixo do céu: tempo para nascer, tempo para
morrer; tempo para plantar, tempo para colher; tempo para matar, tempo para
curar; tempo para destruir, tempo para edificar; tempo para chorar, tempo para
sorrir; tempo para lamentar, tempo para dançar; tempo para espalhar pedras,
tempo para ajuntar pedras; tempo para abraçar, tempo para abster-se de abraços;
tempo para procurar, tempo para perder; tempo para guardar, tempo para jogar
fora; tempo para rasgar, tempo para coser; tempo para falar, tempo para calar;
tempo para amar, tempo para odiar; tempo para a guerra e tempo para a
paz".
O tempo, agora, é para agir. É para cada um fazer a sua parcela,
cumprir seu papel, dizer a que veio para esta magnífica e fascinante
experiência de existir. Que a visita ao castelo da “entidade sem alma”, em
2017, seja isenta de surpresas ruins, mas repleta das boas. Que, aos sairmos
dos seus umbrais, e nos prepararmos para “visitar” 2018, saiamos fortificados,
revigorados e, sobretudo, felizes com tudo o que vimos, sentimos e fizemos.
Amém!!!
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