Derrota que poderia ter sido evitada
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente norte-americano, George Bush, poderia ter
evitado sua primeira derrota política na presidência, no confronto com o
Legislativo dominado pelos democratas, ocorrida na semana passada, se não
tivesse teimado na indicação do ex-senador John Tower para a Secretaria de
Defesa.
Desde quando anunciou essa
escolha, vários analistas já previam dificuldades, em virtude da má reputação
do indicado. Quando veio a público, então, a denúncia de que o escolhido seria
alcoólatra (embora isso não ficasse totalmente demonstrado), a coisa piorou.
Seria o momento oportuno para o
presidente mudar de opinião e fazer outra nomeação, menos polêmica e mais
segura. Não fez, certamente, por um erro de avaliação, que não fica bem a um
líder do seu porte e com suas responsabilidades. E acabou, conforme o esperado,
se dando mal.
Certamente Bush pensou que
ocorreria com Tower o mesmo que aconteceu com o seu vice-presidente, Dan
Quayle. Mas as circunstâncias das indicações desse jovem político para um cargo
meramente cerimonial e do veterano ex-senador, para uma função chave na Casa
Branca, foram completamente diferentes.
O secretário de Defesa dos
Estados Unidos tem sob sua responsabilidade o comando da mais poderosa e
mortífera máquina de guerra jamais erigida pelos homens. Por isso, deve ser um
cidadão à prova de qualquer reproche. Tentar impingir à opinião pública um nome
de alguém marcado pela suspeita de ser alcoólatra, (portanto, pouco confiável)
para um posto dessa natureza, é querer mesmo ser derrotado.
Muitos republicanos atribuíram a
rejeição de veterano político a uma possível birra partidária por parte dos
democratas. Mas, tanto o motivo não foi este, que Richard Cheney acabou sendo
confirmado para o Pentágono por unanimidade de votos, somente poucos dias
depois do veto a John Tower.
Parlamentar por parlamentar, os
dois o são. Ambos também têm uma vasta experiência e um
grande conhecimento em temas de defesa. A diferença está no conceito
público. Houvesse “esprit-du-corp” entre
os senadores, o ex-integrante dessa Casa seria o escolhido. Eles, contudo,
partiram para o lado do bom senso.
O que causa admiração no
observador é o fato do equívoco da escolha do primeiro secretário de Defesa (o
que foi rejeitado) ter partido de um político com tamanha experiência como é o
presidente George Bush. Afinal, ele ocupou praticamente quase todos os postos
importantes da vida pública norte-americana, culminando com a Presidência.
Aliás, essa fraqueza, essa
falibilidade, essa possibilidade de errar, por mais paradoxal que pareça, pode
tornar o presidente até mais confiável aos olhos do cidadão comum. Não há
aquele que não tema, principalmente em se tratando do ocupante da Presidência,
os que se arrogam em “sabe tudo”, revestidos de uma infalibilidade que na
verdade não possuem.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 18
de março de 1989).
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