Saturday, January 21, 2017

Efeito Vargas Llosa



Pedro J. Bondaczuk 

A campanha para a sucessão do presidente Itamar Franco, com mais de um ano de antecedência, já se desenvolve nos bastidores, embora os presidenciáveis óbvios neguem sua postulação. Pelo menos três nomes são tidos consensualmente como candidatáveis a esta altura: Leonel Brizola, do PDT, Luís Inácio Lula da Silva – que até realiza um giro pelo País – pelo PT e Paulo Maluf, pelo PPB (ex-PDS).

O quarto pré-candidato, que pelo menos vinha agindo como tal, Orestes Quércia, surpreendeu, seus correligionários e seus adversários, com a renúncia à presidência do PMDB. Seria uma estratégia para, na hora oportuna, surgir como candidato de consenso do partido? É possível. Talvez sua atitude seja apenas uma espécie de antídoto contra o chamado “Efeito Vargas Llosa”.

O mencionado escritor peruano, nas últimas eleições presidenciais no seu país, lançou sua candidatura à sucessão de Alan Garcia com mais de um ano de antecedência. Durante muito tempo, todas as pesquisas de opinião davam-no como imbatível.

Isso repetiu-se até faltarem 90 dias para a votação. Vargas Llosa até posava como virtual novo presidente peruano, expondo planos, negociando alianças e escolhendo o ministério. Todavia, na reta final da campanha, no momento decisivo, foi atropelado por quem sequer era político, mas um quase desconhecido engenheiro-agrônomo do interior.

Mesmo então, se alguém, no Peru (ou fora dele), aventasse a possibilidade de o romancista ser derrotado nas urnas, seria tratado como desinformado ou, no mínimo, como visionário. Todavia, foi o que aconteceu. Alberto Fujimori conseguiu levar a eleição para o segundo turno, quando logrou eleger-se o sucessor de Alan Garcia.

O lançamento prematuro da candidatura desgastou a imagem de Vargas Llosa junto ao eleitorado. Este, evidentemente, não é o único caso do tipo, mas o mais recente e revelador. Ninguém duvida que a definição da candidatura do PMDB vá se tornar autêntica “briga de foice”. Vários nomes são mencionados, aqui e ali, como presidenciáveis, embora todos, obviamente, neguem que tenham essas pretensões.

Os mais citados são o atual governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, e o ministro da Previdência Social, Antônio Britto, mas outros balões de ensaio são testados junto à opinião pública. É na hora da definição, no momento em que cada postulante colocar suas cartas na mesa e o partido correr o risco de mais uma vez se dividir, que Quércia poderá surgir como nome de consenso.

Não se pode afirmar que a renúncia do ex-governador paulista tenha ocorrido por este motivo. Mas a especulação não deixa de fazer sentido, principalmente quando se conhece a habilidade de estrategista que o político possui. Embora os candidatáveis óbvios e os mais discretos neguem, portanto, a sucessão de Itamar está deflagrada. Resta conferir, no próximo ano, se os apressadinhos conseguiram ou não evitar o desgaste da imagem. Ou seja, o “Efeito Vargas Llosa”. 

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de abril de 1993)


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