Monday, January 23, 2017

Sete mudanças em três anos


Pedro J. Bondaczuk


A demissão do ministro do Planejamento, Anibal Teixeira, ocorrida anteontem, em meio a um princípio de escândalo, denúncias e contra denúncias de corrupção, ensejou a nomeação do sétimo titular das duas principais pastas econômicas nos três anos de governo do presidente José Sarney.

A escolha, desta feita, a exemplo do que já havia ocorrido no Ministério da Fazenda, recaiu sobre um tecnocrata, um profissional de carreira, afastado, portanto, da arena política. Trata-se de João Batista de Abreu, que a despeito de ser bastante jovem (tem 44 anos de idade), possui vasta experiência, tendo assessorado Mário Henrique Simonsen, Francisco Dornelles e mais recentemente Dilson Funaro, além de pertencer ao “staff” do governador mineiro Newton Cardoso.

Tantas mudanças nas pastas do Planejamento e da Fazenda deixam entrever que o atual governo, na verdade, em momento algum teve uma política econômica definitiva. Atuou, via de regra, de maneira empírica, ao sabor dos acontecimentos.

Cada pessoa que assumiu uma dessas funções levou para lá suas próprias idéias e métodos, muito distantes da estratégia do saudoso presidente Tancredo Neves, que antes de assumir (o que a fatalidade não permitiu que jamais o fizesse) nomeou uma comissão para fazer um diagnóstico da economia nacional e traçar um programa capaz de eliminar o desemprego, conter a inflação e equacionar a questão da dívida externa, sem demasiado sacrifício para a sofrida população, mas também sem implicar numa ruptura formal com o sistema financeiro internacional.

O que se viu nesta gestão, no entanto, foi uma série de “magos das finanças” fazendo laboratório às nossas custas, numa sucessão de choques, pacotes e decisões de endoidecer qualquer um. E de prático mesmo, essas “experiências” só conseguiram com que a inflação batesse recordes acima de recordes, culminando com a taxa de junho do ano passado (a que valeu, para efeito de estatística) ao redor dos 30% e um acumulado anual na “estratosfera” dos 365,9%.

O Ministério da Fazenda, que começou sendo comandado por Francisco Dornelles, teve ainda Dilson Funaro, Luís Carlos Bresser Pereira e finalmente o atual titular, Mailson da Nóbrega.

Já o Planejamento revelou maior estabilidade, com João Sayad conseguindo permanecer no posto por dois anos. Sua saída até hoje não foi entendida pela sociedade e teria sido motivada pela não aprovação do novo “choque” que ele bolou para “anestesiar” a inflação, que ao final das contas acabou sendo aproveitado quase integralmente.

O “Plano Bresser” foi virtualmente seu, com uma modificação ou outra, mais de forma do que de substância. Aníbal Teixeira, a bem da verdade, nem chegou a aparecer à frente da pasta, já bastante esvaziada com a perda de várias secretarias, incorporadas à Fazenda. Muita gente sequer sabia que ele era o ministro, até vir a público o recente escândalo em que ele esteve envolvido e que as autoridades prometem apurar.

A ascensão de João Batista de Abreu à Seplan pode ser positiva num ponto: ele trabalhou por muito tempo com Mailson da Nóbrega, de quem é amigo pessoal. Quem sabe, agora, termine, afinal, o “vedetismo” que existia entre os titulares passados da Fazenda e do Planejamento, cada um querendo aparecer mais do que o outro na formulação de autênticas “experiências”, tendo o País e todos nós por laboratório e respectivo instrumental. Já está na hora de se deixar de lado brincadeiras de mau gosto e se começar a trabalhar.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de janeiro de 1988).


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