Mandatos sem mácula
Pedro J. Bondaczuk
A Justiça Eleitoral agiu de
forma correta, ao anular as eleições proporcionais do dia 3 passado, no Rio,
por causa das fraudes constatadas durante a apuração e determinar nova votação
para 15 de novembro próximo, junto com o segundo turno para o governo do
Estado.
É
certo que aqueles que conquistaram um mandato nas urnas de forma limpa – ou
para a Câmara Federal ou para a Assembléia Legislativa – vão ser prejudicados.
Nada garante que consigam a mesma votação que haviam obtido. Mas o processo
fraudulento foi tão extenso, que é impossível identificar todos os que foram
beneficiados por ele.
Concordamos,
portanto, com o editorial do jornal “O Estado de São Paulo” de sexta-feira
passada, quando diz que a nova eleição terá o mérito de permitir que os eleitos
assumam suas cadeiras de cabeça erguida, sem que sobre eles pese a mínima
sombra de suspeição.
Os
que perderem o mandato que eventualmente já haviam conquistado, paciência. Vão
se constituir nas grandes vítimas da vigarista grega Maria Stavrinou, a líder
da quadrilha de fraudadores (ou talvez testa-de-ferro de algum bandido muito
conhecido e que permanece na sombra, manipulando os cordéis da corrupção).
Muitos dos prejudicados, certamente, irão recorrer à Justiça, e com pleno
direito. Mas o que fazer, nessas circunstâncias, senão anular as eleições?
Claro
que ninguém garante que a votação de 15 de novembro estará a salvo de novas
manipulações, vendas de votos e outras canalhices do gênero, como as praticadas
na anterior. Por uma falha imperdoável da legislação, que já criticamos em
outras oportunidades por suas inúmeras deficiências, candidatos envolvidos em
crimes, eleitorais ou não – um deles preso em flagrante e que está na cadeia –
vão poder concorrer de novo. Compete aos eleitores a correção da lei, dando ao
bandido o tratamento de repúdio que eles merecem.
Nas
horas em que se torna necessário, o povo mostra que sabe votar. Por exemplo,
dos 18 citados no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou
o escândalo da manipulação do Orçamento da União, nenhum foi reeleito.
Pelo
menos metade desse grupo teve a suprema “cara-de-pau” de se candidatar e pedir
o voto dos cidadãos, inclusive por rádio e televisão, no horário eleitoral
gratuito, no recesso do nosso lar. Contudo, esses deputados (e um senador) que
não souberam honrar seus mandatos e venderam, como Judas, os que neles
confiaram por “30 moedas” (aliás, apenas figurativamente, pois devem ter
ganhado, na verdade, rios de dólares),
estarão fora da vida pública pelos quatro próximos anos pelo menos.
Pode
ser até que voltem a se eleger algum dia. O brasileiro costuma ser generoso com
os que erram e acaba perdoando a muitos. Neste caso, no entanto, e no das
fraudes do Rio, é preciso que não aja assim. Quem se corrompeu uma vez, é
provável que o faça duas, dez, cem, mil ou mais vezes.
Mostrou
que não possui caráter e não é digno de confiança. O que é preciso, acima de
tudo, é que a polícia e a justiça aprofundem as investigações e identifiquem e
punam todos os culpados (sejam quais forem) desta bandalheira eleitoral, que
não pode ser repetida e nem copiada, pelo bem da ética e da democracia.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de outubro de 1994).
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