Wednesday, January 25, 2017

Nebulosa sucessão paulista


Pedro J. Bondaczuk


O quadro sucessório paulista, faltando somente seis meses para as eleições que deverão apontar o novo ocupante do Palácio dos Bandeirantes por quatro anos (na vaga que será deixada pelo governador Franco Montoro), está completamente indefinido. Há, é verdade, quatro nomes praticamente certos, todos com as respectivas campanhas nas ruas. Entretanto, pelo menos no atual período, todas as especulações e noticiários políticos a respeito têm girado em torno do prefeito paulistano, Jânio Quadros, que está atualmente em Roma. Três candidatos disputam o seu apoio, mas, imprevisível como ele é, não será surpresa para ninguém se o ex-presidente lançar a sua própria candidatura.

Isso pode acontecer de três maneiras. A primeira, implicaria em seu desligamento do PTB e filiação ao PFL, partido que ainda não definiu nenhum nome, após a saída da disputa eleitoral do ex-ministro de Relações Exteriores, Olavo Setúbal. Embora as especulações indiquem uma outra possibilidade, a de Jânio de fato filiar-se a essa agremiação, mas para apoiar Orestes Quércia, nada impede que ele mude de idéia e se lance na competição, visando a reviver a escalada que nas décadas de 50 e 60 o levou à Presidência da República.

A segunda hipótese, é a de que o prefeito de São Paulo entre em qualquer outro pequeno partido, que não a Frente Liberal. Nessa circunstância, também poderia candidatar-se. E finalmente, há uma terceira possibilidade, mais remota mas nem por isso inviável. É a de Jânio permanecer no PTB e "puxar o tapete" do empresário Antônio Ermírio de Moraes, desestabilizando a sua candidatura e passando ele próprio a postular essa posição.

Especular sobre qual seria a possibilidade maior é muito arriscado, principalmente em se tratando de um político tão hábil e experiente nessa difícil arte. O mistério todo a esse respeito, possivelmente, começará a ser desfeito já a parti da semana que entra, pois hoje o prefeito regressa de seu longo giro e deve começar a agir de imediato. As notícias dos últimos dias dão conta de que o deputado José Camargo, do PFL, teria regressado de Roma com autorização para negociar com o PMDB o apoio de Jânio Quadros ao candidato Orestes Quércia.

Essa possibilidade, todavia, está encontrando sérias resistências entre vários dos tradicionais peemedebistas. O senador Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, teria até mesmo ameaçado deixar o partido caso isso se concretizasse. E suas razões são para lá de compreensíveis. Afinal, as feridas da campanha das eleições municipais ainda não estão cicatrizadas. Como o leitor se recorda, ela não foi desenvolvida num nível tão alto quanto seria de se esperar. Insultos, declarações impensadas e outros expedientes inevitavelmente deixaram as suas seqüelas.

O governador Franco Montoro, por seu turno, tem uma posição mais realista. Não despreza, em absoluto, o apoio do ex-presidente. Não se cansou de dizer, nos últimos dias: "se ele quiser apoiar nosso candidato, muito bem, que apóie. Mas tudo vai depender do que vai querer em troca dessa aliança. Isso é coisa para se discutir".

Mas não é assim que pensam outros importantes membros do PMDB, alguns deles tão extremados a ponto de nem quererem sequer cogitar dessa possibilidade. Um deles parece ser o ex-secretário de Assuntos Metropolitanos, Almino Afonso, que não acredita que Jânio esteja falando sério em apoiar Quércia.

Ainda nessa questão das alianças, é bom lembrar que a direção nacional do PFL já fechou com a candidatura do empresário Antônio Ermírio. Seria, no mínimo, surrealista que a sua facção paulista divergisse tão intensamente da cúpula maior do partido e escolhesse um caminho diverso que não este. Mas nunca se sabe.

A agremiação, ao nosso ver, cometeu um grave erro ao inviabilizar a postulação de Olavo Setúbal e agora, a menos que Jânio Quadros volte a surpreender e se lance de corpo inteiro na disputa, dificilmente a Frente Liberal poderá contar com candidato próprio, tendo que aceitar a postulação de caudatária. Isso, queira ou não queira, reduzirá suas possibilidades de formar uma bancada expressiva na futura Assembléia Nacional Constituinte.

Entretanto, dois candidatos mais também disputam a aliança com o PFL: o do PTB, que seria o seu parceiro natural e lógico e o do PDS. O deputado Paulo Maluf levantou essa hipótese, anteontem, dizendo acreditar piamente nela. Deu a entender que as duas agremiações estão muito longe de serem incompatíveis, já que seriam oriundas da "mesma árvore".

Mas essa possibilidade seria ainda pior para os peefelistas do que a de se coligarem com o atual prefeito de São Paulo ou mesmo com o PMDB. Além da Frente Liberal não deixar de ser caudatária, ainda apresentaria uma conotação de recuo, de arrependimento, de retratação junto ao eleitorado, o que não seria nada saudável para as suas pretensões.

A rigor, apesar de quatro campanhas já estarem virtualmente nas ruas, ainda não há nenhum candidato oficial, pois nenhuma convenção foi realizada para homologar qualquer dos nomes colocados para a opinião pública. A maior parte das definições sai ainda no correr deste mês e muitas surpresas podem estar reservadas. Afinal, o surpreendente Jânio é, atualmente, o "fiel da balança" das coligações. Por isso, tudo pode acontecer.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 11 de maio de 1986)


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