Revoltas
identificam curdos
Pedro J. Bondaczuk
Os curdos, no correr dos séculos, só foram lembrados
pelas várias rebeliões que protagonizaram ao longo da História, das quais sete
costumam ser mencionadas, por serem as mais conhecidas. Enfrentaram, indiferentemente,
persas, turcos, ingleses e iraquianos, sempre comandados por membros da tribo
dos jesidas, acerca da qual é preciso, oportunamente, fazer uma análise, por
causa das características peculiares e curiosas que possuem.
Em muitas oportunidades, esse povo foi vítima de
massacres. Em outras, foi instrumento utilizado para massacrar, dada a sua
conhecida belicosidade. E em outras, ainda, como no caso atual, acabou sendo
salvo pelo providencial (e interesseiro) socorro do Ocidente.
Em 1894, o sultão Abdul-Hamid II, do Império
Otomano, deu início a uma perversa política que pode ter servido de modelo ao
nazista Adolf Hitler para sua “solução final” para com os judeus. O monarca em
questão decidiu exterminar todos os povos não-muçulmanos que habitavam em seus
domínios. E concentrou sua particular atenção nos armênios, cuja religião é a
cristã.
Na ocasião, os curdos gozavam de considerável
autonomia, concentrados na província da Anatólia Oriental, da atual Turquia. Há
já alguns anos, viviam em relativa paz, praticando os seus costumes e
cultivando sua língua e tradições nacionais, sem que fossem muito incomodados.
Pois foram eles os “instrumentos” escolhidos por Hamid II para eliminar os
indefesos armênios.
Os massacres, metódicos e sistemáticos, iniciados em
1894 e que só tiveram fim por volta de 1917, começaram no interior do Império,
nas pequenas cidades e aldeias das montanhas e se estenderam aos grandes
centros. Em 30 de setembro de 1895, chegaram a Constantinopla. O genocídio era
praticado por unidades irregulares de curdos, tidos e havidos como excelentes e
tenazes guerreiros. Nos 23 anos que durou essa perversa ação, cerca de 300 mil
armênios foram fria e metodicamente assassinados, sem que ninguém fizesse algo
para impedir.
Por isso, até os dias atuais, os diplomatas turcos,
espalhados pelo mundo, gozam de proteção especial da parte de vários governos,
por terem suas vidas sob freqüente ameaça. Volta e meia, a imprensa noticia
algum atentado fatal contra algum deles. Tais atos terroristas, quase sempre,
têm sido atribuídos a nacionalistas da Armênia. Esse povo nunca perdoou a
tentativa otomana, tendo os curdos por instrumento, de elimina-lo da face da
Terra.
Como se vê, os que vivem no Curdistão iraquiano, a
despeito de toda a tragédia humana em que se constituiu sua recente fuga da ira
de Saddam Hussein, tiveram mais sorte do que suas vítimas do fim do século
passado. E mais do que seus irmãos que habitam na Turquia, onde até sua língua
nacional está proibida de ser falada.
O governo turco, até antes da guerra do Golfo
Pérsico, movia uma tenaz repressão contra essa etnia. Raramente as informações
a respeito chegaram a ganhar espaço sequer secundário na imprensa, quanto mais
manchetes. Tal destaque não era do interesse do Primeiro Mundo. Todavia, a animosidade
ainda existe e não foram poucos os incidentes ocorridos nos acampamentos
improvisados na fronteira da Turquia com o Iraque durante o recente êxodo de
abril passado.
(Artigo publicado na página 16, Internacional, do
Correio Popular, em 15 de maio de 1991)
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