Efeito
Vargas Llosa
Pedro J. Bondaczuk
A campanha para a sucessão do presidente Itamar
Franco, com mais de um ano de antecedência, já se desenvolve nos bastidores,
embora os presidenciáveis óbvios neguem sua postulação. Pelo menos três nomes
são tidos consensualmente como candidatáveis a esta altura: Leonel Brizola, do
PDT, Luís Inácio Lula da Silva – que até realiza um giro pelo País – pelo PT e
Paulo Maluf, pelo PPB (ex-PDS).
O quarto pré-candidato, que pelo menos vinha agindo
como tal, Orestes Quércia, surpreendeu, seus correligionários e seus
adversários, com a renúncia à presidência do PMDB. Seria uma estratégia para,
na hora oportuna, surgir como candidato de consenso do partido? É possível.
Talvez sua atitude seja apenas uma espécie de antídoto contra o chamado “Efeito
Vargas Llosa”.
O mencionado escritor peruano, nas últimas eleições
presidenciais no seu país, lançou sua candidatura à sucessão de Alan Garcia com
mais de um ano de antecedência. Durante muito tempo, todas as pesquisas de
opinião davam-no como imbatível.
Isso repetiu-se até faltarem 90 dias para a votação.
Vargas Llosa até posava como virtual novo presidente peruano, expondo planos,
negociando alianças e escolhendo o ministério. Todavia, na reta final da
campanha, no momento decisivo, foi atropelado por quem sequer era político, mas
um quase desconhecido engenheiro-agrônomo do interior.
Mesmo então, se alguém, no Peru (ou fora dele),
aventasse a possibilidade de o romancista ser derrotado nas urnas, seria
tratado como desinformado ou, no mínimo, como visionário. Todavia, foi o que
aconteceu. Alberto Fujimori conseguiu levar a eleição para o segundo turno,
quando logrou eleger-se o sucessor de Alan Garcia.
O lançamento prematuro da candidatura desgastou a
imagem de Vargas Llosa junto ao eleitorado. Este, evidentemente, não é o único
caso do tipo, mas o mais recente e revelador. Ninguém duvida que a definição da
candidatura do PMDB vá se tornar autêntica “briga de foice”. Vários nomes são
mencionados, aqui e ali, como presidenciáveis, embora todos, obviamente, neguem
que tenham essas pretensões.
Os mais citados são o atual governador de São Paulo,
Luiz Antonio Fleury Filho, e o ministro da Previdência Social, Antônio Britto,
mas outros balões de ensaio são testados junto à opinião pública. É na hora da
definição, no momento em que cada postulante colocar suas cartas na mesa e o
partido correr o risco de mais uma vez se dividir, que Quércia poderá surgir
como nome de consenso.
Não se pode afirmar que a renúncia do ex-governador
paulista tenha ocorrido por este motivo. Mas a especulação não deixa de fazer
sentido, principalmente quando se conhece a habilidade de estrategista que o
político possui. Embora os candidatáveis óbvios e os mais discretos neguem,
portanto, a sucessão de Itamar está deflagrada. Resta conferir, no próximo ano,
se os apressadinhos conseguiram ou não evitar o desgaste da imagem. Ou seja, o
“Efeito Vargas Llosa”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 28 de abril de 1993)
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