Pacifismo exige coragem
Pedro J. Bondaczuk
O repúdio contra a guerra
do Golfo Pérsico cresce à medida em que a metódica destruição do Iraque
prossegue e que seu presidente, Saddam Hussein, numa atitude de fatalismo
suicida, não dá a mínima indicação de que possa retirar seus soldados do Kuwait
ocupado.
É
claro que as palavras de bom senso dos pacifistas não ganham espaço na mídia.
Afinal, o produto que eles têm a vender não é palpável, embora seja o mais raro
e precioso que existe para a humanidade: a paz. Suas advertências sobre as
conseqüências políticas, econômicas, ambientais e sociais da confrontação
bélica só serão ouvidas dentro de alguns anos, quando não for possível se fazer
muita coisa para minorar o sofrimento que a insensatez de hoje está provocando.
Esse
pessoal incompreendido, geralmente reprimido, não tem, por exemplo, armamentos
sofisticados para demonstrar num campo de batalha, equipamento da indústria da
morte que excita a imaginação de estúpidos ditadores, que certamente o
adquirirá em grande número dentro em breve, às custas da miséria de seus povos.
As
palavras dos pacifistas sempre foram incômodas para os que têm sede do poder
pelo poder. Para os generais truculentos, como Saddam Hussein, que sacrificam
toda uma geração de seus melhores jovens em busca de uma miragem, de um reflexo
de grandeza que não possuem. Para políticos compromissados até o pescoço com os
grandes cartéis petrolíferos, que financiam suas campanhas e aos quais
retribuem com diligência, mesmo que em detrimento dos que os elegeram.
Para
estes, a guerra é um jogo heróico, para “homens”, desde que não sejam eles e
seus filhos. Não é o desfile de horrores e de bestialidade que os inocentes
atingidos por ela testemunham. Não é o exercício estúpido de matar, destruir, aterrorizar,
torturar, etc., etc., etc.
Sequer
têm sangue, como vem sendo tentado mostrar em fotografias e imagens de
televisão, rigorosamente expurgadas de corpos mutilados e de pilhas de
cadáveres espalhadas por cidades onde há apenas três semanas havia risos,
lágrimas, esforços, ambições, alegrias e tristezas. Onde existia vida.
Ser
pacifista, todavia, não é estar revestido de covardia, de falta de espírito de
luta, de ausência de heroísmo, como se busca dar a entender. Muito pelo
contrário. É ter visão para enxergar muito à frente dos demais. É ter coragem
de dar nome correto às coisas e desmascarar o mal travestido de falso
idealismo. É entender que cada ser humano é um universo, por ser único e sem
cópia, e que ninguém tem o direito, a pretexto do que quer que seja, de jogar
com vidas alheias como se elas não passassem de peças de um tabuleiro de
xadrez. O mais é engodo, fruto de retórica cínica dos que ainda acham que todos
os meios justificam os fins.
(Artigo
publicado na página 12, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 7 de
fevereiro de 1991).
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