Monday, January 16, 2017

Guerra está quebrando recordes


Pedro J. Bondaczuk


A guerra do Golfo Pérsico, em apenas 17 dias de duração, já apresenta uma série de recordes e detalhes escabrosos, que deverão alimentar os comentários políticos do mundo todo por muitos anos, cada qual buscando destacar as virtudes – como se na irracionalidade ela pudesse existir – do lado a que pertence e o barbarismo do adversário, que certamente irá ser carregado fortemente com as cores do exagero.

Sempre foi assim e agora não será diferente. A batalha de Bagdá, por exemplo, que deu início de fato ao conflito, foi a maior, de caráter aéreo, de toda a história. Em 17 dias de lutas, foram efetuados mais ataques com bombas contra várias cidades do Iraque do que nos derradeiros meses da Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha nazista.

O potencial de explosivos lançados equivale a cerca de 15 bombas atômicas como a que destruiu a cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945. Com tudo isso, as fontes ocidentais de informação querem passar ao mundo a impressão de que as forças multinacionais estão atingindo somente as tropas de um ditador, no caso Saddam Hussein, que teria cometido perversidades de toda a sorte no Kuwait ocupado, a quem classificam de simples “terrorista”.

Negam, de todas as formas, que tenham atacado indiscriminadamente civis inocentes (no Vietnã também negavam, assim como Hitler negava o Holocausto) vítimas indefesas da insensibilidade e estupidez dos políticos, que apregoam uma nova ordem mundial, mas mostram o quão horrível e escravizante ela pode ser.

Outro aspecto a destacar nesta guerra é a duríssima agressão à natureza propiciada por três imensos derramamentos de petróleo nas águas do Golfo Pérsico. A verdadeira responsabilidade – ou irresponsabilidade que seria o termo mais correto – por essa depredação da “espaçonave” Terra, jamais será apurada com exatidão.

Como confiar em informações manipuladas, em versões pré-fabricadas, em testemunhos carregados de meias verdades? O pior de tudo foi o fato do conflito acontecer num momento em que se buscava passar para a opinião pública internacional a impressão da iminência de um vasto período de paz e progresso para a humanidade.

Esta, todavia, continuará sendo uma impossibilidade enquanto o forte prosseguir invadindo e ocupando a casa do mais fraco. Enquanto o mais poderoso ainda se dispuser a assumir o papel de policial, cometendo crimes muito maiores do que aqueles que alega estar punindo. Enquanto a indústria da destruição seguir investindo US$ 1,3 trilhão em armamentos anualmente, privando de preciosos recursos dois terços da população do Planeta, que vivem à beira da fome. Esta, e somente esta,  é a face razoavelmente verídica da guerra, onde não há heroísmos, mas somente bestialidade levada ao seu grau mais elevado.

(Artigo publicado na página 22, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 3 de fevereiro de 1991).


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