Tuesday, January 03, 2017

Quinto lugar que valeu por dezenas de primeiras colocações

Pedro J. Bondaczuk

Há certos acontecimentos em nossas vidas que, quando ocorrem, não lhes damos o devido valor. Vibramos, caso se trate de algo positivo, mas apenas discretamente, para esquecê-los a seguir. Subestimamos suas conseqüências futuras, entendendo que ou elas serão mínims, quase imperceptíveis, ou que mesmo não haverá nenhuma. Nem sempre, porém, o resultado se esgota nesse sucesso original que julgamos tão pequeno, muito aquém de nossas expectativas. Curiosamente, tendemos a guardar na memória fracassos, mesmo que ínfimos e que não nos influenciam em nada na sequência de nossas vidas. Reagimos, pois, ao contrário do que fazemos em relação aos êxitos, mesmo os maiúsculos. É o “vício” que temos de manter posturas pessimistas. Por que? Não tenho explicação.

Cheguei a essa conclusão não apenas observando o que aconteceu a outras pessoas ao meu redor, mas analisando alguns sucessos meus aos quais subestimei quando ocorreram, classificando-os como relativos fracassos. Um desses casos foi minha participação no concurso “Minha crônica de Natal”, promovido pelo jornal Correio Popular de Campinas, em dezembro de 1967. Mais de uma centena de pessoas participaram da promoção. Minha colocação ficou muito aquém das minhas expectativas e de meu potencial de então. Fiquei em quinto lugar. Acima de mim ficaram, respectivamente: Ana Maria Coelho (Aniuska), a vencedora, além de Sillas L. Lordello Duarte (Borba Gato), Paulo Cesar Cavazin (Araucário de Noel) e Vera Helena Gobbo (Ravé). O tempo passou e nenhum desses participantes se tornou (salvo engano), nem jornalista e nem escritor, ao contrário do que ocorreu comigo. Isso, destaco, não os desmerece em nada, já que suas crônicas foram, de fato, melhores do que a minha, que ainda assim chamou a atenção dos promotores.

Na época, após um início promissor no jornalismo, em Santo André, cidade do ABC paulista, eu estava dando um tempo nessa profissão, tentando definir se era ou não era o que eu queria fazer na vida. Embora fazendo frilas para vários jornais, para “engordar” minha renda mensal, não era, na ocasião, funcionário de nenhum deles. Trabalhava, isso sim, como escriturário, na multinacional francesa Rhodia, à qual devo muito do que sou e que por isso lhe devoto eterna gratidão. Na época, sequer desconfiava que viria a fazer, anos depois, carreira jornalística justamente no Correio Popular, onde trabalharia por duas décadas, como editor de várias editorias, além de ser comentarista político e até cronista. Aquele quinto lugar de 1967 não foi, portanto, o fracasso que considerei na ocasião. Foi, isso sim, um grande êxito.

Como eu poderia prever que um dia seria colega de redação da jornalista que então me entrevistou e que publicou matéria de página inteira no jornal (na edição de 17 de dezembro de 1967), Célia Siqueira Farjallat, memorável ícone do jornalismo campineiro, que se manteve em plena atividade até os 96 anos de idade (faleceu em 2015 aos 97 anos)?! Não poderia! A partir da década de 90, além de tê-la como amiga e colega de redação, tive o prazer de vê-la eleita para a Academia Campinense de Letras, por sugestão minha. Só isso já seria suficiente para valorizar aquele quinto lugar no concurso. Mas as coisas não pararam por aí. Se alguém me dissesse na ocasião que eu iria fazer uma amizade sólida e duradoura com o presidente da comissão julgadora, o já então consagrado jornalista e escritor Maurício de Moraes, eu diria que esse alguém estava delirando. Porém... foi o que aconteceu.

Esse ilustre (e querido) intelectual se tornou praticamente um irmão para mim até a sua morte. Batalhou por minha eleição para a Academia Campinense de Letras, foi o autor do emocionante discurso de recepção quando da minha posse e, quando já aposentado, organizou e promoveu memorável conferência minha na Faculdade de Filosofia de Ouro Fino, sua cidade natal. Destaco que ali Maurício era (e sempre será) um mito. E esse evento foi, sem tirar e nem por, um dos mais marcantes sucessos da minha longa carreira jornalística que, felizmente, ainda não terminou. Mas, além de tudo isso, quis o acaso (ou quiseram as circunstâncias) que eu tivesse o privilégio e a honra de trabalhar por duas marcantes décadas no Correio Popular, empresa jornalística que organizou o tal concurso, em que julguei, na ocasião, ter fracassado, mas no qual, de fato, não fracassei. Bendito quinto lugar!!! Valeu mais, muito mais do que as primeiras colocações que obtive em outros tantos e tantos concursos literários, dezenas deles, de que participei nos anos posteriores!!! E como valeu!!!       


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