Nebulosa sucessão paulista
Pedro J. Bondaczuk
O
quadro sucessório paulista, faltando somente seis meses para as eleições que
deverão apontar o novo ocupante do Palácio dos Bandeirantes por quatro anos (na
vaga que será deixada pelo governador Franco Montoro), está completamente
indefinido. Há, é verdade, quatro nomes praticamente certos, todos com as
respectivas campanhas nas ruas. Entretanto, pelo menos no atual período, todas
as especulações e noticiários políticos a respeito têm girado em torno do prefeito
paulistano, Jânio Quadros, que está atualmente em Roma. Três candidatos
disputam o seu apoio, mas, imprevisível como ele é, não será surpresa para
ninguém se o ex-presidente lançar a sua própria candidatura.
Isso
pode acontecer de três maneiras. A primeira, implicaria em seu desligamento do
PTB e filiação ao PFL, partido que ainda não definiu nenhum nome, após a saída
da disputa eleitoral do ex-ministro de Relações Exteriores, Olavo Setúbal.
Embora as especulações indiquem uma outra possibilidade, a de Jânio de fato
filiar-se a essa agremiação, mas para apoiar Orestes Quércia, nada impede que
ele mude de idéia e se lance na competição, visando a reviver a escalada que
nas décadas de 50 e 60 o levou à Presidência da República.
A
segunda hipótese, é a de que o prefeito de São Paulo entre em qualquer outro
pequeno partido, que não a Frente Liberal. Nessa circunstância, também poderia
candidatar-se. E finalmente, há uma terceira possibilidade, mais remota mas nem
por isso inviável. É a de Jânio permanecer no PTB e "puxar o tapete"
do empresário Antônio Ermírio de Moraes, desestabilizando a sua candidatura e
passando ele próprio a postular essa posição.
Especular
sobre qual seria a possibilidade maior é muito arriscado, principalmente em se
tratando de um político tão hábil e experiente nessa difícil arte. O mistério
todo a esse respeito, possivelmente, começará a ser desfeito já a parti da
semana que entra, pois hoje o prefeito regressa de seu longo giro e deve
começar a agir de imediato. As notícias dos últimos dias dão conta de que o
deputado José Camargo, do PFL, teria regressado de Roma com autorização para
negociar com o PMDB o apoio de Jânio Quadros ao candidato Orestes Quércia.
Essa
possibilidade, todavia, está encontrando sérias resistências entre vários dos
tradicionais peemedebistas. O senador Fernando Henrique Cardoso, por exemplo,
teria até mesmo ameaçado deixar o partido caso isso se concretizasse. E suas
razões são para lá de compreensíveis. Afinal, as feridas da campanha das
eleições municipais ainda não estão cicatrizadas. Como o leitor se recorda, ela
não foi desenvolvida num nível tão alto quanto seria de se esperar. Insultos,
declarações impensadas e outros expedientes inevitavelmente deixaram as suas
seqüelas.
O
governador Franco Montoro, por seu turno, tem uma posição mais realista. Não
despreza, em absoluto, o apoio do ex-presidente. Não se cansou de dizer, nos
últimos dias: "se ele quiser apoiar nosso candidato, muito bem, que apóie.
Mas tudo vai depender do que vai querer em troca dessa aliança. Isso é coisa
para se discutir".
Mas
não é assim que pensam outros importantes membros do PMDB, alguns deles tão
extremados a ponto de nem quererem sequer cogitar dessa possibilidade. Um deles
parece ser o ex-secretário de Assuntos Metropolitanos, Almino Afonso, que não
acredita que Jânio esteja falando sério em apoiar Quércia.
Ainda
nessa questão das alianças, é bom lembrar que a direção nacional do PFL já
fechou com a candidatura do empresário Antônio Ermírio. Seria, no mínimo,
surrealista que a sua facção paulista divergisse tão intensamente da cúpula
maior do partido e escolhesse um caminho diverso que não este. Mas nunca se
sabe.
A
agremiação, ao nosso ver, cometeu um grave erro ao inviabilizar a postulação de
Olavo Setúbal e agora, a menos que Jânio Quadros volte a surpreender e se lance
de corpo inteiro na disputa, dificilmente a Frente Liberal poderá contar com
candidato próprio, tendo que aceitar a postulação de caudatária. Isso, queira
ou não queira, reduzirá suas possibilidades de formar uma bancada expressiva na
futura Assembléia Nacional Constituinte.
Entretanto,
dois candidatos mais também disputam a aliança com o PFL: o do PTB, que seria o
seu parceiro natural e lógico e o do PDS. O deputado Paulo Maluf levantou essa
hipótese, anteontem, dizendo acreditar piamente nela. Deu a entender que as
duas agremiações estão muito longe de serem incompatíveis, já que seriam
oriundas da "mesma árvore".
Mas
essa possibilidade seria ainda pior para os peefelistas do que a de se
coligarem com o atual prefeito de São Paulo ou mesmo com o PMDB. Além da Frente
Liberal não deixar de ser caudatária, ainda apresentaria uma conotação de
recuo, de arrependimento, de retratação junto ao eleitorado, o que não seria
nada saudável para as suas pretensões.
A
rigor, apesar de quatro campanhas já estarem virtualmente nas ruas, ainda não
há nenhum candidato oficial, pois nenhuma convenção foi realizada para
homologar qualquer dos nomes colocados para a opinião pública. A maior parte
das definições sai ainda no correr deste mês e muitas surpresas podem estar
reservadas. Afinal, o surpreendente Jânio é, atualmente, o "fiel da
balança" das coligações. Por isso, tudo pode acontecer.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 11 de maio de 1986)
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