Perestroika
sustenta-se em 3 pilares
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, ao lançar seu projeto reformista,
instituiu três pilares de sustentação para suas idéias: pôs, como objetivo, a
revitalização do socialismo; como instrumento das mudanças, um Partido
Comunista modificado e expurgado de corrupções e de corruptos e a democracia
como meio de ação.
Todavia,
não colocou nada disso como dogmas. Expressou, na introdução do livro
"Perestroika, Novas Idéias para o Meu País e o Mundo": "Gostaria
que ficasse claro que, embora o povo soviético seja a favor do socialismo --- e
expliquei antes o porquê --- nós não estamos impondo nossos pontos de vista a
ninguém. Cada um deve fazer sua própria escolha e a História o colocará em seu
lugar".
Gorbachev,
mais adiante, explica a razão de pretender revitalizar o socialismo, ao invés
de substituí-lo simplesmente pelo capitalismo da forma como este é praticado na
Europa Ocidental. Escreveu: "Atualmente, como disse a um grupo de figuras
públicas americanas (Cyrus Vance, Henry Kissinger e outros), sentimos
claramente, como nunca antes, que, devido ao sistema socialista e à economia
planejada, as mudanças em nossa política estrutural surgem muito mais
facilmente do que se estivéssemos em regime de iniciativa privada, ainda que
tenhamos nossas próprias dificuldades. Queremos mais socialismo e, por isso,
mais democracia".
Mas,
isto seria possível? Utilizando a "ferramenta" a que o presidente
soviético se propôs, ou seja, o Partido Comunista, não! A menos que haja o
pluripartidarismo e eleições absolutamente limpas e sem cartas marcadas na
União Soviética. A não ser que o eleitorado, livre e soberanamente, opte nas
urnas pelo PC e que este aceite uma competição em pé de igualdade, baseada em
princípios e idéias, com facções oposicionistas.
A
própria palavra democracia tem se revestido de extrema ambigüidade através dos
tempos. Qual o seu significado? Cada povo lhe atribui um próprio. Nenhum regime
comunista do Leste europeu, mesmo as mais rígidas ditaduras, jamais admitiu que
não fosse democrático. Tanto é que a totalidade dos países dessa região trazia
grafada em seus próprios nomes oficiais essa expressão.
Há
historiadores que asseguram, e demonstram, que a democracia pura, absoluta e
portanto autêntica jamais existiu, nem tem condições de existir. O filósofo
Sócrates se deixou condenar, em Atenas, à morte por ingestão de cicuta somente
para demonstrar a impossibilidade da existência de um sistema que respeite às
últimas conseqüências as opiniões alheias.
Propositadamente,
fez uma autodefesa provocativa diante de seus juizes, tendente a obter como
resultado sua condenação no célebre julgamento a que foi submetido. Desejava
demonstrar à posteridade que a democracia, que tem como fundamento a livre expressão
de idéias, é utópica. Afinal, seu delito --- o de corromper a juventude
ateniense com princípios diversos dos defendidos pela cidade-Estado --- foi
tipicamente um crime de consciência. E o filósofo conseguiu seu objetivo.
Acabou condenado por aquilo que pensava.
O
sistema democrático que mais se aproxima dos ideais de liberdade e respeito
absoluto pelos direitos humanos é o dos Estados Unidos. Mas seria ele passivo
de transplante? Daria certo em alguma outra parte? O historiador
norte-americano Jacques Barzun acha que não: "A igualdade política pode
ser conseguida por decreto, mas nunca a liberdade, pois trata-se de matéria de
difícil definição, esquiva e fugidia a definições absolutas".
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 2 de abril de
1991).
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