Malha
fina demais neste ano
Pedro J. Bondaczuk
A Secretaria da Receita Federal informou que pelo
menos 100 mil contribuintes caíram, no corrente ano, na chamada malha fina, a
maioria por erros de preenchimento no formulário de ajustes do Imposto de Renda
de Pessoa Física. Quem fez o fantástico exercício de preencher a referida
relação sabe pelo que passou.
Nunca, desde a popularização dessa tarefa anual, o
cidadão enfrentou tamanha dificuldade para cumprir esse dever de cidadania
quanto agora, em 1990. Por essa razão, a quantidade de incorreções (se o número
de peneirados for, realmente, de 100 mil), até que não é elevada. Poderia ter
sido muito maior, dada a sua complexidade, inacessível para parte expressiva do
brasileiro de conhecimento mediano.
Até mesmo algumas autoridades confessaram
publicamente terem encontrado enormes dificuldades para o preenchimento do
formulário. E elas, certamente, contam com volumosas e abalizadas assessorias.
Imagine-se o nó dado na cabeça do cidadão comum, que não conta com tal
facilidade, colhido de surpresa não apenas pela maior voracidade do “leão”, que
fez mais estragos do que nunca nos seus cada vez mais minguados ganhos, mas, e
principalmente, com esse autêntico exercício de criptografia.
Seria muito mais prático, e inclusive econômico, que
o processo fosse simplificado. Isto evitaria, em primeiro lugar, o incômodo do
contribuinte ter que ser chamado à Secretaria da Receita Federal para dar
explicações de seu erro, tendo, em geral, contra ele, a suspeita, tão comum entre
nós, da sonegação, por um simples erro de cálculo, previsível estatisticamente,
diante da grande quantidade de contas que foram exigidas neste ano. Todos
acabam saindo prejudicados com isso.
A SRF, que deixa de contar com o valor exato do
tributo que lhe compete receber; o governo, que precisa dispor de mais
funcionários para atender o imenso contingente dos que não conseguiram passar
na malha fina (num período de austeridade e de redução do quadro funcional) e,
evidentemente, o cidadão, apanhado em falta, que além de ficar muitas vezes sem
dormir por causa disso, ainda terá que perder um tempo enorme para consertar o
equívoco.
Espera-se que para 1991 haja maior funcionalidade na
elaboração do formulário. Excessos de zelo não se caracterizam, jamais, como
virtudes, já que costumam ser mais dispendiosos do que quando há uma dose
normal dele, e, portanto, pouco inteligentes, quando o que se procura é,
sobretudo, o caminho da racionalidade, com a eliminação de dispendiosos e pouco
eficazes procedimentos burocráticos.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 23 de agosto de 1990)
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