A
culpa é do termômetro
Pedro J. Bondaczuk
O escritor Albert Camus escreveu numa de suas obras
que, “quando a imprensa é livre, isto pode ser bom ou mau. Mas, certamente, sem
liberdade, a imprensa só pode ser má. Para a imprensa, como para os homens, o
que a liberdade oferece é a chance de sermos melhores. A servidão, ao
contrário, é apenas a certeza de que seremos piores”.
Os órgãos de comunicação e, em especial, os jornais,
propõem-se a ser a consciência da cidadania, o retrato fiel de uma sociedade, o
reflexo do que ela é e do que pensa. Tentar cercear sua liberdade, por qualquer
meio ou razão, é buscar distorcer a realidade, apostar na mentira, tornar a
imprensa má, porque mutilada e desvinculada do seu papel.
A medida cautelar que forçou a paralisação do
“Disque-Moreira”, iniciativa do “Correio Popular” destinada a colher opiniões
de leitores sobre a atuação do representante da região na Câmara Federal, é uma
espécie de censura, na medida em que impede a livre expressão do pensamento.
Lendo as manifestações dos campineiros, publicadas
enquanto estava aberto este espaço ao público, não se vê nada que pelo menos se
aproxime da calúnia, do achincalhe ou da ofensa pessoal. A ira do povo esteve,
o tempo todo, voltada contra as ações do deputado e não contra a sua pessoa.
Não houve denúncias gratuitas e nem insinuações maldosas.
O ato de calar a voz da cidadania equivaleu a culpar
o termômetro em virtude da febre estar alta o que, convenhamos, não é uma
atitude muito sensata.
Já o velho filósofo chinês, Lao-Tse, que viveu entre
os anos de 1027 e 256 aC, durante a Dinastia Chou e foi contemporâneo de
Confúcio e Meng-Tsu, alertava: “Se o governo é sem retidão, se converte em erro
e o bem, em perversidade”. E, convenhamos, após os dois últimos grandes
escândalos, envolvendo dois dos poderes da República – o de tráfico de
influência do ex-presidente Fernando Collor e o atual esquema de manipulação do
Orçamento da União, com a prática de “pilantropia” (de pilantragem) explícita –
o exemplo que vem de Brasília não é dos mais edificantes.
Seria caso, então, de se culpar o espelho se a
imagem que ele está refletindo é feia? Erradas são as opiniões ou os atos que
elas condenam? O termômetro seria culpado pela febre alta ou o vírus da
corrupção é que debilita o organismo nacional?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 11 de novembro de 1993)
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