Pacificador ou Anticristo?
Pedro J. Bondaczuk
O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, experimentou,
ontem, em Bonn, mais uma vez, o lado agradável da “glasnost” e da
“perestroika”, ou seja, a enorme popularidade que goza fora do seu país. Na
URSS, no entanto, às voltas com uma máquina burocrática pesadona e ineficiente
e com a escassez de quase tudo (até sabonete está faltando por lá), sua
performance não chega a ser tão brilhante. Em parte também pelo preconceito que
os russos têm contra sua mulher, Raisa. Justamente uma das coisas que o tornam
mais “charmoso” junto aos meios de comunicação ocidentais.
Nos últimos tempos, a espetacular
recepção que o líder do Cremlin recebeu na capital germânica, com várias
gradações de entusiasmo, tem se repetido em todas as partes que ele vai. Foi
assim quando esteve nos Estados Unidos, por exemplo. Repetiu-se na
Grã-Bretanha, em Cuba, na Polônia. E culminou com a ovação que recebeu em
Pequim e em Xangai dos chineses.
No entanto, sua popularidade
confere-lhe uma responsabilidade dobrada. Ela é fruto da mensagem que Gorbachev
vem pregando desde que assumiu a liderança soviética. Das suas ações, tendentes
a liberalizar a vida do seu próprio povo, promover o desarmamento internacional
e procurar o entendimento mundial. Ou seja, permitir uma convivência civilizada
e até construtiva entre pessoas que pensam de maneiras diferentes.
Imagine, agora, o leitor se tudo
o que o presidente soviético vem prometendo não passar de mera retórica. Nós,
particularmente, temos prevenção contra líderes carismáticos. Em geral,
conforme a história dos povos registra, eles têm sido causas de grandes
tragédias. E Gorbachev tem carisma.
Ocorre que Adolf Hitler também
tinha. E o homem forte da China, Deng Xiaoping, também dispunha desse magnetismo,
desse poder de despertar confiança e comandar multidões. O “füherer” germânico
conduziu sua nação ao maior desastre de sua história, ensangüentando as suas
páginas e enchendo-as de terror e de maldade.
O dirigente chinês, por seu
turno, acaba de revelar-se um “ídolo com pés de barro”, após ter ordenado o
estúpido massacre da Praça da Paz Celestial. Por isso, temos prevenção contra
líderes carismáticos. O papel de liderança, em nível mundial, que Gorbachev vem
assumindo a cada dia que passa se torna mais decisivo. Ao final, ao contrário
de Hitler e de Deng, ele tem em suas mãos o poder de vida e de morte da
humanidade, mediante o monstruosamente dimensionado arsenal nuclear, capaz de,
sozinho, destruir cerca de 50 planetas do tamanho da Terra. Os Estados Unidos
possuem a outra metade. Seria ele o arauto da paz ou o temido “Anticristo” das
profecias de Nostradamus?
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 14
de junho de 1989).
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