Dom Quixote das Alagoas
Pedro J. Bondaczuk
O governador de Alagoas,
Fernando Collor de Mello, desde o primeiro dia de sua gestão, ou seja, 15 de
março de 1986, vem travando uma batalha digna do célebre personagem do escritor
espanhol Miguel de Cervantes, o Dom Quixote. Empenha-se em moralizar o
funcionalismo público local, especialmente no que diz respeito aos altíssimos
salários pagos a uma reduzida e “seleta” minoria de servidores, que o povo já
apelidou de “marajás”.
Logo
que tomou posse, o jovem político, de 38 anos, assinou vários decretos visando
a acabar com privilégios inconcebíveis, concedidos a determinadas pessoas, não
se sabe a que título. E comprou uma briga monumental, que envolve, agora, até o
Judiciário.
Collor,
com sua coragem, conquistou de imediato a simpatia dos que estão fartos da
corrupção e da mentira que desgraçadamente campeiam à solta entre nós.
Tornou-se uma espécie de “cavaleiro da esperança” daqueles que acreditam (e nós
estamos entre estes) ser ainda possível salvar este País, cuja gente está
tomada (com razão) de um imenso desencanto com a maioria dos seus homens
públicos.
A
palavra “marajá”, de acordo com mestre Aurélio, deriva do sânscrito “maha
raja”, em cuja língua significava “grande rei”. É o título dado a príncipes e
potentados da Índia, caracterizados pelas suas imensas fortunas e pelo
desperdício que fazem de dinheiro, num país extremamente pobre e populoso.
Os
nossos, é verdade, não chegam a ter nenhuma majestade. Não são, sequer, os
“gênios” que acreditam ser, a menos que se considere “genialidade” o fato de
fazerem política (a má, evidentemente), junto aos poderosos de plantão, que
passam, como tudo na vida.
Se
esses senhores trabalhassem em empresas privadas, não teríamos nada a ver com
os números que constam no final de cada mês em seus “holleriths”. Afinal, cada
dono de companhia sabe o que faz com o seu dinheiro e pode proceder com ele da
maneira que quiser.
Ocorre
que os altíssimos vencimentos das “marajás” são pagos do nosso bolso. São
cobertos pelos impostos, cada vez mais altos e mal aplicados que o governo cria
e recolhe. Por isso, o quanto eles ganham é da conta de todos nós.
É
para sustentar estes “nababos” que o governo federal dispõe de 339 repartições,
cuja função é recolher tributos e trabalhar no sentido de criar novos, além de
elevar os que já existem. Esse procedimento chegou a levar o bisneto do Barão
de Rio Branco, José Paulo da Silva Paranhos, a fazer um irado desabafo público
contra esse desrespeito à população.
Em
carta publicada em 26 de março do ano passado, no “Jornal da Tarde”, ele
alertou o governo: “Pense, senhor presidente. Essa Nova República é tão velha
quanto o mundo. Não se esqueça que as grandes revoluções sociais, no decorrer
da história, sempre foram oriundas de excessos tributários praticados pelo
Estado contra o povo”.
As
autoridades bem que admitem que a máquina estatal gasta demais, e muito mal, o
que arrecada da sociedade. Principalmente quando sustenta esses
“superfuncionários”, que na verdade somente excedem a imensa massa do
funcionalismo, em geral mal remunerada, na hora de passar no caixa para receber
seus proventos mensais.
É
por concordar com a postura do governador alagoano que a sociedade se
solidariza com a sua briga. Trata-se de uma “guerra santa”, justa e legítima na
defesa dos interesses da grande e sofridíssima maioria da população brasileira,
que se sente agredida ao ter que arcar com cargas crescentes de sacrifício
apenas para que pouquíssimos privilegiados tripudiem sobre as suas desventuras.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de janeiro de 1988).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment