Guerra está quebrando recordes
Pedro J. Bondaczuk
A guerra do Golfo Pérsico,
em apenas 17 dias de duração, já apresenta uma série de recordes e detalhes
escabrosos, que deverão alimentar os comentários políticos do mundo todo por
muitos anos, cada qual buscando destacar as virtudes – como se na
irracionalidade ela pudesse existir – do lado a que pertence e o barbarismo do
adversário, que certamente irá ser carregado fortemente com as cores do
exagero.
Sempre
foi assim e agora não será diferente. A batalha de Bagdá, por exemplo, que deu
início de fato ao conflito, foi a maior, de caráter aéreo, de toda a história.
Em 17 dias de lutas, foram efetuados mais ataques com bombas contra várias
cidades do Iraque do que nos derradeiros meses da Segunda Guerra Mundial contra
a Alemanha nazista.
O
potencial de explosivos lançados equivale a cerca de 15 bombas atômicas como a
que destruiu a cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945. Com tudo
isso, as fontes ocidentais de informação querem passar ao mundo a impressão de
que as forças multinacionais estão atingindo somente as tropas de um ditador,
no caso Saddam Hussein, que teria cometido perversidades de toda a sorte no
Kuwait ocupado, a quem classificam de simples “terrorista”.
Negam,
de todas as formas, que tenham atacado indiscriminadamente civis inocentes (no
Vietnã também negavam, assim como Hitler negava o Holocausto) vítimas indefesas
da insensibilidade e estupidez dos políticos, que apregoam uma nova ordem
mundial, mas mostram o quão horrível e escravizante ela pode ser.
Outro
aspecto a destacar nesta guerra é a duríssima agressão à natureza propiciada
por três imensos derramamentos de petróleo nas águas do Golfo Pérsico. A
verdadeira responsabilidade – ou irresponsabilidade que seria o termo mais
correto – por essa depredação da “espaçonave” Terra, jamais será apurada com
exatidão.
Como
confiar em informações manipuladas, em versões pré-fabricadas, em testemunhos
carregados de meias verdades? O pior de tudo foi o fato do conflito acontecer
num momento em que se buscava passar para a opinião pública internacional a
impressão da iminência de um vasto período de paz e progresso para a
humanidade.
Esta,
todavia, continuará sendo uma impossibilidade enquanto o forte prosseguir
invadindo e ocupando a casa do mais fraco. Enquanto o mais poderoso ainda se
dispuser a assumir o papel de policial, cometendo crimes muito maiores do que
aqueles que alega estar punindo. Enquanto a indústria da destruição seguir
investindo US$ 1,3 trilhão em armamentos anualmente, privando de preciosos
recursos dois terços da população do Planeta, que vivem à beira da fome. Esta,
e somente esta, é a face razoavelmente
verídica da guerra, onde não há heroísmos, mas somente bestialidade levada ao
seu grau mais elevado.
(Artigo
publicado na página 22, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 3 de
fevereiro de 1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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