A poesia não morrerá
jamais
Pedro
J. Bondaczuk
“A poesia está
morrendo”. Ouvi uma infinidade de vezes esta tola e inverídica afirmação, que
me irrita profundamente sempre que a ouço. E ouço isso com uma freqüência
absurda, entre tantas tolices que são ditas por aí, por pessoas que até se
consideram sábias, no mínimo eruditas. É verdade que é melhor ouvir essa
baboseira toda do que ser surdo. Ganhasse um real a cada vez que já ouvi essa
bobagem, dita, muitas vezes com ares professorais, e estaria, sem qualquer
exagero, multimilionário. Poetas magníficos, de todos os países e épocas sim
morreram. E morrem a todo o instante. É a lei da vida. Afinal, não há nada mais
democrático e certo do que a morte. Ninguém, absolutamente ninguém escapa dessa
fatalidade. O que está morrendo não é a poesia, é um modelo fracassado de
civilização. É um planeta singular e acolhedor que nós, humanos, estamos
matando, com a nossa estupidez. São sonhos e mais sonhos, até fáceis de
concretizar, que viram pó em conseqüência do nosso medo (ou preguiça. ou seja
lá o que for) de lutar por eles.
Desanimamos com
espantosa facilidade e, invariavelmente, culpamos terceiros por nossa inércia,
raiz de nossos fracassos. Possivelmente, os que “decretam” com tamanha
arrogância a morte da poesia queiram se referir ao fato dos poetas terem cada vez
menos espaço no mercado editorial. Nisso sim estão certos. Ou quase. Onde,
contudo, a novidade? Isso sempre foi assim. Aliás, em passado, não muito
distante, as coisas eram muito piores. Os poetas recorriam aos jornais, para
mostrar suas composições. Machado de Assis chegou a ironizar, em determinada
crônica, o implacável assédio feito por eles às redações dos principais
periódicos do seu tempo. E não havia à disposição desses autores os blogs,
recurso atualmente bastante explorado por quem lida com poesia. Aliás, a
existência da internet não passava pela cabeça nem do mais exagerado, do mais
delirante, do mais crédulo (e louco?) dos sonhadores.
Engana-se o leitor que
acha que os livros de poetas consagrados, como Carlos Drummond de Andrade,
Manuel Bandeira, Mário Quintana, Vinícius de Moraes etc.etc.etc. tinham os
originais disputados a tapa pelos editores. Nada disso! Eles tinham que ralar,
e muito para conseguir espaço. Nem sempre e nem todos conseguiam. E várias das
publicações deles, hoje clássicos da literatura brasileira, levavam anos para
esgotar reles edição de um mil exemplares. Um amigo meu, que teve oportunidade
de conviver com Drummond, contou-me que o poeta de Itabira se queixou com ele,
em certa ocasião, que um de seus livros (não lembro qual) vendeu não mais que
cinqüenta exemplares no primeiro ano de lançamento. Hoje... é disputado a peso
de ouro pelos leitores. Mas na ocasião do lançamento, e nos cinco anos
posteriores (tempo que levou para esgotar uma edição) ameaçava se tornar um
baita encalhe editorial. E estou me referindo a Drummond. Imaginem o que
ocorria (e ainda ocorre) com poetas digamos “menores”, não tão conhecidos (e
nem me refiro aos desconhecidos)!!!
Volta e meia sou
cobrado, inclusive publicamente, para lançar um livro meu de poesias (tenho
três prontinhos, à disposição de quem queira encarar essa aventura, esse risco
comercial). Informo, aos que me cobram, que tentei fazer isso e em mais de uma
oportunidade. Em todas... me frustrei. Literalmente, “bateram-me com a porta na
cara”. Até que, no fim das contas, desanimei. E olhem que sou teimoso pra
chuchu, desses sujeitos tinhosos que esgotam todas as possibilidades, por
remotas que sejam. Ocorre que não tenho todo o tempo do mundo ao meu dispor
para correr atrás. Ciente que não sou nenhum Drummond, ou Quintana, ou
Vinícius, ou Bandeira, para citar apenas quatro “monstros sagrados da poesia”,
resolvi deixar de lado essa minha teimosia. Cheguei a cogitar, até, em
simplesmente destruir todos os poemas que compus e nunca mais pensar nisso.
Em julho deste ano, um
amigo do Facebook sugeriu-me que postasse minha produção nessa rede social.
Relutei. Afinal, são poemas bem antigos, alguns com mais de cinqüenta anos que,
possivelmente, seriam ignorados pelos leitores da presente geração. Contudo,
ante a insistência dessa pessoa, que prefiro não identificar, acedi, posto que
com relutância. Desde então, venho postando, diariamente, esses poemas, com
aceitação até razoável. É verdade que as “curtidas” são poucas e os comentários
mais raros ainda. Já cogitei desistir de vez dessa exposição. Mas daí me
lembrei que também “curto” pouca coisa do que leio, embora aprecie tantos e
tantos textos, que leio com atenção e deleite. E deixo de fazer isso não por
arrogância (como muitos chegaram a me acusar), mas por pura “distração”.
Suponho que o mesmo ocorra com muitos, que elogiam meus poemas por vários
veículos, sobretudo por e-mails e outros meios tradicionais, mas que nunca
“curtiram” nenhum deles.
Essa queixa da falta de
comentários às obras divulgadas e a impressão (que se transforma em certeza,
porém enganadora) não é nova e muito menos exclusivamente minha. Querem um
exemplo? Pablo Neruda, hoje praticamente unanimidade entre os amantes da
poesia, ganhador de um Prêmio Nobel de Literatura, fez, antes de morrer, este
pungente desabafo: “Fui o mais abandonado dos poetas e minha poesia foi
regional, dolorosa e chuvosa. Mas sempre tive confiança no homem. Não perdi
jamais a esperança”. Estava errado, claro, em ser considerar absolutamente
abandonado, o que nunca foi, como eu
espero estar equivocado em relação à aceitação da minha produção poética.
Quanto à propalada “morte da poesia” tenho uma infinidade de argumentos para
provar o contrário, que me proponho a expor oportunamente. Essa pioneira da comunicação
está longe, muito distante, de estar moribunda, à beira da extinção. Até
porque, como afirmou o diretor cinematográfico norte-americano Paul Schrader,
“a arte é sempre maior que a vida”. Sobrevive a quem a pratica. Por isso, tenho
absoluta convicção que a poesia não morrerá jamais!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment