Thursday, January 05, 2017

Derrota que poderia ter sido evitada


Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano, George Bush, poderia ter evitado sua primeira derrota política na presidência, no confronto com o Legislativo dominado pelos democratas, ocorrida na semana passada, se não tivesse teimado na indicação do ex-senador John Tower para a Secretaria de Defesa.

Desde quando anunciou essa escolha, vários analistas já previam dificuldades, em virtude da má reputação do indicado. Quando veio a público, então, a denúncia de que o escolhido seria alcoólatra (embora isso não ficasse totalmente demonstrado), a coisa piorou.

Seria o momento oportuno para o presidente mudar de opinião e fazer outra nomeação, menos polêmica e mais segura. Não fez, certamente, por um erro de avaliação, que não fica bem a um líder do seu porte e com suas responsabilidades. E acabou, conforme o esperado, se dando mal.

Certamente Bush pensou que ocorreria com Tower o mesmo que aconteceu com o seu vice-presidente, Dan Quayle. Mas as circunstâncias das indicações desse jovem político para um cargo meramente cerimonial e do veterano ex-senador, para uma função chave na Casa Branca, foram completamente diferentes.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos tem sob sua responsabilidade o comando da mais poderosa e mortífera máquina de guerra jamais erigida pelos homens. Por isso, deve ser um cidadão à prova de qualquer reproche. Tentar impingir à opinião pública um nome de alguém marcado pela suspeita de ser alcoólatra, (portanto, pouco confiável) para um posto dessa natureza, é querer mesmo ser derrotado.

Muitos republicanos atribuíram a rejeição de veterano político a uma possível birra partidária por parte dos democratas. Mas, tanto o motivo não foi este, que Richard Cheney acabou sendo confirmado para o Pentágono por unanimidade de votos, somente poucos dias depois do veto a John Tower.

Parlamentar por parlamentar, os dois o são. Ambos também têm uma vasta experiência e  um  grande conhecimento em temas de defesa. A diferença está no conceito público. Houvesse  “esprit-du-corp” entre os senadores, o ex-integrante dessa Casa seria o escolhido. Eles, contudo, partiram para o lado do bom senso.

O que causa admiração no observador é o fato do equívoco da escolha do primeiro secretário de Defesa (o que foi rejeitado) ter partido de um político com tamanha experiência como é o presidente George Bush. Afinal, ele ocupou praticamente quase todos os postos importantes da vida pública norte-americana, culminando com a Presidência.

Aliás, essa fraqueza, essa falibilidade, essa possibilidade de errar, por mais paradoxal que pareça, pode tornar o presidente até mais confiável aos olhos do cidadão comum. Não há aquele que não tema, principalmente em se tratando do ocupante da Presidência, os que se arrogam em “sabe tudo”, revestidos de uma infalibilidade que na verdade não possuem.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 18 de março de 1989).


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