Quinto lugar que valeu
por dezenas de primeiras colocações
Pedro
J. Bondaczuk
Há certos
acontecimentos em nossas vidas que, quando ocorrem, não lhes damos o devido
valor. Vibramos, caso se trate de algo positivo, mas apenas discretamente, para
esquecê-los a seguir. Subestimamos suas conseqüências futuras, entendendo que
ou elas serão mínims, quase imperceptíveis, ou que mesmo não haverá nenhuma.
Nem sempre, porém, o resultado se esgota nesse sucesso original que julgamos
tão pequeno, muito aquém de nossas expectativas. Curiosamente, tendemos a
guardar na memória fracassos, mesmo que ínfimos e que não nos influenciam em
nada na sequência de nossas vidas. Reagimos, pois, ao contrário do que fazemos
em relação aos êxitos, mesmo os maiúsculos. É o “vício” que temos de manter
posturas pessimistas. Por que? Não tenho explicação.
Cheguei a essa
conclusão não apenas observando o que aconteceu a outras pessoas ao meu redor,
mas analisando alguns sucessos meus aos quais subestimei quando ocorreram,
classificando-os como relativos fracassos. Um desses casos foi minha
participação no concurso “Minha crônica de Natal”, promovido pelo jornal
Correio Popular de Campinas, em dezembro de 1967. Mais de uma centena de
pessoas participaram da promoção. Minha colocação ficou muito aquém das minhas
expectativas e de meu potencial de então. Fiquei em quinto lugar. Acima de mim
ficaram, respectivamente: Ana Maria Coelho (Aniuska), a vencedora, além de
Sillas L. Lordello Duarte (Borba Gato), Paulo Cesar Cavazin (Araucário de Noel)
e Vera Helena Gobbo (Ravé). O tempo passou e nenhum desses participantes se tornou
(salvo engano), nem jornalista e nem escritor, ao contrário do que ocorreu
comigo. Isso, destaco, não os desmerece em nada, já que suas crônicas foram, de
fato, melhores do que a minha, que ainda assim chamou a atenção dos promotores.
Na época, após um início
promissor no jornalismo, em Santo André, cidade do ABC paulista, eu estava
dando um tempo nessa profissão, tentando definir se era ou não era o que eu
queria fazer na vida. Embora fazendo frilas para vários jornais, para
“engordar” minha renda mensal, não era, na ocasião, funcionário de nenhum
deles. Trabalhava, isso sim, como escriturário, na multinacional francesa
Rhodia, à qual devo muito do que sou e que por isso lhe devoto eterna gratidão.
Na época, sequer desconfiava que viria a fazer, anos depois, carreira
jornalística justamente no Correio Popular, onde trabalharia por duas décadas,
como editor de várias editorias, além de ser comentarista político e até
cronista. Aquele quinto lugar de 1967 não foi, portanto, o fracasso que
considerei na ocasião. Foi, isso sim, um grande êxito.
Como eu poderia prever
que um dia seria colega de redação da jornalista que então me entrevistou e que
publicou matéria de página inteira no jornal (na edição de 17 de dezembro de
1967), Célia Siqueira Farjallat, memorável ícone do jornalismo campineiro, que
se manteve em plena atividade até os 96 anos de idade (faleceu em 2015 aos 97
anos)?! Não poderia! A partir da década de 90, além de tê-la como amiga e
colega de redação, tive o prazer de vê-la eleita para a Academia Campinense de
Letras, por sugestão minha. Só isso já seria suficiente para valorizar aquele
quinto lugar no concurso. Mas as coisas não pararam por aí. Se alguém me
dissesse na ocasião que eu iria fazer uma amizade sólida e duradoura com o
presidente da comissão julgadora, o já então consagrado jornalista e escritor
Maurício de Moraes, eu diria que esse alguém estava delirando. Porém... foi o
que aconteceu.
Esse ilustre (e
querido) intelectual se tornou praticamente um irmão para mim até a sua morte.
Batalhou por minha eleição para a Academia Campinense de Letras, foi o autor do
emocionante discurso de recepção quando da minha posse e, quando já aposentado,
organizou e promoveu memorável conferência minha na Faculdade de Filosofia de
Ouro Fino, sua cidade natal. Destaco que ali Maurício era (e sempre será) um
mito. E esse evento foi, sem tirar e nem por, um dos mais marcantes sucessos da
minha longa carreira jornalística que, felizmente, ainda não terminou. Mas,
além de tudo isso, quis o acaso (ou quiseram as circunstâncias) que eu tivesse
o privilégio e a honra de trabalhar por duas marcantes décadas no Correio
Popular, empresa jornalística que organizou o tal concurso, em que julguei, na
ocasião, ter fracassado, mas no qual, de fato, não fracassei. Bendito quinto
lugar!!! Valeu mais, muito mais do que as primeiras colocações que obtive em
outros tantos e tantos concursos literários, dezenas deles, de que participei
nos anos posteriores!!! E como valeu!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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