Neurose nossa de cada dia
Pedro
J. Bondaczuk
O nosso cérebro é uma
das estruturas mais fantásticas e misteriosas que existem e, por isso, é a que
requer maior cuidado para que se tenha uma vida saudável, equilibrada e
produtiva. Não há nada no mundo que se compare, ou que rivalize, com o seu
funcionamento. Seu potencial é tão grande, que se torna impossível de delimitar
até onde vai.
É o cérebro que rege a
totalidade dos nossos atos – voluntários e involuntários; conscientes e
inconscientes. Tanto a Medicina, quanto
o Direito, estão de pleno acordo que é nele que se localiza a verdadeira “sede”
da vida. Por essa razão, para efeito de doação de órgãos com vistas a
transplantes, a morte do possível doador é legalmente definida não quando o coração pára de pulsar,
mas quando a atividade cerebral cessa.
O cérebro tem a
capacidade de promover a cura de um sem-número de doenças, de aplacar as piores
dores e de operar tantas e tantas outras maravilhas, desde que corretamente
estimulado. Por exemplo, através de uma técnica chamada de Visualização, é
possível tratar males graves e crônicos, além de curar medos e vícios. Nos
Estados Unidos, o método é usado amplamente, há anos, na preparação de atletas,
com sucesso total.
Em contrapartida, o
mesmo cérebro, que tem tamanho potencial curativo, pode causar (ou agravar)
severos desarranjos comportamentais, que findam por afetar também o restante do
organismo, em caso de mau-funcionamento, e causar doenças de difícil cura ou
até mesmo fatais. É o caso específico, por exemplo, das várias neuroses, que
afetam parcela considerável da população mundial, e que provocam sofrimentos,
constrangimentos e prejuízos incalculáveis aos que são afetados por elas.
Alguns cérebros são
resistentes à maioria dos vários tipos de agressões psicológicas externas do
cotidiano a que todos estamos sujeitos. Proporcionam, dessa forma, aos seus
detentores, reações equilibradas, compatíveis a quaisquer circunstâncias
traumáticas e/ou tensionantes que venham a enfrentar. Reagem, de maneira espontânea,
no sentido de contornar esses perigos racionalmente e assegurar, dessa forma, a
saúde e a felicidade às pessoas consideradas resistentes. Outros, no entanto,
são vulneráveis a esses mesmos estímulos. E a ciência sequer sabe explicar a
razão porque uns resistem, e até saem fortalecidos das agressões psicológicas
do cotidiano, e outros não.
Tecnicamente, a neurose
não é doença. É, sim, uma reação anormal, exagerada, do sistema nervoso, em
relação a uma experiência vivida (reação vivencial). É, pois, uma maneira de a
pessoa ser e de reagir à vida. Pode ser evitada mediante um comportamento
positivo, em que se cultive o bom-humor, a alegria, a esperança e a fé. O problema, na maioria das vezes, é de
natureza constitucional. Ou seja, o neurótico é mais sensível do que o normal a
determinadas situações ou acontecimentos. É como se tivesse alguma espécie de
alergia, só que, no caso, de caráter psicológico. Por isso, não se pode dizer
que a pessoa “está” neurótica, mas que “é” neurótica. Mesmo que não manifeste
essa reação, ela pode ser deflagrada a qualquer momento, face determinadas
situações. Há pessoas potencialmente sujeitas às neuroses e que, no entanto,
não as manifestam a vida toda. E há outras que convivem com esse desajuste
desde a infância e não se livram nunca dele.
A maneira exagerada de
reagir leva o indivíduo a adotar uma série de comportamentos que fogem da
normalidade. Evita, por exemplo, determinados lugares e recorre a certas
práticas para aliviar a ansiedade, entre outras tantas coisas inusitadas e, por
isso, anormais, que faz. O neurótico tem plena consciência do seu estado, mas,
muitas vezes, sente-se impotente para modificá-lo, o que só multiplica a sua
angústia, o seu desespero e o seu sofrimento.
Um dos principais tipos
de neurose é o chamado “Transtorno Fóbico-Ansioso”. Caracteriza-se pela
prevalência da fobia (medo exagerado de determinadas coisas ou situações),
entre outros sintomas de patológica ansiedade. As mais comuns são, entre
tantas, as de ficar só, as de trovoadas, as de contrair doenças e as de cometer
pecados. Os especialistas, contudo, já catalogaram mais de 700 fobias e
acreditam que existam mais de mil delas.
Outra forma de neurose
é o “Transtorno Ansioso”. Trata-se de uma ansiedade intensa e persistente, que
traz sérios e profundos reflexos orgânicos. Algumas pessoas podem ter, por
exemplo, sintomas cardiovasculares, como palpitações, sudorese ou opressão no
peito. Outras manifestam reações gastrointestinais, como náusea, vômito ou
vazio no estômago. Outras, ainda, sentem profundo mal-estar respiratório ou
predomínio de tensão muscular exagerada, tipo espasmo, torcicolo e lombalgia.
Como se vê, a sintomatologia é das mais variadas. Psicologicamente, a ansiedade
pode comprometer desde a atenção e a memória do paciente dessa espécie de
anomalia, até a sua capacidade de interpretação fiel da realidade.
A “Histeria”, por sua
vez, é um tipo de neurose que tem, como sintoma principal, a teatralidade, a
sugestionabilidade, a necessidade de atenção constante e a manipulação emocional
das pessoas que convivem ou que estejam ao redor do neurótico. O histérico pode
desmaiar, ficar paralítico, sem fala, trêmulo e desempenhar todo tipo de papel
de doente.
Já os “Transtornos do
Espectro Obsessivo-Compulsivo” têm, como principal reação, a incapacidade da
pessoa de controlar manias e rituais. Os pacientes dessa patologia, entre
outras coisas, não conseguem administrar pensamentos desagradáveis e absurdos.
Vivem num permanente terror de perigos que, na verdade, são, na maioria, apenas
imaginários. Finalmente, entre as neuroses mais comuns, está a “Distimia”, que
é a tendência a longos períodos de depressão, que levam o neurótico, não raro,
a perder até a vontade de viver e, em casos extremos, a cometer suicídio.
A psicóloga gaúcha, Ana
Maria Rossi, autora do livro “Visualização: o sucesso através dos olhos da
mente” (Editora Rosa dos Tempos) explica que o cérebro não distingue o real do
imaginário. Por isso, ter pensamentos e imagens positivos ajuda conseguir o que
se quer. E, se a pessoa for propensa às neuroses, esse comportamento ideal atua
como um poderoso, perfeito e eficaz antídoto, capaz de nos assegurar não só
absoluta saúde mental, mas, sobretudo, uma vida equilibrada, produtiva, sadia e
feliz. Daí eu insistir tanto, nestes nossos periódicos contatos, na necessidade
de nunca nos deixarmos levar pela tentação de pensar e, principalmente, de agir
com negativismo, com mau-humor e com pessimismo. Esse comportamento equivocado
não leva a nada, além de nos expor a riscos que não precisamos correr.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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