Sete mudanças em três anos
Pedro J. Bondaczuk
A demissão do ministro do
Planejamento, Anibal Teixeira, ocorrida anteontem, em meio a um princípio de
escândalo, denúncias e contra denúncias de corrupção, ensejou a nomeação do
sétimo titular das duas principais pastas econômicas nos três anos de governo
do presidente José Sarney.
A
escolha, desta feita, a exemplo do que já havia ocorrido no Ministério da
Fazenda, recaiu sobre um tecnocrata, um profissional de carreira, afastado,
portanto, da arena política. Trata-se de João Batista de Abreu, que a despeito
de ser bastante jovem (tem 44 anos de idade), possui vasta experiência, tendo
assessorado Mário Henrique Simonsen, Francisco Dornelles e mais recentemente
Dilson Funaro, além de pertencer ao “staff” do governador mineiro Newton
Cardoso.
Tantas
mudanças nas pastas do Planejamento e da Fazenda deixam entrever que o atual
governo, na verdade, em momento algum teve uma política econômica definitiva.
Atuou, via de regra, de maneira empírica, ao sabor dos acontecimentos.
Cada
pessoa que assumiu uma dessas funções levou para lá suas próprias idéias e
métodos, muito distantes da estratégia do saudoso presidente Tancredo Neves,
que antes de assumir (o que a fatalidade não permitiu que jamais o fizesse)
nomeou uma comissão para fazer um diagnóstico da economia nacional e traçar um
programa capaz de eliminar o desemprego, conter a inflação e equacionar a
questão da dívida externa, sem demasiado sacrifício para a sofrida população,
mas também sem implicar numa ruptura formal com o sistema financeiro
internacional.
O
que se viu nesta gestão, no entanto, foi uma série de “magos das finanças”
fazendo laboratório às nossas custas, numa sucessão de choques, pacotes e
decisões de endoidecer qualquer um. E de prático mesmo, essas “experiências” só
conseguiram com que a inflação batesse recordes acima de recordes, culminando
com a taxa de junho do ano passado (a que valeu, para efeito de estatística) ao
redor dos 30% e um acumulado anual na “estratosfera” dos 365,9%.
O
Ministério da Fazenda, que começou sendo comandado por Francisco Dornelles,
teve ainda Dilson Funaro, Luís Carlos Bresser Pereira e finalmente o atual
titular, Mailson da Nóbrega.
Já
o Planejamento revelou maior estabilidade, com João Sayad conseguindo permanecer
no posto por dois anos. Sua saída até hoje não foi entendida pela sociedade e
teria sido motivada pela não aprovação do novo “choque” que ele bolou para
“anestesiar” a inflação, que ao final das contas acabou sendo aproveitado quase
integralmente.
O “Plano
Bresser” foi virtualmente seu, com uma modificação ou outra, mais de forma do
que de substância. Aníbal Teixeira, a bem da verdade, nem chegou a aparecer à
frente da pasta, já bastante esvaziada com a perda de várias secretarias,
incorporadas à Fazenda. Muita gente sequer sabia que ele era o ministro, até
vir a público o recente escândalo em que ele esteve envolvido e que as
autoridades prometem apurar.
A
ascensão de João Batista de Abreu à Seplan pode ser positiva num ponto: ele
trabalhou por muito tempo com Mailson da Nóbrega, de quem é amigo pessoal. Quem
sabe, agora, termine, afinal, o “vedetismo” que existia entre os titulares
passados da Fazenda e do Planejamento, cada um querendo aparecer mais do que o
outro na formulação de autênticas “experiências”, tendo o País e todos nós por
laboratório e respectivo instrumental. Já está na hora de se deixar de lado
brincadeiras de mau gosto e se começar a trabalhar.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de janeiro de 1988).
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