O
lucro e a espoliação
Pedro J. Bondaczuk
O liberalismo econômico, tão defendido nos anos
anteriores, em artigos, entrevistas e outros tipos de pronunciamento, é
fartamente apregoado no Brasil, mas poucos estão dispostos a seguir aquilo que
pregam. A maioria age na base do “faça o que eu falo, mas não o que faço”.
A Secretaria Nacional de Direito Econômico acusou,
anteontem, cinco empresas e dois sindicatos por delitos contra a economia
popular. Quatro dos acusados são laboratórios farmacêuticos, que chegaram a
aumentar os seus produtos em até 624% num único mês.
Parece erro gráfico, mas a taxa foi essa mesmo. Já
os sindicatos, cujos dirigentes, com certeza, engrossaram as vozes no passado
contra tabelamentos, na verdade estão ditando tabelas a seus filiados – as
suas, leoninamente majoradas, é claro – numa prática cristalinamente
caracterizada como de formação de cartel.
Quando no mundo todo se defende o afastamento do
Estado do controle da economia, quando na União Soviética o Parlamento desse
país discute três planos, todos eles tendentes à implantação de um sistema de
livre mercado, empresários ocidentais, que se dizem capitalistas, atentam dessa
forma contra a liberdade de comércio!
Nem mesmo no início do corrente ano, quando tudo
empurrava o Brasil no caminho de uma hiperinflação, aumentos de quaisquer
produtos, em taxas de 624%, seriam justificados. A atitude, se não for fruto de
ganância desmedida, é conseqüência de uma incompetência a toda a prova. Até
para delinqüir uma pessoa ou grupo precisam ser competentes.
A tão é tão absurda, tão abusiva, tão sem sentido,
que sequer requer qualquer espécie de análise. Quanto aos cartelistas, que se
coloque em prática, contra eles, a nova lei que aborda esse delito. Claro que a maior punição para
quem não tem o mínimo respeito pelo público seria o boicote aos produtos dos
infratores. Mas, para isso, é necessário que haja concorrência, limpa, honesta,
sem fraudes; mas tenaz, absoluta, total.
Depois que o governo decidir abrir o mercado a
concorrentes do exterior, não venham estes, que abusam da nossa paciência, das
nossas minguadas economias e das nossas necessidades com as já tão conhecidas
choradeiras, hipocritamente nacionalistas, argumentando que se está sufocando a
indústria nacional, que o País está sendo entregue às potências econômicas e
argumentações semelhantes, que de tanto serem usadas, caíram não apenas no
descrédito, mas até no ridículo.
O lucro sempre foi a mola-mestra da atividade
econômica. Mas que ele nunca seja confundido com a espoliação, que sequer é uma
prática comercial, mas descamba para o terreno do delito, do crime, da falsa
esperteza que, desgraçadamente, fez escola entre nós ao longo dos anos.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 29 de setembro de 1990)
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